Festival Theia regressa à Malaposta, reafirmando o poder da liderança feminina

Estreado com êxito em 2022, o Festival Theia está de volta com um programa liderado por mulheres e centrado na música por elas produzida. Começa nesta sexta-feira, na Malaposta.

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Fuensanta & Ensemble Grande, o nome internacional no cartaz deste ano TERESA COSTA
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A primeira edição realizou-se em Abril de 2022, a celebrar o Dia Internacional do Jazz, e a segunda chega neste fim-de-semana. Durante três dias, tal como ano passado, concertos e conferências darão corpo à ideia central do Festival Theia: celebrar a criação artística de mulheres no âmbito do jazz e da música contemporânea.

Rita Maria, cantora e compositora, curadora do festival, recorda ao PÚBLICO a primeira edição: “Era uma experiência embrionária e correu bastante bem. Faço a curadoria, mas na verdade o que fiz foi desenhar o festival. Tinha imensas ambições, não consegui concretizá-las todas, mas foi muito enriquecedor e fiquei muito satisfeita com o impacto que teve, ainda hoje ouço ecos dessa primeira edição.”

Ao longo de três dias, de sexta a domingo, o festival propõe cinco concertos e três conferências, estas com moderação da cantora e investigadora Beatriz Nunes, que Rita Maria apresenta como uma parceira de igual peso dentro do espaço do festival”: Mulheres e crítica musical (sexta-feira, 18h), Mulheres e o ensino da música (sábado, 18h) e Novas publicações sobre música e género (domingo, 16h30). “Desde a génese do festival que há um interesse multidisciplinar de alargar a consciência acerca dos porquês de um festival de liderança feminina”, explica Rita Maria. “E as conferências acabam por ser essa ponte com a reflexão literária, académica, para pensar temas da actualidade cada vez mais prementes nesta questão do género no jazz e da música contemporânea e que são determinantes para mudar paradigmas da programação dos festivais e da vida artística.”

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Rita Maria e Beatriz Nunes ALICE BRACCHI/RITA CARMO

Os concertos, todos eles no Auditório da Malaposta, começam na sexta-feira com Inês Malheiro (20h) e com o quarteto Sepia (21h30), composto por Débora King (piano), Marta Rodrigues (voz), João Hasselberg (contrabaixo) e Samuel Dias (bateria). Mais tarde, mas no café-teatro (22h45), haverá jam session com Inês Proença (piano), Eunice Barbosa (saxofone), Juliana Mendonça (contrabaixo) e Maria Carvalho (bateria).

O dia de sábado abrirá com uma estreia absoluta, a do Ensemble Theia (20h), no âmbito do qual cinco compositoras (Catarina Sá Ribeiro, Mateja Dolsak, Mariana Dionísio, Andreia Santos e Giulia Battig) criaram originais para um ensemble de nove intérpretes: Raquel Reis (violoncelo), Catarina Rodrigues (piano), Mateja Dolsak (saxofone), Andreia Santos (trombone) Mariana Trindade (trompete e fliscorne), Nazaré Silva, Rita Maria, Sofia Sá e Joana Raquel (vozes).

Este ensemble, diz Rita, “surge como mais uma das dimensões do festival que já estava desenhada mas ainda não tinha sido possível concretizar”. Um momento, afirma, “em que se comissionam peças a compositoras, criando repertório e tornando este festival numa plataforma criativa". Resultado de uma residência artística iniciada na terça-feira, o Ensemble Theia dará "vida a peças criadas especificamente para a edição deste ano”.

Ainda na mesma noite, actuará o quarteto Mova Dreva (21h30), dirigido por Katerina L’Dokova (composição, piano e voz), com Bernardo Tinoco (trompete, flauta e electrónica), João Fragoso (contrabaixo) e Samuel Dias (bateria).

Unir várias artes

No domingo, às 18h, será a vez de o Theia receber o concerto de Fuensanta & Ensamble Grande. “É a nossa artista internacional deste ano”, explica Rita Maria. “Outra das ambições do festival é estendermos os braços a estas colaborações e, no futuro, ter este festival na rota dos festivais de liderança feminina.”

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Inês Malheiro (que abre o festival) e Fuensanta Méndez BEATRIZ BLASI/DR

Nascida em Veracruz, no México, e radicada em Amesterdão, Fuensanta Méndez dará também, no sábado, uma masterclass sobre A composição no jazz contemporâneo, no café-teatro. E foi Rita Maria que a convidou para esse efeito: “A Fuensanta é uma artista inspiradora, é multi-instrumentista, compositora, poeta, bailarina, tem uma série de valências, e eu sinto-me particularmente atraída pela forma como ela une todas estas artes. Ao mesmo tempo, é uma inspiração como modelo feminino de liderança e de composição. Queria não só tê-la no palco como a falar sobre o seu processo criativo, numa masterclass aberta ao público em geral, não só para músicos.”

No Festival Theia, o acesso às conferências é livre, mediante o levantamento dos bilhetes. Já os concertos custam 12 euros (15, no caso do de Fuensanta), para o público em geral, ou seis (todos eles), para as escolas de música. O passe de um dia (válido para sexta ou sábado) tem o preço de 20 euros, enquanto a assinatura para todos os concertos (cobrindo os três dias) vale 55. A masterclass de Fuensanta Méndez tem um preço único de 25 euros.

Rita Maria está optimista: “Já há muito mais gente a par da iniciativa desta vez, e o facto de ter havido uma primeira edição traz pessoas com um interesse acrescido. Tenho a certeza de que este ano a afluência será muito superior. E isso dá-me muita felicidade.”

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