IA será a próxima grande transformação e está ao alcance de todos
Ferramenta serve de apoio a tarefas repetitivas, mas comando deverá sempre ser humano e nunca substituirá a “beleza, sorte, stress, lágrimas ou a alegria de um processo criativo”.
Pode replicar o pensamento humano e até ser treinada para aprender a partir da informação a que tem acesso. No entanto, a inteligência artificial (IA) generativa deverá continuar a ser controlada por humanos, que devem assegurar que esta é uma ferramenta de apoio, com acesso a dados provenientes de fontes seguras, capaz de ‘agir’ de forma ética, e cuja utilização seja devidamente regulamentada para evitar más utilizações.
Satisfeitos estes requisitos, a IA está aí para suportar a próxima grande transformação tecnológica e, acima de tudo, ao alcance de todos. O desafio está, contudo, no caminho que empresas, governos e sociedade trilhem a partir de agora. “Ninguém tem uma solução mágica que diz que a IA vai ter este ou aquele caminho, há mudanças diárias, e muita aprendizagem”, garante Pedro Caria, Senior Sales Director da Noesis, à margem do Lisbon Data & AI Forum, que decorreu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
Esta foi a sétima edição do evento anual promovido pela Noesis, à qual o Público se associou como media partner, e “a maior de sempre”, como revela aquele responsável. O número recorde de inscritos demonstra, na sua opinião, “a dinâmica do mercado nacional e a vontade que o sector empresarial demonstra em saber mais sobre os temas relacionados com os dados e a IA”. “Excedeu as nossas expectativas”, acrescenta Alexandre Rosa. O CEO da Noesis destaca “o conteúdo rico nas palestras e apresentações demonstrativos da relevância crescente do Lisbon Data & AI Forum, no mercado português”.
Uma necessidade imediata
Longe de ser ficção científica ou um tema de futuro, a inteligência artificial representa um desafio de curto prazo para as organizações. Uma conclusão que ficou bem patente nas intervenções e debates que ocuparam o dia de trabalho no Lisbon AI & Data Forum. “Encontramo-nos num ponto crucial para as organizações, que querem ser capazes de tirar partido do seu potencial”, garante Alexandre Rosa. Ficou claro nas várias discussões e painéis do evento, defende o CEO, que a adoção da IA é uma necessidade imediata. “O curto prazo é essencial, e as empresas devem agir rapidamente para inovar e sobreviver”, salienta.
A consciencialização da importância da IA está a crescer, mas na realidade muitas empresas ainda não estão preparadas para adotar esta tecnologia de forma eficaz. Esta é outras das conclusões que pode retirar-se desta conferência, e uma opinião partilhada por muitos dos especialistas presentes. “É crucial educar e apoiar as empresas no processo de integração da IA nas suas atividades porque esta ferramenta não é apenas uma opção, é uma necessidade para prosperar no ambiente empresarial atual”, reforça Alexandre Rosa.
Apesar de muitos gestores já reconhecerem algumas das oportunidades oferecidas pela IA, tais como a melhoria da eficiência, criação de produtos inovadores ou capacidade de disponibilizar novas experiências aos clientes, a definição de uma estratégia transversal a toda a organização continua a ser uma dificuldade para grande parte das empresas. Com o objectivo de descomplicar, João Martins liderou um dos workshops que decorreram em paralelo com as sessões do Data & AI Forum. “Quisemos explicar às pessoas que isto não é uma bala de prata e que não vai resolver todos os problemas”, revela ao Público.
O Data Analytics & AI Manager na Noesis salienta que existem mais problemas de mentalidade e estruturais dentro das organizações, nomeadamente, a falta de liderança para um projecto que tem que ser transversal à empresa, e manter uma colaboração estreita entre as áreas de TI e de negócio. É igualmente fundamental, como aconselha o especialista da Noesis, que exista alguém responsável pelas iniciativas de Generative AI porque “a ideia pode ser muito boa, mas se não houver um responsável evidente, e a organização não estiver preparada, o projecto não será bem-sucedido”. Outro factor importante, acrescenta João Martins, é a colaboração, não apenas entre departamentos na empresa, mas de todo o ecossistema que inclui parceiros, fornecedores e clientes.
Um dos exemplos desta colaboração, reforça Pedro Caria, é o Dave, um assistente digital que utiliza a IA generativa, apresentado pela Noesis neste fórum. A ideia surgiu em conjunto com alguns clientes e parceiros da tecnológica, com o objetivo de “servir uma amplitude de clientes e, de uma forma mais transversal, múltiplas indústrias e negócios”, explica o Senior Sales Manager.
Segurança dos dados é base para sucesso da IA
Garantir a veracidade, qualidade, e segurança dos dados é um dos desafios com que as organizações se debatem, não só para, a partir destas fontes, conseguirem gerar mais receitas e tirar partido da informação que permitem extrair, mas também para treinar modelos de linguagem natural e para incorporar ferramentas de IA nos seus negócios. “Os dados são os activos mais importantes que qualquer empresa tem para tomar decisões ou para criar produtos mais adequados às necessidades dos clientes”, lembra Marisa Martins, Head of Data & BI na Unicre, que participou numa das mesas redondas do evento. E o seu valor acrescentado está “na capacidade que temos de cruzá-los e juntá-los”, complementa Abel Aguiar, Executive Director & Board Member na Microsoft Portugal, um dos keynote speakers presente.
É por isso que “é preciso assegurar a transparência na utilização dos dados”, aponta Luís Barreto Xavier. O presidente do Instituto de Conhecimento - Abreu Advogados, que participou noutra mesa-redonda, destaca a importância do AI ACT, em aprovação na Comissão Europeia, que regulará o acesso aos dados, exigindo autorizações e transparência na sua utilização. No entanto, alerta para a necessidade de garantir o equilíbrio entre regulação e inovação, para que a primeira não trave o desenvolvimento destas tecnologias.
Por outro lado, as restrições, e a regulação que está a ser preparada, terão impacto no treino dos modelos de linguagem natural. Ricardo Ramos, Global Market Intelligence na Qlik lembra que, desta forma, “não será possível treinar novos modelos de linguagem com acesso a toda a informação que está na internet, à semelhança do que foi feito com o ChatGPT”.
Isto implica, na opinião de Fernando Ilharco, professor na Universidade Católica Portuguesa, que a sociedade tem pela frente “um grande desafio de estruturação em relação ao tema dos dados, que exige também uma maior qualificação das pessoas”. Uma opinião partilhada por Fernando Bação, que recorda que as pessoas continuam a estar no princípio e no fim da cadeia de valor destas tecnologias. Contudo, o professor na Nova IMS Information Management School acredita que, sem as devidas cautelas, o digital pode “conduzir a maiores desigualdades”. No fundo, conclui Susana Pereira Barbosa, Head of Information and Technology na CMVM, “é preciso fazer um diagnóstico do que esta transformação vai trazer, envolver as pessoas, e fazer o upskilling necessário”.