Apesar das considerações emocionais que o abate de pintainhos machos pode gerar, é fundamental ter consciência dos diversos pontos de vista envolvidos. A indústria vê esta prática como a mais sustentável, permitindo o uso dos restos mortais (economia circular).
A eliminação dessa fonte exigiria a procura por alternativas, como a criação de ratos. Os consumidores estão mais inclinados a escolher alimentos produzidos com respeito ao bem-estar animal. Questionários na Alemanha e Holanda indicam que a maioria dos cidadãos se opõe a essa prática.
Finalmente, os próprios pintainhos machos nascem apenas para serem eliminados. Embora os métodos de abate visem minimizar o sofrimento, o próprio abate numa fase tão precoce não respeita uma das "cinco liberdades" dos animais: a liberdade de expressar comportamentos naturais.
Essa liberdade implica que todos os animais devem ser capazes de viver, chegar à idade adulta e manifestar comportamentos naturais e característicos. Essa liberdade não é respeitada nesse contexto, o que levou vários governos europeus a considerar novas leis.
O governo pioneiro foi o alemão, que determinou a abolição do abate de pintainhos machos com mais de 13 dias de incubação a partir de 1 de Janeiro de 2022. Outros se seguiram, com a Áustria a abolir a prática a partir de 2022, a França a partir de 2023 e a Itália a partir de 2027.
Deixando aos agricultores duas alternativas: criar os machos ou determinar o sexo dos embriões durante a incubação. A segunda opção é a preferida dos agricultores e consumidores.
A União Europeia prometeu discutir esse assunto, embora nenhum tema sobre bem-estar animal tenha sido mencionado no discurso da presidente Von der Leyen aos membros da União Europeia em 13 de Setembro de 2023. Por enquanto, aguardamos também sinais de mudança nos governos da América, África e Ásia.
Para além da legislação, é importante analisar o aspecto técnico subjacente a esta questão. Um estudo recente realizado pela Universidade de Munique, com financiamento do governo alemão, revelou que os embriões sentem dor após o 13º dia de incubação.
Consequentemente, a maioria dos governos estabelece que a determinação do sexo ocorra antes dessa fase. Um artigo de revisão do grupo de investigação na KU Leuven, Bélgica, apresenta e avalia as opções disponíveis.
Neste momento, mundialmente, várias equipas de investigação e empresas estão envolvidas no desenvolvimento destas técnicas, avaliadas com base em seis critérios: 1) serem aplicadas a todos os tipos de ovos, 2) precisão superior a 98,5% na determinação do sexo de pintainhos, 3) capacidade de identificar o sexo antes do 13º dia de incubação, 4) processamento rápido, 5) ausência de impacto no desenvolvimento dos embriões e 6) custo mínimo para os produtos finais. O cumprimento desses critérios representa um desafio para empresas e grupos de investigação.
Na Europa, actualmente, existem cinco empresas que oferecem essas técnicas: PLANTegg GmbH [10], Seleggt GmbH [11], In Ovo BV [12], Orbem GmbH [13] e AAT GmbH [14]. Todas alemãs com excepção da holandesa In Ovo.
Estas empresas estão já consolidadas no mercado e são utilizadas em 16 locais: Alemanha, Holanda, Bélgica, FranCa, Itália, Espanha e Noruega. No entanto, enfrentam desafios diversos, como os custos, restrições de aplicação e o dia da determinação do sexo.
Por fim, em grandes redes de supermercados na Alemanha e na Holanda, actualmente está em vigor uma proibição de venda de produtos derivados de ovos de pintainhos machos abatidos. Os consumidores podem identificar esses produtos por meio do rótulo Respeggt.
Existem também abordagens inovadoras como a da empresa eggXYt, Ltd., em Israel, que utiliza a tecnologia CRISPR/Cas9 para introduzir um gene letal nos pintainhos machos, interrompendo o seu desenvolvimento.
Estas práticas são consideradas modificação genética e proibidas por lei na Europa. Devido à superpopulação e à necessidade de aumentar a produção e segurança dos alimentos, a União Europeia e grupos de investigação estão a fazer pressão para a revisão dessa legislação.
Antes de julgar essa prática na indústria, é fundamental compreender as suas raízes e os desafios científicos relacionados à determinação do sexo dos embriões. É também necessário considerar as razões éticas por de trás do abate dos pintainhos machos.
As actuais leis foram implementadas sem o consentimento dos agricultores e, muitas vezes, sem o conhecimento científico necessário para uma transição adequada. Será necessário tempo para desenvolver uma tecnologia que atenda a todos os critérios. Embora existam opções no mercado, ainda exigem desenvolvimentos e maturação adicionais.
No entanto, diversos grupos de pesquisa e empresas estão a investir recursos significativos na procura de soluções sustentáveis para salvar os bilhões de pintainhos eliminados anualmente em todo o mundo. Para alcançar esta solução, é essencial que consumidores, governos, agricultores e investigadores contribuam para essa discussão.