Portugal quer continuar “a divertir-se” no Mundial
A selecção portuguesa disputa esta tarde, em Saint-Étienne, o seu terceiro jogo no Campeonato do Mundo de ràguebi, defrontando uma Austrália que está perto do KO.
Matematicamente, quando Portugal entrar esta tarde (16h45, RTP2) no Stade Geoffroy-Guichard para defrontar a Austrália, terá pela frente um cenário que, antes do arranque do Campeonato do Mundo de râguebi, mesmo os portugueses mais optimistas não ousavam colocar ao terceiro jogo na competição: que a equipa de Patrice Lagisquet dependesse apenas de si para garantir um lugar nos quartos-de-final da prova. Porém, oficialmente, essa é uma possibilidade que ninguém na comitiva portuguesa quer sequer colocar. Contra uma Austrália que está muito perto do KO – os “wallabies” precisam de um milagre para evitarem pela primeira vez o afastamento na fase de grupos -, os “lobos” querem apenas continuar “a divertir-se” dentro do campo.
As contas são simples de fazer: apenas uma vitória – para os australianos terá de ser com quatro ou mais ensaios marcados – permite que, no final da partida em Saint-Étienne, Portugal ou Austrália mantenham até 8 de Outubro, quando as contas do Grupo C ficaram fechadas em Toulouse com um duelo entre portugueses e fijianos, a esperança de chegarem aos quartos-de-final. Mas esse, garante Luís Pissarra, é um problema apenas dos australianos.
As palavras do técnico-adjunto de Patrice Lagisquet foram proferidas ontem, no Stade Geoffroy-Guichard, ainda antes de se saber que Fiji tinha derrotado a Geórgia (17-12) sem conseguir o ponto de bónus. O que é que isso significa? Que para a Austrália a luz ao fundo do túnel é quase imperceptível, mas ainda é visível: para ficar no segundo lugar do Grupo C, a equipa de Eddie Jones terá de derrotar Portugal conquistando o ponto de bónus ofensivo (mais de quatro ensaios marcados) e depois esperar uma semana por uma enorme ajuda portuguesa: Fiji não pode somar qualquer ponto no último jogo contra os “lobos”.
Assim, sacudindo a pressão para o outro lado, Pissarra foi claro: “Não temos qualquer obrigação de vencer”. O técnico português lembrou que “há três semanas todos imaginavam as dezenas de pontos que haveria entre as duas selecções” no fim do jogo em Saint-Étienne, mas também reconheceu que “no início do torneio” Portugal “talvez pensasse” que o panorama antes “deste jogo seria diferente”.
Passando a mensagem mais repetida por jogadores e técnicos portugueses no Mundial – “Temos de ser competitivos” -, Luís Pissarra previu uma Austrália ferida no orgulho e dominadora no arranque da partida: “Teremos de ser muito fortes para segurá-los e respirar no jogo. Tenho a certeza de que a Austrália vai começar forte. Precisamos de uma exibição perfeita para termos a perspectiva de vencer, o que seria incrível. Não podemos cometer erros."
Tudo isto, mantendo a qualidade de jogo – tão elogiada internacionalmente – e o prazer de jogar. "Estamos confiantes na forma como jogamos, na forma como defendemos. Os jogadores estão felizes em campo e estão a divertir-se. Foi uma boa semana. Treinamos bem.”
Se do lado de Portugal os dois primeiros jogos elevaram a moral dos “lobos”, do lado dos “wallabies” a confiança dificilmente podia estar em níveis mais baixos. Com uma selecção extremamente jovem – têm a média de idades mais baixa do Mundial -, à Austrália eram dadas, antes do arranque do torneio, 90.1% de probabilidades de apurar-se para os quartos-de-final. Porém, depois de os australianos sofrerem há uma semana a pesada derrota de 6-40 contra o País de Gales, o francês Pierre-Henry Broncan, adjunto de Eddie Jones, colocou o dedo na ferida: "A nossa equipa não está preparada [para lidar com a pressão].”
Por isso, na antevisão do duelo com Portugal, o seleccionador australiano baixou a expectativa. “Tudo o que podemos fazer é tentar melhorar a cada dia. Essa é a única coisa que podemos fazer. Temos uma equipa jovem. Escolhi propositalmente uma equipa jovem”, afirmou Eddie Jones.
O antigo seleccionador do Japão e da Inglaterra, que dificilmente continuará no comando dos “wallabies” após o Mundial, fugiu a todas as perguntas sobre o seu futuro, procurando sempre direccionar a mira para os “lobos”: "Apenas estou preocupado com o jogo contra Portugal. Se quiserem [os jornalistas] perguntar sobre mais alguma coisa, não perguntem. Só estou preocupado com o jogo com os portugueses.”
E no jogo com os portugueses, que Eddie Jones espera ser “de trabalho”, James Slipper fará o seu 21.º encontro na competição e o 134.º com a camisola australiana. O experiente primeira linha será a garantia de experiência num XV onde a novidade será a titularidade da dupla de centros dos Waratahs: Izaia Perese and Lalakai Foketi.