Cartas ao director
Raspadinhas
Numa altura em que andam todos aflitos com os malefícios da “raspadinha”, lembro-me de já ter enviado em Julho de 2011 à imprensa uma carta sobre os perigos do jogo, nomeadamente deste flagelo. Infelizmente, com a excepção de um jornal gratuito existente na época, tal carta não mereceu a atenção das outras redacções. Os resultados estão à vista de todos. Tabacarias e quiosques onde outrora os escaparates estavam repletos de livros, jornais e revistas, hoje, no seu lugar, só vemos paredes forradas de “raspadinhas” e de maços de cigarros vulgares, de tabaco aquecido e electrónico. Resumindo, a informação e cultura deu lugar a dois perigosos vícios. O do jogo e o do tabagismo. Um estudo do CES/UM concluiu que a “raspadinha” é consumida pelos mais pobres e idosos, que, por se tratar de uma lotaria instantânea, não têm que esperar pelo dia do sorteio. A esperança destes viciados é que naquele dia possam ir a um restaurante comer algum manjar que nunca provaram ou poder aviar a receita médica na farmácia. A Santa Casa, que viu nisto mais uma receita para poder ajudar os mais necessitados, não viu que estamos perante o fenómeno do boomerang, cujo objecto, depois de arremessado, volta à mão de quem o atirou. Ora o viciado na “raspadinha” também lá voltará para pedir mais e mais auxílio. Só que, por aquilo que se sabe, a Santa Casa pelos vistos também “raspou” errado e está numa situação inédita de ter que cortar nos gastos, nomeadamente em apoios de solidariedade social.
Jorge Morais, Porto
E se vier a precisar?
Há muito tempo que o PSD tenta esconder a sua posição quanto a um hipotético entendimento com o Chega, que lhe permitiria governar mesmo com um mau resultado eleitoral. Esta ambiguidade já foi muito útil ao PS nas últimas legislativas, mas agora Montenegro começa a tornar mais clara a situação, quando na Madeira afirmou: “Nós não vamos governar nem a Madeira nem o país com o apoio do Chega, porque não precisamos.”
Assim começamos a perceber melhor Montenegro: não é por o Chega ser um partido unipessoal cheio de ilegalidades desde que nasceu com assinaturas falsas, para depois continuar com assembleias ilegais; nem porque o Chega tenta constantemente explorar o racismo; nem porque o Chega é um partido de gritaria que navega à vista sem qualquer programa, sempre procurando descredibilizar todo o sistema, simplesmente porque a democracia é apenas um contratempo que tem de suportar.
Montenegro, afinal, não admite entendimentos com o Chega, não porque se preocupe com a falta de princípios democráticos da extrema-direita, mas essencialmente porque neste momento acha que não precisa do Chega. E se vier a precisar?
José Cavalheiro, Matosinhos
A CIP, a CGTP e o PSD/Madeira
Está, porventura, na moda fazer de uns muitos... papalvos? É que numa semana foram dois os episódios que dão conta desta eventual tendência, e a nível elevado, dos comportamentos, que (não) se esperaria de algumas elites da nossa praça. Armindo Monteiro, da CIP, e Miguel Albuquerque, do PSD/Madeira, afinaram pelo mesmo diapasão e vá de nos tratarem a todos como destituídos úteis.
O presidente da CIP, que não se disponibiliza para negociar aumentos de salários e bloqueia a contratação colectiva nas empresas do organismo que lidera, presenteou os acéfalos de serviço com o clamor da sua proposta de um 15.º mês de salário – mais papista que o papa ou que Isabel Camarinha; com amigos como a CIP, quem precisa da CGTP?
Miguel Albuquerque, do PSD-Madeira e seu líder, atirou-nos com um vaso de flores ao invés das flores prometidas em campanha: “Se não ganhar com maioria absoluta, demito-me!” – mas caiu com estrondo de cima da sua exibida falta de palavra.
Resultado: estavam as criaturas sonhando de noite, em suas camas – que é quando menos se sonha? Assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal.
Maria da Conceição Morais Mendes, V. N. Gaia
Quando a esmola é grande
“Quando a esmola é grande até o pobre desconfia.” Este aforismo cai bem no que concerne ao que o patronato está a oferecer aos seus “colaboradores”, indo muito para lá do que os mais “aguerridos” sindicatos têm reclamado. Oferecer o 15.º ordenado/vencimento parece-nos muito bem, mas não será para desconfiar? Qual será a contrapartida? E porque não o aumento imediato do salário mínimo nacional, mesmo sem o hipotético 15.º mês? Os mais carenciados precisam desse aumento como pão para a boca.
José Amaral, V. N. Gaia