Dia Mundial da Retina

Assinala-se neste último domingo de Setembro, o Dia Mundial da Retina; uma efeméride que destaca o papel da retina na nossa saúde oftalmológica.

Foto
Ouça este artigo
00:00
05:47

Dia 24 de Setembro é a data em que, este ano, se assinala o Dia Mundial da Retina; uma efeméride que destaca o papel da retina na nossa saúde oftalmológica já que, a nível mundial, as doenças da retina provocam cegueira a mais de 100 milhões de pessoas.

A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) e o Grupo de Estudos da Retina de Portugal (GER) aproveitam a efeméride para alertar para duas doenças da retina que, se não forem diagnosticadas e tratadas atempadamente, podem levar à perda grave de visão ou até mesmo à cegueira. Falamos da Retinopatia Diabética e da Degenerescência Macular da Idade (DMI).

DMI: a principal causa de cegueira nos países desenvolvidos e a principal causa de perda grave de visão depois dos 50 anos de idade

Na DMI existe uma lesão da mácula, uma pequena área no fundo do olho que permite ver pormenores. Quando a mácula não funciona de maneira correcta, o paciente não pode, por exemplo, ler, conduzir ou identificar correctamente uma face. Embora a degenerescência macular da idade reduza a visão na parte central da retina, não prejudica a visão lateral, ou periférica do olho. O paciente pode ver o contorno de um relógio, mas não consegue ver a hora.

A DMI, por si só, não resulta em cegueira total, pois as pessoas continuam a ter visão periférica e a serem capazes de cuidar de si e de se movimentarem em ambientes conhecidos. A DMI pode ser quase imperceptível para o paciente durante muitos anos ou pode mesmo nem originar sintomas. A forma exsudativa é muito mais agressiva e sintomática. O paciente pode notar as imagens distorcidas e perder a visão de leitura num dos olhos em poucos dias. Quando ambos os olhos estão afectados, a perda de visão central pode ser presenciada mais rapidamente. O paciente pode detectar perda de visão já que, no centro da visão aparece uma área escura ou vazia ou as linhas rectas parecem distorcidas.

Apesar da pesquisa médica em curso, ainda não há nenhuma cura para a degenerescência macular seca na sua forma intermédia. Decorrem, no entanto, vários estudos para encontrar um tratamento eficaz. Os suplementos vitamínicos podem retardar a progressão das formas intermediárias da doença para a forma avançada exsudativa.

A forma exsudativa ou húmida da DMI pode ser tratada, com injecções intravítreas de anti-angiogénicos. Com estes tratamentos é possível conservar ou melhorar a visão com que se inicia o tratamento, em mais de 70% dos casos. É por isso importante iniciar o tratamento o mais precocemente possível.

Retinopatia Diabética: primeira causa de cegueira na população portuguesa entre os 20 e os 70 anos

A retinopatia diabética é um problema ocular que afecta os doentes com diabetes, e que pode levar a perdas de visão ou mesmo cegueira. É mais comum em doentes que não controlam os seus níveis de açúcar no sangue (glicemia). Esta doença é provocada por alterações nos vasos sanguíneos da retina. Os vasos alterados deixam sair líquido e sangue para a retina, levando à diminuição da visão. Em alguns casos, desenvolvem-se ainda vasos anormais na retina, os quais são muito frágeis e sangram facilmente causando lesão e perdas de visão.

A maioria dos doentes com retinopatia diabética não sente nenhuma alteração até a doença já estar muito avançada, sendo muitas vezes tarde demais para recuperar a visão perdida. A doença evolui de forma silenciosa e o doente não se apercebe do risco que corre. Por esta razão é muito importante fazer o rastreio para esta doença permitindo, deste modo, que o médico tome as medidas necessárias para evitar que a doença avance e que a sua visão seja afectada.

Quanto aos sintomas, podem passar por maior dificuldade a ler ou a conduzir, e pode começar a sentir dificuldade em reconhecer as pessoas. A visão pode parecer turva ou ter a percepção de pontos negros ou flutuantes no campo de visão (tipo “moscas”). Os doentes podem também sentir flashes de luzes ou perda súbita da visão.

No caso das pessoas com diabetes, nunca se deve esperar pelos sinais ou sintomas de doenças da retina para ir ao médico oftalmologista ou fazer rastreios com regularidade. No caso da diabetes tipo 2, deve ser feito um rastreio logo após o diagnóstico e manter o acompanhamento com regularidade. Já as pessoas com diabetes tipo 1 devem realizar uma primeira consulta oftalmológica nos primeiros cinco anos após o diagnóstico.

Acerca destas patologias, Rita Flores, Presidente da SPO, relembra que: “ambas podem permanecer assintomáticas ou apresentar sintomas discretos ou algumas dificuldades, durante anos. É de lamentar que as consultas de vigilância na área de oftalmologia para pessoas com mais de 50 anos também ainda não façam parte da rotina dos portugueses”.

Já Ângela Carneiro, Presidente do GER acrescenta: “baseados num estudo populacional realizado em Portugal, o Coimbra Eye Study, cerca de 12% dos portugueses acima dos 55 anos sofrem de DMI; dessas pessoas, cerca de 1% apresenta a forma avançada da doença. Quando falamos de retinopatia diabética, sabemos que é a primeira causa de cegueira em idade activa e que cerca de 360.000 portugueses têm lesões na retina que resultam da diabetes. São números a que não podemos ficar indiferentes.”

Ambas as médicas oftalmologistas são peremptórias: “Em qualquer um dos casos, o factor tempo é determinante uma vez que a doença vai progredindo e pode levar a alterações da visão de contraste, da visão das cores e da visão com pouca luz, até evoluir para casos mais graves e irreversíveis. Se sentir qualquer sintoma que não lhe parece natural, como visão turva ou distorcida, manchas no campo visual ou perdas súbitas de visão, recomendamos uma observação urgente por um médico oftalmologista”, reforçando a importância da prevenção, diagnóstico, e tratamento atempado para evitar que mais portugueses percam a sua visão.

Para além disso, recomenda-se ainda a adopção de hábitos de vida saudável e de medidas preventivas como não fumar; praticar exercício físico regularmente; manter uma dieta rica em frutas e vegetais; monitorizar os níveis de tensão arterial e colesterol e a ingestão de vitaminas e antioxidantes quando indicadas por um profissional de saúde.