Entre Benfica e Salzburgo, a matemática fez a diferença

A expulsão de António Silva e a inferioridade numérica desde os 13 minutos condicionaram o jogo “encarnado”, que permitiu muito ao Salzburgo, é certo, mas também criou bastante, mesmo a jogar com dez.

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António Silva foi expulso frente ao Salzburgo LUSA/MIGUEL A. LOPES
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Se jogar na Liga dos Campeões com 11 jogadores em campo já é difícil, jogar com dez, por maioria de razão, sê-lo-á mais ainda. O Benfica sentiu na pele o peso da matemática, nesta quarta-feira, com uma derrota (2-0) frente ao Salzburgo na primeira jornada na fase de grupos da Champions.

A referência à inferioridade numérica, que afectou o Benfica logo aos 13’, não é trivial. É que o Salzburgo foi aquilo que costuma ser: uma equipa que pressiona alto e cria facilmente perigo e uma equipa que também se desposiciona bastante e permite oportunidades aos adversários.

E, pelo que criou a jogar com dez durante mais de 75 minutos, ficou a ideia de que, a jogar com 11, o Benfica poderia ter sido feliz.

Jogo “louco”

Na antevisão do jogo disse-se que o perfil futebolístico de Benfica e Salzburgo têm alguns pontos comuns, nomeadamente jogarem bem subidas no campo e optarem por uma pressão intensa à primeira fase de construção adversária, mais do que um bloco médio/baixo, que espera pelo adversário.

São equipas que não têm problema em partir os seus blocos para uma pressão intensa e isso redunda, muitas vezes, em espaço entre linhas e num jogo de transições. E se se juntarem em campo duas equipas com esta matriz, o resultado é previsível.

A partida entrou logo em modo “louco”, com 15 minutos em que se passou um pouco de tudo: dois penáltis, um cartão vermelho, um possível penálti e uma bola ao poste.

O problema para o Benfica é que a bola ao poste foi sua (João Mário) e que os dois penáltis… também foram seus. O primeiro, cometido por Trubin, foi parar à bancada, mas o segundo, que teve expulsão de António Silva por cortar, com a mão, uma clara oportunidade de golo, teve remate certeiro de Simic (Trubin e Bah com culpas repartidas antes da solução de recurso de António Silva).

O jogo estava fértil em perdas de bola de parte a parte e transições rápidas, mas o problema para os portugueses é que o Salzburgo conseguia colocar muito mais gente em zonas de finalização.

Havia, aliás, uma dinâmica interessante, que era a de terem os três jogadores da frente (dois avançados e Gloukh, a jogar nas costas) em movimentos diferentes – geralmente, um a romper em profundidade e os outros dois a jogarem entre linhas, atrás de João Neves e Kokçu.

Os médios do Benfica, habituados a saírem na pressão, não souberam lidar com isto, até porque os centrais não podiam “apertar” os jogadores austríacos entre linhas - havia sempre um a “prendê-los” com o movimento no espaço.

O Benfica acabou por estabilizar quando baixou o seu bloco, juntou as linhas e abdicou da pressão habitual, tirando ao Salzburgo o tal espaço entre linhas à frente dos centrais.

Oportunidades de golo

Ofensivamente, a jogar com dez, a solução era entregar a bola a Di María e “rezar”. O argentino, em grande nível, criou jogadas praticamente sozinho no corredor direito e o Benfica até somou oportunidades para o empate: Di María de livre, Di María de canto directo e Di María com dois cruzamentos perigosos.

Na segunda parte, o Benfica manteve o bloco médio/baixo, com a equipa muito junta, e até estava a conseguir jogadas construídas com nexo: atrair a um lado – e o Salzburgo deixa-se atrair – e virar rapidamente ao lado oposto. Musa esteve perto do golo em dois desenhos deste tipo.

Mas, a jogar com dez, os momentos de pressão teriam sempre de ser escolhidos com especial cuidado. Aos 51’, um mau passe de Morato tinha a equipa do Benfica quase toda na zona da bola e, com uma sucessão de abordagens à queima, Simic conseguiu isolar-se e assistir Gloukh quando chegou a Trubin, permitindo ao colega um golo de baliza aberta.

As sucessivas perdas de bola do Benfica em zona de construção – sabe-se como o Salzburgo pressiona agressivamente – deixaram os austríacos perto do 3-0 mais do que uma vez e, com meia hora de futebol pela frente, o jogo parecia feito, até porque as oportunidades que o Benfica tinha – e não eram poucas – eram travadas pelo guarda-redes Schlager, a um nível bem mais alto do que o colega de posição do lado oposto.

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