“Olhar para o País de Gales olhos nos olhos foi muito positivo”
No final da estreia de Portugal no Mundial 2023, o PÚBLICO falou com Nuno Sousa Guedes, um dos jogadores em evidência na selecção portuguesa de râguebi.
A exibição de Portugal na estreia do Mundial de râguebi mereceu elogios unânimes da crítica internacional pelo “râguebi positivo” e pela procura de jogar sempre com a bola na mão pelas linhas-atrasadas, o que os franceses chamam de “râguebi champagne”. Um dos principais responsáveis pela forma espectacular como os “lobos” se exibem em campo é Nuno Sousa Guedes. O defesa do CDUP, que foi aplaudido por todo o estádio quando foi substituído aos 70’, falou com o PÚBLICO em Nice no final do encontro frente a País de Gales e voltou a mostrar a ambição da equipa portuguesa: "Sabemos que daqui para a frente será a subir."
Qual foi a sensação de jogar num Campeonato do Mundo?
As pessoas talvez não tenham a noção do impacto que tem em nós jogar com este ambiente, ver tantos portugueses a apoiar e o barulho que se ouve. Por vezes não conseguíamos dar as chamadas e os códigos uns aos outros. Esse tipo de coisas fragiliza um bocadinho, mas olhar para o País de Gales olhos nos olhos foi muito positivo e vamos levar isto para o resto da vida.
Que balanço faz do jogo contra o País de Gales?
Sabíamos que podíamos chocar o mundo, mas ao mesmo tempo estávamos com os pés na terra. Sabíamos que teríamos de estar ao nosso melhor nível e houve algumas falhas no nosso sistema, uma coisa que não é comum. Vamos ter de trabalhar bastante nisso, porque vamos viver mais ambientes destes, pelo menos mais três jogos, e teremos de estar a 100%. Se assim não for, não conseguiremos dar o salto que queremos dar. Estamos conscientes do que somos e da nossa realidade e teremos de começar já a trabalhar para o jogo com a Geórgia.
Durante o jogo sentiu que a vitória era mesmo possível?
Senti que houve um momento no jogo em que nós, por sermos uma equipa mais pequena, demos a bola ao País de Gales de forma fácil à espera de que fossem eles a tomar a iniciativa. Mas depois percebemos que, com a nossa defesa, conseguíamos recuperar a bola e ter momentos bons de ataque, voltando ao meio-campo de Gales, e que isso podia dar-nos uma alegria grande. Mas, honestamente, acho que perdemos os momentos-chave - um desses momentos foi o ensaio no final da primeira parte. Isso levou o País de Gales com 14-3 para o intervalo, quando podia ir com 7-6. Isso podia ter-nos dado outro alento para a segunda parte. Faltou também, por vezes, o último passe e na estrutura não tivemos a 100%. Mas o mérito é do País de Gales, que sabe andar nestas andanças muito melhor do que nós e só temos a aprender com isto.
O que é preciso corrigir nos próximos jogos?
Defensivamente tínhamos uma lacuna e éramos frágeis quando apanhávamos equipas com ataques fortes e bem organizados. Contra Gales não aconteceu. Entre o ataque e a defesa, fomos melhores na defesa. Agora temos de manter o que fizemos e subir no ataque, para até dar a volta e ganhar jogos. Esta exibição deu-nos confiança e é a principal lição que levamos daqui. Sabemos que daqui para a frente será a subir. Estar num estádio com tanta gente provocou um impacto positivo, mas numa realidade diferente, e penso que para os próximos jogos isso já vai estar adquirido. É só atacar a parte de jogo no campo e podemos ter uma surpresa.
Considera que o ataque foi onde Portugal esteve menos forte?
Não conseguimos manter a estrutura atacante. Eles fizeram pressão e nós estamos sempre no pé da frente, sempre a ganhar o momento e a andar para a frente. Quando se ataca com o pé da frente é mais fácil. Houve momentos em que eles fizeram boa pressão, com placagens ofensivas e isso deu-nos problemas. Às vezes entramos em pânico e chutamos a bola para eles – não para o espaço, mas directamente para eles – e a este nível isso paga-se caro.
O que se pode esperar agora do jogo com a Geórgia?
Partimos sempre da realidade que vivemos e sabemos que as quatro equipas deste grupo estão bastante acima. Olhamos de baixo para cima e temos de ter essa perspectiva bem clara. A Geórgia é uma equipa que defrontamos muitas vezes, mas temos todas as condições e armas para lhes ganhar. Era espectacular se isso acontecesse num Campeonato do Mundo.