ESG: a governança no caminho para a sustentabilidade empresarial

Na hora de olhar para a balança ESG, a implementação de estratégias que equilibrem financeiramente todos os factores parece continuar a ter um peso diferente para a criação de valor.

Foto
Ouça este artigo
00:00
04:48

Nos sistemas contabilísticos tradicionais, a maioria dos custos ambientais são invisíveis e não são devidamente identificados, por serem alocados aos custos gerais. Na perspectiva ESG, a governança assegura a integração de factores ambientais e sociais nas práticas empresariais e na tomada de decisões, considerando não apenas os aspectos financeiros, mas também os impactos ambientais e sociais das empresas.

A governança eficaz é fundamental para garantir que as empresas actuem de forma ética, sustentável e responsável em relação aos seus accionistas e stakeholders, mas há algumas questões para reflectir, tais como o financiamento de estratégias ambientais. Na segunda talk dos Encontros com Futuro, ciclo de pensamento e debate sobre o ESG promovido pelo PÚBLICO e pela REN, o mote é a governança e o que podemos aprender com a contabilidade verde. Dia 19 de Setembro, às 9h00, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Transformar compromissos em resultados mensuráveis

Na receita para a sustentabilidade das empresas, o equilíbrio entre os “ingredientes” ESG é fundamental. Determinar métricas para analisar o impacto social das operações não será tão claro quanto determinar indicadores financeiros. No entanto, o resultado final deve traduzir os compromissos ESG em indicadores mensuráveis, pelo que a governança assume um papel unificador de todos os parâmetros.

Embora não se possa confundir a governança do ESG e a gestão financeira, acabam por estar interligadas, uma vez que o resultado do desempenho ESG pode ter impacto nas contas das empresas ao influenciar a percepção de possíveis investidores. Definir o desempenho ESG e comunicar os resultados é uma forma de as empresas atraírem capital.

O que aprendemos com a contabilidade verde?

A abordagem contabilística à sustentabilidade — assumindo a incorporação dos parâmetros ESG nas estratégias e resultados empresariais — está na ordem do dia. Calcular a pegada ecológica, determinar as emissões de dióxido de carbono e definir soluções de circularidade para a gestão de resíduos são algumas das estratégias ambientais mais faladas actualmente, alocadas directamente ao valor dos negócios.

No segundo dos Encontros com Futuro, apesar da abordagem holística ao ESG, o foco será a governança. No debate moderado por Fernanda Freitas espera-se compreender melhor como são tomadas as decisões estratégicas em termos de estrutura de gestão e responsabilidades de governança e de que forma a governança corporativa promove a sustentabilidade nos negócios.

Mas será que as empresas têm sido transparentes na forma como apresentam resultados financeiros e não financeiros? Os compromissos apregoados para reduzir a pegada ambiental são amplamente publicitados, mas serão assim tão importantes para as contas das empresas? Duarte Pitta Ferraz, professor of Governance & Banking - Nova SBE Executive Education, Francisco Ferreira da Associação ZERO e Afonso Arnaldo, da Deloitte são os convidados da mesa redonda. Em destaque no programa, a intervenção da oradora internacional Chrissa Pagitsas.

Espera-se das empresas mais do que “brilhantes relatórios e comunicados de imprensa", e é expectável que “cumpram os compromissos de sustentabilidade através das suas cadeias de abastecimento”, relembrou Chrissa Pagitsas. Espera-se que as empresas que assumiram o compromisso de reduzir as emissões de carbono, por exemplo, “demonstrem que têm planos em vigor e estão a interagir com os seus principais stakeholders”, defendeu a oradora principal da talk. Sobre o panorama geral, Chrissa Pagitsas acrescentou ainda que “a economia global depende de clientes, fornecedores, reguladores e investidores que trabalham em conjunto” para desenvolver padrões de relatórios para “métricas de sustentabilidade que sejam eficientes, consistentes e transparentes".

Construir valor através de títulos verdes

Chrissa Pagitsas, directora da Pagitsas Advisors, é consultora estratégica de ESG e uma referência na assessoria para financiamento verde, especialmente no mercado imobiliário ao qual esteve ligada enquanto vice-presidente de ESG da Fannie Mae — construiu a maior carteira mundial de títulos verdes para o sector imobiliário. Fará uma intervenção dedicada ao financiamento verde com base na sua vasta experiência, abordando, por exemplo, de que forma a sua aprendizagem pode ser transposta para o sector privado em geral. Falará também sobre a importância de “criar parcerias e testar novas tecnologias e ideias para cumprir os compromissos de sustentabilidade”, revelou.

Chrissa Pagitsas é também autora do livro "Chief Sustainability Officers at Work” para o qual entrevistou mais de 25 CSO (responsáveis pela área de sustentabilidade) de empresas como a Coca-Cola, a Procter & Gamble e a BlackRock sobre a forma como estão a transformar compromissos tangíveis em resultados mensuráveis.

Em suma, nesta talk o objectivo é trazer ao debate o papel da governança ESG não só no que respeita a agregar valor às empresas, mas também na construção de um mundo mais sustentável. Equilibrar os resultados financeiros com o impacto social e ambiental é a equação ideal, mas talvez uma das mais difíceis de conseguir.

A participação é gratuita e as inscrições para as talks já estão disponíveis online.