TAP: sindicato dos pilotos considera “inacreditável” indemnização pedida por Ourmières-Widener

SPAC acusa antiga presidente de historial de gestão “completamente desastroso e danoso”. Governo diz estar “muito confortável” com despedimento.

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Ex-presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, contesta despedimento em tribunal LUSA/JOSE SENA GOULAO

O Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) e o Governo não estão totalmente alinhados no despedimento de Christine Ourmières-Widener da presidência da TAP, mas estão muito próximos. O presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) considerou nesta quinta-feira “um pedido inacreditável”, referindo-se aos 5,9 milhões de euros reclamados pela ex-presidente executiva (CEO) da companhia, enquanto o Governo, pela voz da ministra da Presidência, disse que o Governo está “muito confortável” com o despedimento da gestora.

As posições do sindicato e do Governo surgem um dia depois da entrada em tribunal de um processo da ex-CEO contra a companhia, onde contesta o seu despedimento, reclamando os valores pagos até ao final do contrato.

O despedimento de Christine Ourmières-Widener foi anunciado a 6 de Março passado, pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, após uma investigação da Inspecção-Geral de Finanças (IGF) sobre a indemnização de 500 mil euros paga pela TAP à ex-administradora Alexandra Reis.

“O Governo tomou uma decisão com base num relatório que é absolutamente inequívoco e por isso estamos muito confortáveis com a decisão tomada”, afirmou Mariana Vieira da Silva, no briefing após o Conselho de Ministros, referindo-se ao relatório da Inspecção-Geral das Finanças (IGF), que considerou ser “suficientemente sólido”.

Já o presidente do SPAC, Tiago Faria Lopes, disse nesta quarta-feira à Lusa que o montante pedido é inaceitável. “Acho que é um pedido inacreditável. Claro que a forma [de a demitir] não foi a correcta, mas o historial da engenheira Christine na gestão da TAP foi completamente desastroso e danoso”, afirmou.

Segundo o dirigente sindical, “fazendo uma análise do ano e meio [de gestão] da engenheira Christine, se calhar vai-se apurar que ela é que deveria pagar uma indemnização aos contribuintes portugueses, porque a TAP teve um ano e meio perdido na recuperação da covid-19 em relação às suas congéneres”.

Salientando que o SPAC “sempre foi o primeiro a denunciar todos os erros” da gestão de Christine Ourmières-Widener, Tiago Faria Lopes destacou, desde logo, como “fulcral e extremamente danoso para as contas da TAP a manutenção dos cargueiros na companhia, que voaram meia dúzia de meses” e resultaram num “prejuízo que ascende os 40 milhões de euros”.

“A tentativa de mudança de frota de automóveis da TAP, a tentativa de mudança de sede e os mais de 3300 voos cancelados durante o ano de 2022” são outros dos “erros de gestão” apontados pelo sindicato, que critica a gestora francesa por assumir uma “política de cancelamentos de voos” e “bloquear as negociações dos acordos de empresa dentro da TAP, mantendo sempre a não-paz social”.

“Para ela, era preferível cancelar voos do que tentar chegar a acordos de empresa com os trabalhadores”, sustentou Tiago Faria Lopes.

Apesar da decisão de aumentar tarifas e da “benesse fiscal de 30 milhões de euros” de que [a empresa] beneficiou, Christine Ourmières-Widener “não conseguiu sequer — segundo o SPAC — fazer frente à concorrência das suas congéneres, ficámos muito abaixo de todas elas”.

“Foi tão mau que basta compararmos o lucro de 23 milhões de euros no primeiro semestre de 2023 com os 200 milhões de euros de prejuízo da engenheira Christine em 2022”, enfatizou, referindo ainda que o contrato da gestora “não tinha os cortes salariais de 30% da administração anterior” e lembrando “as contratações de amigos, estrangeiros, muitos deles sem habilitação para estar nos cargos” efectuadas pela ex-CEO.

Considerando que, “elencando os erros todos, é evidente que a engenheira Christine teve uma gestão corrente e danosa da companhia”, Tiago Faria Lopes admite que a gestora “poderá ter um argumento pela forma como foi feita a sua demissão, publicamente, mas não para pedir uma indemnização”.

“Recordo que este Governo que já o tinha feito com o antecessor da engenheira Christine, o engenheiro Antonoaldo [Neves], que também foi despedido pela televisão, e ele não fez este alarido todo, porque sabia as competências que tinha e que são tão válidas que está numa das melhores companhias do mundo.”

A Lusa pediu um comentário à TAP e aos ministérios das Infra-Estruturas e das Finanças. O Ministério das Finanças, liderado por Fernando Medina, já respondeu que não vai comentar e aguarda resposta da companhia aérea.