Esticou a corda da pop e chegou a uma terra de ninguém, que agora é de todos. Björk convida-nos a habitá-la.

A marca da islandesa nos últimos 30 anos é enorme. Que o digam o encenador e actor André e. Teodósio, os músicos Nuno Gonçalves (The Gift) e Débora Umbelino (Surma) e o especialista nas relações entre música e vídeo João Pedro da Costa. Falámos com eles. Há Cornucopia, o novo grito criativo da islandesa numa carreira cheia deles, esta sexta-feira na Altice Arena, em Lisboa. 

Escrevemos: "O lastro de Björk é gigante, atravessando gerações de criadores e fãs anónimos. Com ela, os anos 90 aproximaram-se da estranheza. Partindo de um universo ainda reconhecível como pop, a islandesa lançou-nos o isco quando as suas melodias não eram complicadas de perseguir, enganchando-nos para depois nos dar a volta aos sentidos. Fez aquilo a que vulgarmente se chama deflagrar a revolução a partir de dentro."

Para decifrar Björk e o seu universo em expansão, fizemos um glossário: de ambiente a zing, boom!.

Ainda na música, ouvimos o disco que une Nick Cave e Warren Ellis ao vivo e conversámos com Pelle Almqvist (The Hives), antes do concerto no festival Kalorama. Se Björk adora mudar, os Hives apreciam muito ficar na mesma: a receita faz-se de "um terço de excitação sexual, um terço de euforia e um terço de algo destrutivo".

"A câmara de Jerry Schatzberg atravessou o século XX", titula, certeiramente, Jorge Mourinha, que conversou com o fotógrafo aclamado tornado realizador na "nova Hollywood" dos anos 1970. O autor de Pânico em Needle Park e O Espantalho atribui meio século de carreira à força das circunstâncias. Vai à Cinemateca inaugurar uma retrospectiva, que se inicia no dia 7.

La Bête carrega um peso. "O que fizeram com esta performance ajudou Bolsonaro a ser eleito, a dizer que a esquerda era um bando de degenerados", sabe Wagner Schwartz, o performer que a apresenta nu. Foi transformado num "pedófilo" e num "monstro" por conservadores, evangélicos, grupos e políticos de extrema-direita; demonizado na Internet, alvo de notícias falsas, ameaçado de morte. Este sábado à tarde, no MAAT – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia de Lisboa, Schwartz apresenta La Bête e lança um livro em que narra a sua vida depois das perseguições.

O título pode causar estranheza: "Os desenhos que Alberto de Lacerda não coleccionou chegaram ao museu de Arte Antiga." Mas explica-se: Lacerda (1928-2007), poeta, jornalista e professor universitário, recusava-se a chamar às obras de arte que reuniu uma colecção. Eram apenas "as suas coisas, o seu mundo", como nos contou Luís Amorim de Sousa, o amigo próximo a quem o poeta as deixou e que doou agora os desenhos dos séculos XVIII e XIX que Lacerda coleccionou. Fomos conhecer alguns e as incríveis histórias de um homem singular.

"Este livro não merece proibição nem aprovação. A proibição não encontraria justificação e a aprovação seria demasiada honra para tanto cretinismo e insensatez. Propõe-se que se lhe aplique o silêncio administrativo." É deliciosa a nota de censura aplicada a A Saga/Fuga de J.B.. O romance de 1972 de Gonzalo Torrente Ballester é considerado uma obra-prima da literatura espanhola do século XX e acaba de ser reeditado em Portugal.

No livro Senciência – A invenção da consciência, o psicólogo teórico Nicholas Humphrey aventura-se numa autobiografia científica. "A consciência chegou bastante tarde" na história da evolução humana, afirmou em entrevista a Ana Maria Henriques.

Neste Ípsilon, olhamos ainda para os novos filmes de Abel Ferrara e François Ozon, a música contemporânea de Cláudio de Pina e a literatura de Pat Barker.

Boas leituras!


Siga-nos no Spotify: as nossas escolhas semanais e playlists sobre o novo flamenco, as melhores canções dos Blur, 20 canções para celebrar 50 anos de hip-hop...

Comentar