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O que vão os jovens de Moncorvo fazer a seguir? “É uma história que se repete todos os anos”

O fotógrafo Fábio Cunha passou seis semanas em Torre de Moncorvo, onde se envolveu nas dinâmicas da vila transmontana e no dia-a-dia da escola secundária do concelho.

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Foi como um regresso a casa, à escola e à adolescência. O fotógrafo Fábio Cunha viveu a mesma realidade, ou muito próxima, que os jovens que fotografou em Torre de Moncorvo, em Bragança, estão prestes a experienciar. Todos os anos se repete: uma vez terminado o ensino secundário (às vezes logo após o 3.º ciclo do ensino básico, como foi o caso de Fábio) é hora de rumar a outras paragens, seja para continuar a estudar ou para ir trabalhar. Foi essa experiência que o fotógrafo, natural de uma vila semelhante àquela onde trabalhou durante seis semanas e localizada no mesmo distrito, Vinhais, tentou captar.

O convite para desenvolver o trabalho surgiu no âmbito do projecto Vivificar, da Ci.clo. O pressuposto: ter relação com o território. "Senti-me a trabalhar em algo que conheço porque passei por isso. Estudei numa escola que é praticamente igual àquela", explica o fotógrafo que depois de sair foi estudar para o Porto e agora vive em Lisboa.

Durante seis semanas, entre Outubro e Novembro de 2022, Fábio Cunha integrou-se nas dinâmicas da vila e da escola secundária, localizada na Sub-região do Douro Superior e banhada pelo rio Sabor. Todos os dias se encontrava com os jovens que integraram o projecto. "Interessou-me trabalhar com eles e fotografá-los, sobretudo na escola, na sala de aula, no pavilhão desportivo. São uma camada da população que está numa idade de transição e tem muitas dúvidas, ansiedades, muitas questões sobre o que vão fazer no futuro."

Ana Guedes, 18 anos, foi uma das participantes. No início, sair da zona de conforto e ter uma lente apontada soou-lhe um tanto estranho. "Fiquei um bocadinho envergonhada." Mas rapidamente o embaraço deu lugar ao compromisso com o projecto, que, como diz, todos abraçaram intensamente. "Confesso que não estava à espera quando o Fábio me disse que ia ter uma fotografia minha em ponto grande. Confiei no trabalho dele e gostei do resultado final", afiança.

"O que é que eles vão fazer a seguir?" foi a questão que serviu de base para o trabalho. "É uma história que se repete todos os anos", a de os jovens seguirem viagem para outras paragens, e à qual Moncorvo já está tão habituado, ou não fosse, de acordo com os Censos 2021, um dos municípios portugueses com maiores decréscimos populacionais, a par de Barrancos, Tabuaço e Nisa.

"É algo que acontece todos os anos e a fotografia a preto e branco é capaz de abarcar todas estas gerações", abona Fábio Cunha. Para Ana Guedes, que à data do projecto não fazia ideia do significado que os retratos abarcavam, é uma ideia "que encaixa bem na realidade de Moncorvo". Também ela deverá estar prestes a seguir o mesmo caminho. Quer estudar Enfermagem na cidade dos estudantes, Coimbra, e é entre o estudo para o exame nacional de Biologia e Geologia que conversamos.

Além dos retratos que o fotógrafo fez dos jovens, também os estudantes assumiram o papel de fotógrafos. O desafio era registarem algo que os acompanha todos os dias, seja a paisagem, um objecto, as festas que organizaram ao longo do ano lectivo para angariar fundos para ajudar às despesas das viagens de finalistas, ou alguém.

"O que é que mudavam para melhor?" A saúde. "Uma das alunas fotografou o centro de saúde por entender que são precisas mais condições no centro de saúde, mais médicos, mais oferta de saúde, que é parca na região", explica o fotógrafo. "As problemáticas que se põem ali põem-se onde eu cresci também."

©Fábio Cunha
©Fábio Cunha
©Fábio Cunha
©Fábio Cunha
©Fábio Cunha
©Fábio Cunha
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Ana Guedes quer estudar Enfermagem em Coimbra
Ana Guedes quer estudar Enfermagem em Coimbra ©Fábio Cunha
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