Cartas ao director

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O diabo arde de inveja

É penoso assistir há décadas ao esforço inglório de quem é chamado para combater labaredas devoradoras de centenas de milhares de hectares. Na modesta opinião de um mero observador, pergunto se está a fazer-se tudo o possível para o combate preventivo, incluindo aqui uma apertada vigilância com o aumento exaustivo de postos de vigia estratégicos. Estes, por sua vez, em comunicação constante com equipas de elevada prontidão para intervir nos focos detectados. Cada vez que se fala em preparação para o combate a este flagelo, não se evidencia esta forma de prevenção.

José M. Carvalho, Chaves

Saber olhar para baixo

Das imensas crónicas, reportagens, artigos, testemunhos, relatos, comentários, reacções, críticas, etc., que li e ouvi sobre a recente vinda do Papa Francisco a Lisboa, algumas foram especialmente assertivas. É o caso da crónica de Miguel Esteves Cardoso no PÚBLICO de 7 de Agosto: diz muito sobre os diferentes sentidos de "ver o outro" nas três Religiões do Livro e sobre a "prioridade inclusiva" no seio da Igreja Católica, uma das "causas" deste Papa que sabe falar tanto para crentes como para não-crentes (como eu sou).

Ao contrário da cegueira proselitista de uma minoria católica que detesta Francisco (e, também, da não menos lamentável violência anticlerical de alguns, sem nenhuma justificação no nosso tempo), vi as "minhas grandes causas" expressas nas palavras deste Papa – a defesa da ecologia e do meio ambiente, da cultura de partilha, da justiça social, do direito à paz contra a lógica dos senhores da guerra, do igualitarismo como princípio, da dignificação dos mais frágeis, do combate à xenofobia, e a condenação dos adoradores do "deus dinheiro" e daqueles que, em nome da cobiça e do preconceito, olham do alto para os "outros"...

Princípios assumidos, não por mera retórica, tanto no discurso no CCB aos políticos, como no do bairro da Serafina a uma comunidade de pobres, ou do Parque Eduardo VII e à beira-Tejo à multidão de jovens da Jornada Mundial da Juventude. As encíclicas Laudatus Si e Fratelli Tutti são dois dos mais valiosos e consistentes manifestos sociais do nosso tempo (atrevo-me a dizer: textos com pulmão de esquerda). E tudo começa (pois claro) na defesa da inclusão, como diz a crónica de M.E.C. e leio, ainda, nas de São José Almeida e de Carmo Afonso neste jornal, e no testemunho de Paulo Raimundo (por muito que convenha às direitas ultramontanas, só por equívoco se pode chamar ao PCP "esquerda radical").

Sim, como diz Francisco, "só é lícito olhar alguém de cima para baixo para a ajudar a levantar-se". Levantar-se do chão.

Vítor Serrão, Santarém

Lobbies para todos os gostos

Portugal é um país dominado e controlado por lobbies de interesses corporativos, principalmente a nível do Estado, mas não só. Os trabalhadores do Estado, que representam somente 20% da força do trabalho nacional, exercem tamanha pressão diária nos meios de comunicação, através dos sindicatos, que não há governo ou ministro que lhes resista. Ou conseguem o que querem, ou cai o ministro ou até o próprio Governo. Há o lobby dos médicos, o lobby dos professores, o lobby do alojamento local, o lobby dos senhorios, etc., etc. Lobbies para todos os gostos. Os restantes 80% dos trabalhadores deste país, os pescadores, os trabalhadores rurais, os operários, esses é que estão entregues a si próprios.

Nos últimos dias, vimos mais um lobby em acção, o dos bombeiros. Tiago Oliveira, presidente da Agência para a Gestão Integrada dos Fogos Rurais (AGIF), cansado talvez de andar há vários anos a pregar no deserto, atreveu-se a dizer a verdade publicamente e já está condenado, só ele é que ainda não sabe. Ao fim de tantos anos a vermos o país a arder, não é preciso ser-se especialista para se perceber que aquilo que movimenta muitos milhões e alimenta muitas bocas é o combate aos incêndios, não é a prevenção.

J. Sequeira, Lisboa

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