Sigam Marcelo!

Em vez de fragmentação, Marcelo falou de ambição, união e desígnio nacional. E fez bem.

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Uma das palavras que mais têm marcado os últimos meses da vida pública em Portugal é “fragmentação”. Todos os dias há notícias de divisões, antagonismos e até, por vezes, intolerância.

Há dias que podem servir para parar, pôr o país em perspectiva e fazer a reunião. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sabe ser conciliador e motivador quando se depara com a oportunidade de se dirigir ao povo num desses dias. É o que tem acontecido com as celebrações do 10 de Junho, que este ano tiveram como palco a paisagem deslumbrante de Peso da Régua.

Em vez de fragmentação, Marcelo falou de ambição, união e desígnio nacional. E fez bem.

Usando o próprio exemplo da Comunidade Intermunicipal do Douro (19 municípios de diferentes distritos que souberam articular-se e trabalhar em conjunto), o Presidente apelou a que se ultrapassem egoísmos, que se crie riqueza — e que, sobretudo, esta seja bem distribuída , falou de um país improvável que soube agigantar-se e evocou o espírito de universalidade dos portugueses.

As palavras não são vãs e, como o próprio fez questão de referir, aquele foi um discurso para levar a sério e não apenas para “aconchegar os espíritos em tempos de incerteza”.

Pelo meio, o chefe de Estado deixou alguns recados, apelou a que “os ramos mortos” sejam cortados para não prejudicar “a árvore toda”, no que foi lido como uma crítica ao ministro das Infra-Estruturas, João Galamba, fragilizado pelo caso do pedido ao SIS para recuperar um computador de um ex-adjunto, falou do paradoxo de se ter contas certas sem haver justiça social, lembrando até um discurso célebre do ex-Presidente Jorge Sampaio.

Mas, numa altura em que a economia recupera, em que o país tenta sarar mais rapidamente do que todos previam muitas das feridas deixadas pela pandemia, em que a guerra na Europa parece longe do fim, em que a inflação dá sinais ténues de descida, Marcelo aponta o rumo numa direcção de que ninguém se atreve a discordar. Que este apelo, que é ao mesmo tempo um voto de confiança no país, seja duradouro e dê frutos. Que haja mais dias em que a coesão, a união de esforços e a solidariedade falem mais alto do que a fragmentação, a discórdia e as cruzadas estéreis.

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