Dirigentes socialistas alertam para ameaças da extrema-direita aos direitos das mulheres

A eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques diz que as mulheres não são uma minoria - antes “uma maioria historicamente maltratada” - e por isso não devem ser tratadas como tal.

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Maria Manuel Leitão Marques, eurodeputada Daniel Rocha

O secretário-geral adjunto do PS e a presidente das Mulheres Socialistas Europeias consideraram esta sexta-feira a extrema-direita como uma ameaça aos direitos das mulheres, à igualdade de género e à democracia, apelando à mobilização nas europeias de 2024.

Estes alertas foram feitos no 30º aniversário do PES Women (Mulheres Socialistas Europeias), que se decorre esta tarde na sede nacional do PS, em Lisboa.

João Torres recuou ao 25 de abril de 1974 e aos três "D"s do programa do Movimento das Forças Armadas (MFA) -- descolonização, democratização e desenvolvimento --, para advertir que "a democracia está em perigo"

"A democracia é algo que é absolutamente fundamental para todos nós socialistas, mas é importante ter presente que a democracia está em risco em muitos Estados-Membros da União Europeia e que mesmo em Portugal aquilo a que assistimos é a um crescimento nas últimas eleições da extrema-direita", alertou

João Torres considerou que o país assiste também a "uma radicalização dos discursos da direita democrática, que se aproxima muitas vezes na sua acção da extrema-direita, naquele que é o conteúdo essencial da sua mensagem política".

O secretário-geral adjunto do PS fez um apelo "às mulheres socialistas europeias e em Portugal" para que "cerrem fileiras em prol dos avanços nos direitos, na igualdade" e na defesa da democracia, lembrando que no próximo ano se assinalam os 50 anos desde o 25 de Abril de 1974.

O dirigente socialista defendeu o direito à efectiva ascensão das mulheres a cargos de liderança, nomeadamente em organizações de natureza político-partidária, e salientou que, apesar de o PS nunca ter tido uma mulher a chefiar o partido, existe um "esforço colectivo" interno para "promover, permitir, habilitar, empoderar as mulheres para que possam desempenhar mais e mais cargos de liderança".

João Torres mostrou-se ainda confiante num "magnífico resultado" dos socialistas nas eleições europeias de 2024, ideia também deixada pela presidente das Mulheres Socialistas Europeias, a húngara Zita Gurmai.

"Se não respeitarmos o passado não temos qualquer futuro. É por isso que eu acredito que é importante mencionar o nome de uma das mulheres fundadoras do PS, Maria Barroso, que não era apenas uma mulher presente entre os fundadores, mas que foi uma inspiração para mulheres durante décadas", salientou a dirigente -- nome que também foi referido na intervenção de João Torres.

Zita Gurmai manifestou-se "profundamente preocupada com os ataques da extrema-direita aos direitos das mulheres, bem como à comunidade LGBTI+ e à comunidade migrante".

Numa intervenção intitulada "O crescimento do populismo na Europa e o risco de retrocessos nos direitos das mulheres", a eurodeputada Maria Manuel Leitão Marques defendeu que o "discurso populista tornou-se soft, menos perceptível, menos demarcado e, portanto, muito mais perigoso".

"E nós que tivemos no Parlamento Europeu o chamado cordão sanitário de não negociar ou não conversar com a extrema-direita, temo que o vamos perder, ou que esse cordão deixe de passar ali no final da extrema-direita, no próximo Parlamento Europeu. E essa normalização é também um risco para a democracia", lamentou.

Na opinião da eurodeputada, aos progressistas "não chega fazer um diagnóstico" mas sim "encontrar o modelo eficaz de combater estes movimentos num quadro democrático".

"Não podemos tratar os direitos das mulheres como direitos das minorias. (...) Eu sou muito respeitadora dos direitos das minorias (...) mas quando falamos dos direitos das mulheres não estamos a falar dos direitos de uma minoria, estamos a falar dos direitos de uma maioria historicamente maltratada", defendeu.

Maria Manuel Leitão Marques fez ainda referência às eleições para o Parlamento Europeu que se realizam em Junho do próximo ano, avisando que "não vão ser eleições fáceis".

"Tem sido o PS em Portugal e grupo socialista na Europa a liderar estas lutas: mas não tenhamos ilusões, se não mobilizarmos mais mulheres e mais homens para as nossas causas não vamos ter o necessário poder eleitoral para assim continuar", rematou.

Elza Pais, presidente das Mulheres Socialistas em Portugal, apelou a uma "Europa socialista e feminista" e pediu "todas as forças" para vencer as eleições europeias no próximo ano.

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