A coligação feminina de Sanna Marin num documentário HBO

A mais jovem primeira-ministra do mundo colocou a Finlândia na NATO, atravessou a pandemia e foi escrutinada por dançar ou correr. Agora, The First Five homenageia as cinco governantes.

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As ministras HBO
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Sanna Marin viveu uma popularidade tão intensa quanto confusa enquanto esteve no poder. Era tão tentador dizer que era a primeira mulher a ser primeira-ministra na Finlândia, que teve de corrigir jornalistas e moderadores de debates foi a terceira. O seu “recorde” era ser a mais jovem, aos 34 anos. Quando circulou um vídeo seu a dançar numa festa, tornou-se tema mundial e parlamentar. Mais uma confusão desfeita: não estava sob o efeito de drogas, estava só sob um escrutínio muito particular. Agora, The First Five vem falar sobre isso, mas tentar ajeitar o foco e falar do feito que foi a coligação de cinco partidos que encabeçou e em que todas as líderes eram mulheres.

O documentário de três curtas partes – entre os 30 e os 40 minutos – é a primeira série documental finlandesa original da HBO Max e estreia-se esta sexta-feira. Realizado por Mia Halme, é uma colecção de retratos de cinco líderes políticas com inspirações tão diferentes quanto as Spice Girls, a Barbie, Pipi das Meias Altas ou as sufragistas e a Presidente da Finlândia entre 2000 e 2012 Tarja Halonen. Tenta com a mesma força ser um documentário que não pode fugir ao inescapável tema das dinâmicas de género e ser um documentário sobre uma coligação devedora do Estado social e sobre a actualidade.

Essa actualidade é tanto feita de temas como a invasão russa da Ucrânia e a adesão da Finlândia, país com longa fronteira com a Rússia, à NATO, ou da realidade recente que é a de que Sanna Marin perdeu as eleições em Abril e que o novo governo é de centro-direita (com a extrema-direita a reforçar o segundo lugar).

The First Five, ou as primeiras cinco, são Anna-Maja Henriksson, Annika Saarikko, Li Andersson e Maria Ohisalo, ministras do Governo de Marin e rostos de uma coligação de mulheres de várias idades, que são identificadas nas muitas entrevistas que são o cerne da série, com os seus vários cargos: ministra de qualquer coisa, mãe de tantas crianças ou mulher em licença de maternidade. Contam como se interessaram pela política, como o ensino e a diversidade no seu país as fizeram – vêm da classe trabalhadora, ou de famílias gay, monoparentais ou de divórcios.

De repente, em Dezembro de 2019, Marin tornava-se a primeira-ministra mais jovem do mundo. Tinha 34 anos, rodeou-se da sua coligação, e, como mostra o documentário, corre. Corre muito. Atlética, usa a mesma postura directa à meta para responder ao conhecido jornalista Fareed Zakaria, da CNN, em pleno palco do Fórum Económico Mundial, sobre o facto de ser uma jovem mulher num cargo de poder. “Não temos de ir por aí, não temos”, sorriu.

Também foi questionada, noutro momento, pelo aparente exotismo das reuniões da coligação. “Como é que se encontram? Onde é que se encontram? Quando…? Como é que funciona?” Rosto de um país, de uma coligação governamental e de um género, Marin respondeu. “Funciona como qualquer outro governo. Temos reuniões e tomamos decisões”, disse reprimindo alguma estupefacção. “Não nos encontramos em balneários de mulheres e temos conversas de balneário.”

A realizadora Mia Halme, que é citada num comunicado da HBO Max, explica que, “apesar das suas tarefas exigentes, as ministras na série são mulheres reconhecíveis e com as quais nos identificamos. Fico sempre impressionada quando uma delas fala corajosamente na sua própria voz”. A autora indica ainda que fez a série “durante uma altura excepcionalmente desafiante no remoinho da pandemia e da invasão russa, a capacidade das cinco ministras pareceu muitas vezes um vislumbre de luz na escuridão”.

Os críticos de Marin, Henriksson, Saarikko, Andersson e Ohisalo discordarão. Durante a sua governação, o país acumulou dívida pública (70,9% do PIB no último trimestre de 2022) e o custo de vida aumentou. Os críticos televisivos poderão apontar alguma morosidade na série, que parece ter vistas largas para as questões de género ou LGBT, mas curtas quanto aos migrantes ou ao racismo.

Por outro lado, toca temas contemporâneos como o medo do ódio online que uma mulher na política pode sentir e, claro, roça ao de leve a polémica do vídeo que fez com que uma mulher a dançar tivesse de esperar que um inquérito parlamentar concluísse que não negligenciou funções oficiais por ir a uma festa com amigos e dançar.

“As mulheres não precisam de uma vantagem inicial, mas merecem estar em pé de igualdade”, diz uma das ministras a certa altura em The First Five. Todos os episódios ficarão disponíveis no dia da estreia.

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