Salvo da rotina por um mergulho

É preferível ter de lidar com os problemas durante o Verão, já que é nesta estação que podemos ir à praia, e refrescar as ideias entre mergulhos frios.

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Megafone P3: Salvo por um mergulho Unsplash
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Não sei até que ponto é que os mergulhos salvam vidas, mas tenho a certeza de que socorrem as pessoas em determinados momentos das suas rotinas.

Os problemas existem tanto durante o Verão, como durante o Inverno. No entanto, é preferível ter de lidar com eles durante o Verão, já que é nesta estação que podemos ir à praia e refrescar as ideias entre mergulhos frios.

Não ignoro a força de uma potente chávena de chá durante a época fria — descansa-nos verdadeiramente —, mas não preciso de pensar muito para concluir que o Verão, através de técnicas virtuais, facilita a resolução das questões que, de dia, nos desconcentram, e que, de noite, nos roubam o sono.

No Inverno, as benesses que retiramos de idas à praia, não deixando de ser apaziguadoras, não podem ser comparadas às que marcam o verão — durante três meses, temos a possibilidade de dar grandes e prolongados mergulhos, e ficarmos com a sensação de que, à semelhança do mar, somos imensos.

Enquanto estivermos vivos, vamos ter sempre problemas — ou meras questões... — por resolver. Quem não tem problemas está morto. Na nossa cabeça, existe sempre qualquer coisa que não está bem. Não faz mal. Estranho seria se estivéssemos todos resolvidos. Lembremo-nos: só os que não estão vivos é que estão bem — e mesmo esses não estão lá muito bem. Acima de tudo, porque já não podem dar mergulhos, nem nadar livremente, sem pensar no regresso à superfície, que estabelece o mundo dito real.

Há problemas maiores do que outros. Podemos ser todos iguais perante a lei, mas a lei da vida impõe-nos desafios diferentes, cujas soluções (caso existam) são frequentemente distintas. Posso ser um romântico com gostos duvidosos, mas também não levo muito tempo a compreender que nem todas as pedras que encontramos no caminho são passíveis de ser movidas com apenas um mergulho. De qualquer das formas, também não procuro defender essa posição.

Acredito, de forma genuína, que a generalidade dos problemas perde força no momento em que nos lançamos à água, onde nos deixamos estar, de forma a absorver as propriedades revitalizadoras daquela matéria cristalina.

Da mesma forma que o nosso corpo parte a barreira que separa o céu do mar, provocando um estilhaço salgado, a água do mar provoca uma brecha nos nossos problemas — assuntos mais ou menos diminutos que dificultam as nossas rotinas. Os mergulhos são choques que dão vida, ao mesmo tempo que desaceleram a nossa existência neste planeta tão azul e com tantos sítios ideais para mergulhar.

O poder que identifico nos mergulhos não lhes é exclusivo, porém; vive noutros actos e ritos. Por exemplo, a ingestão de uma cerveja fresca — pedida no momento certo (no fim de um dia de praia, enquanto o sol se espreguiça) — também resolve, ou diminui clamorosamente, a intensidade dos nossos problemas, sendo capaz de quebrar os nós que prendem os nossos pensamentos. Se a bebermos na companhia de bons amigos, os problemas têm, definitivamente, vida curta.

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