Prompt engineer, a nova profissão com salários altos (mas que tem os dias contados)

Os engenheiros de prompt treinam sistemas de IA até serem substituídos por eles. O trabalho não exige conhecimentos avançados de programação e consiste em treinar sistemas com comandos de texto.

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O trabalho não exige conhecimentos avançados de programação Pexels
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Novas profissões ligadas a machine learning e a ciências de dados começaram a ser criadas à medida que a inteligência artificial (IA) se torna mais relevante para o mercado de trabalho. A mais recente é ser prompt engineer.

Ser um prompt engineer passa por perceber quando um sistema não compreende as instruções que são pedidas e depois construir formas de a IA responder como pretendido. De acordo com Luís Paulo Reis, professor na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), esta nova profissão nada mais é do que descrever a tarefa que a IA deve cumprir.

Ao contrário de motores de busca como o Google, a IA generativa não se limita a responder questões. O docente da FEUP explica que o que estes sistemas fazem "é gerar coisas, ou seja, inventar" consoante o prompt dado. Apesar de modelos como o ChatGPT e o GPT-4 passarem por um processo de Reinforcement Learning from Human Feedback (RLHF), na prática, só entendem uma linguagem simples e directa. Isto faz com que possam não compreender o que fazer caso algum pedido não seja específico o suficiente ou se não for elaborado de uma forma que a IA entenda.

Estes sistemas não dependem da compreensão, respondem com base na imitação da linguagem, ao criar sequências de palavras de acordo com padrões de frases e do contexto da conversa. O trabalho de um prompt engineer não exige conhecimentos avançados e programação e consiste, por isso, em treinar o sistema com comandos de texto, para que não precise de instruções longas e completas para desempenhar tarefas.

Uma profissão temporária?

De acordo com o relatório The Future of Jobs, de 2020, publicado pelo World Economic Forum, a crescente automatização das forças de trabalho vai resultar na perda de 85 milhões de trabalhos até 2025. Contudo, 97 milhões de novos empregos relacionados com gestão, tomada de decisões, comunicação e interacção podem ser criados pela tecnologia de IA e o prompt engineering é um deles.

Além de requisitada, esta é uma profissão bem remunerada e as vagas de emprego que têm surgido são a prova disso. Uma startup dos EUA, Anthropic, começou a contratar prompts engineers por um salário entre os 280 mil e os 375 mil dólares por ano. A vaga de emprego não pede nenhuma qualificação específica. Na verdade, requisita apenas que os candidatos apresentem provas de terem conseguido comportamentos considerados complexos de modelos como o Claude ou GPT3, a partir de prompts bem construídos.

Contudo, Matt Bell, um dos técnicos da empresa, afirma que ter experiência com código e machine learning é uma mais-valia para os candidatos. Ao Mashable, admite que estes conhecimentos garantem um melhor entendimento do sistema, e uma maior capacidade de escrever prompts para determinadas tarefas relacionadas com programação. No entanto, salvaguarda, o melhor "prompter ​[da Anthropic] é filósofo".

Também uma startup de inteligência artificial portuguesa, a Defined.AI, abriu vagas de emprego. E começam a aparecer os primeiros cursos como é o caso do ChatGPT Prompt Engineering for Developers. Este é um curso gratuito desenvolvido pela empresa DeepLearning.AI em colaboração com a OpenAI, criadora de modelos como o ChatGPT e o Dall-E 2, um sistema que gera imagens a partir de descrições textuais.

De acordo com a Time, entre 2021 e 2022, o número de descrições de emprego no LinkedIn que incluem o termo GPT aumentou em 51%, e algumas não exigem qualquer formação em ciências dos computadores ou tecnologia em geral.

No entanto, Luís Paulo Reis explica que eventualmente a própria inteligência artificial vai substituir os prompt engineers. “Cada vez mais os sistemas de IA vão ser capazes de criar o prompt” para obter a informação desejada e a profissão irá tornar-se obsoleta. No Washington Post, Steinert-Threlkeld, professor na Universidade de Washington, compara-os aos search specialists (algo como "especialistas em pesquisas", em português) que surgiram nos primeiros anos de utilização do Google e que rapidamente se tornaram obsoletos.

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