Pires de Lima felicita o Governo por “mudar de opinião” e privatizar a TAP

O antigo ministro de Passos Coelho diz que “não é fácil ao PS dar lições de ética a Pedro Passos Coelho” ou a membros do seu executivo.

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António Pires de Lima foi o ministro sob cuja tutela a TAP foi privatizada LUSA/MIGUEL A. LOPES
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António Pires de Lima, ministro da Economia entre 2013 e 2015, deus os parabéns ao Governo por privatizar a TAP e afirmou-se "optimista" quanto a esta decisão. Observou, também, que "sem a intervenção do Estado a TAP não teria sido salva".

"Não há maior sinal de inteligência do que mudar de opinião. Só posso dar parabéns ao Governo por privatizar a TAP já no segundo semestre de 2023", começou por dizer. "As circunstâncias da privatização são muito diferentes de 2015. A TAP agora tem capital em abundância. Os contribuintes foram chamados a injectar na empresa 3,2 mil milhões de euros", completou o antigo ministro, que está esta quarta-feira a ser ouvido na comissão de inquérito à gestão da TAP (CPI).

Em resposta ao deputado do PSD Paulo Rios de Oliveira, o ministro sob cuja tutela o consórcio Atlantic Gateway — de David Neeleman e Humberto Pedrosa —​​ ​venceu a privatização da TAP em 2015 disse-se "optimista" e elogiou os resultados da companhia aérea em 2022.​

"Por tudo isto estou optimista. A privatização pode correr bem: voltara a colocar a TAP numa estrutura accionista que conhece o sector, que pode desenvolver o hub de Lisboa e a marca", disse.

"A TAP, do ponto de vista económico e financeiro, é completamente diferente de 2015. Os governantes actuais não gostam dos aviões, mas a empresa tem valor diferente com os 53 aviões que foram comprados e com todas as rotas e slots que foram conquistados. A empresa apresentou resultados em 2022 que foram muito positivos", acrescentou.

Referiu, ainda, que "sem a intervenção do Estado" durante a pandemia a "TAP não teria sido salva". "A pandemia justificou uma acção na TAP para a salvar", acrescentou. Tal resposta levou Rios de Oliveira a questionar se isso não é "o inverso da filosofia” que o seu Governo “teve em relação aos privados", arrancando gargalhadas ao deputado Filipe Melo (Chega) e desestabilizando suficientemente a sala ao ponto de Lacerda Sales, presidente da CPI, ter de intervir.

"Não é fácil ao PS dar lições de ética"

Após uma discussão hermenêutica entre o deputado Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, e Pires de Lima — debatiam se Neeleman seria "hábil" ou "habilidoso" —, chegou a vez de o deputado do PS Hugo Costa colocar as suas questões ao antigo dirigente do CDS-PP.

O deputado socialista começou por questionar o antigo ministro sobre como era gerido o dossier da TAP dentro do seu ministério. E Pires de Lima esclareceu: "Era acompanhada de forma directa por Sérgio Monteiro [secretário de Estado das Infra-Estruturas, Transportes e Comunicações do Governo de Passos Coelho], mas isso não significa que, sendo acompanhado por um secretário de Estado, não era da minha tutela", disse, deixando uma farpa a quem se escusa de responsabilidades sobre membros do seu gabinete.

"Tinha reuniões com Sérgio Monteiro todas a semanas. [Acompanhei] o tema da TAP de forma mais próxima quando o Governo decidiu reiniciar o processo de privatização. Isso resultou de uma conversa que tive com Pedro Passos Coelho em Outubro de 2014, dando-se sequência ao processo", acrescentou.

E sobre a situação financeira da TAP em 2013, explicou: "Tinha situação de empréstimos na casa dos 600 milhões de euros, resultados líquidos negativos e capitais próprios negativos próximos dos 600 milhões de euros. (...) No final de 2015, graças à privatização, ficou numa situação melhor".

Posteriormente, ainda em resposta a Hugo Costa, Pires de Lima afirmou que, "depois de tudo a que assistimos nos últimos anos, não é fácil ao PS dar lições de ética a Pedro Passos Coelho e a membros do Governo de Passos Coelho". Hugo Costa surpreendeu-se com a afirmação, afirmando que a tomou como uma "provocação" e que a iria ignorar.

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