Cartas ao director

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O PCP aburguesou-se?

Nos últimos meses, o país tem estado a “ferro e fogo”, com greves constantes e intermináveis. Dito assim, até parece que é verdade. Mas se olharmos para a floresta, vemos que as greves e contestações só se verificam em empresas públicas ou serviços controlados pelo Estado. Em Portugal, 85% dos trabalhadores trabalham em empresas privadas e só 15% trabalham para o Estado. De acordo com os últimos dados disponibilizados pelo INE, os salários na função pública são, em média, bastantes mais altos que no privado, cerca de 52%. Acresce a segurança no emprego público e a precariedade no sector privado. O PCP controla a rua desde o 25 de Abril. Com o passar dos anos, foi desistindo de 85% dos trabalhadores, os mais pobres e precários, para se concentrar na função pública, onde tudo é mais fácil, as greves não levam a empresa à falência e, mais cedo ou mais tarde, acabam sempre por levar a sua avante. Dizer, hoje, que o PCP é um partido dos trabalhadores, é uma falácia. É, antes, um partido dos trabalhadores do Estado.

J. Sequeira, Lisboa

Cinquenta anos do 25 de Abril

O primeiro-ministro anunciou em Angola que “o Presidente Marcelo vai convidar todos os chefes de Estado africanos de expressão portuguesa para estarem presentes nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril”. Fiquei boquiaberto e estupefacto. Então numa data tão especial como aquela em que vamos celebrar os 50 anos da liberdade e da democracia no nosso país, convidamos para estarem presentes nas comemorações os ditadores de Angola (João Lourenço), Moçambique (Filipe Nyusi) e Guiné-Bissau (Sissoko Embaló) que governam esses países autocraticamente, com as piores práticas democráticas, violações dos direitos humanos, restrições à liberdade de imprensa e de manifestação, com detenções de manifestantes pacíficos, e sem o mínimo respeito pela democracia e pelos princípios basilares do Estado de direito?

Nem a propósito, em entrevista no PUBLICO de segunda-feira, Nelito Ekuikui, dirigente da UNITA, afirmava: “O que os angolanos esperam de Portugal é que Portugal não feche os olhos aos problemas que Angola atravessa, de âmbito político, económico e social. Dito de outra forma, é importante que Portugal continue a manter relações privilegiadas com Angola, mas sem fechar os olhos às violações constantes dos direitos humanos, dos direitos políticos e aos atropelos dos valores democráticos.”

Enfim, para as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, e pelo respeito à liberdade e democracia, diria que apenas o Presidente de Cabo Verde – o único país dos PALOP que é exemplo no respeito pelas liberdades e na consolidação da democracia – merecia ser convidado e estar presente.

Carlos Antunes, Parede

Afinal, Marx tinha absoluta razão

Os tempos mudam, mas a história repete-se. As descobertas enunciadas por Karl Marx sobre o funcionamento do capitalismo são hoje de uma enorme importância e actualidade. Ou seja, da riqueza do valor produzido pelo trabalhador, uma parte destina-se ao pagamento da mercadoria “força de trabalho”, designando-se por salário, a outra parte reverte para o lucro. Esta tem sido a essência das lutas travadas ao longo de várias décadas. Quem luta por melhores salários e aqueles que procuram extrair o máximo de lucros à custa da desvalorização dos criadores dessa riqueza.

As conclusões de Marx determinavam que uma subida geral nas taxas dos salários resultaria numa queda da taxa geral de lucro, mas não afectaria os preços das mercadorias. Que a tendência geral da produção capitalista não é para elevar, mas para afundar o nível médio dos salários. Isto explica a causa principal da inflação que reside na redução da oferta, causada por dificuldades no aparelho produtivo, como a falta de investimento pelos capitalistas, a deslocação do capital para operações especulativas mais rentáveis ou mesmo outras perturbações extraordinárias nos aparelhos produtivo e de distribuição das mercadorias. Marx explicou o desenvolvimento do capitalismo e a suprema e flagrante importância de o superar. A razão pertencia-lhe.

Alfredo Fernandes, Rio Tinto

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