Nunca a água do oceano esteve tão quente no mês de Maio, desde que há registos

Dados do programa europeu Copérnico confirmam que há sinais de se estar a formar o padrão climático El Niño, que tem efeitos em todo o globo.

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A temperatura média em todos os oceanos que não têm gelo em Maio foi mais alta do em qualquer outro mês de Maio no passado Paulo Pimenta
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A temperatura média à superfície em todas as zonas sem gelo dos oceanos em Maio de 2023 foi a mais alta desde que há registo, cerca de 19,7 graus. Este foi ainda o segundo mês de Maio mais quente desde que se fazem registos – ficou aquém do recorde apenas por 0,1 grau Celsius, segundo um boletim do Serviço de Alterações Climáticas do Copérnico, o programa de observação da Terra da União Europeia, divulgado nesta quarta-feira.

O mais significativo, até agora, é a anomalia de temperatura dos oceanos. A temperatura do ar marinho está também um grau Celsius acima da média de Maio para o período de 1979 a 2023, diz o comunicado.

Em Abril, a temperatura média à superfície do oceano tinha atingido um novo recorde a nível mundial: 21,1 graus Celsius, segundo os dados preliminares da Administração Atmosférica e Oceânica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês).

Há sinais de que se está a formar o fenómeno El Niño no oceano Pacífico tropical. Trata-se de um padrão climático que afecta todo o planeta, mas que se caracteriza por um aquecimento fora do normal das águas de superfície do Oriente do oceano Pacífico.

Durante o El Niño, os ventos Alísios – ventos predominantes permanentes que sopram de Leste para Oeste na região equatorial da Terra – abrandam e a água mais quente do Pacífico é empurrada para a costa do continente americano. É expectável que este fenómeno climático tenha efeitos em todo o globo, causando mais chuva nuns locais e seca e calor noutros.

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“O mês de Maio de 2023 foi o segundo mais quente em termos globais, e estamos a ver o sinal de formação do El Niño a formar-se no Pacífico equatorial”, disse Samantha Burgess, vice-directora do Serviço de Alterações climáticas do Copérnico, citada no comunicado. “As temperaturas no oceano já estão a atingir níveis recorde e os nossos dados indicam que a temperatura média sobre todos os oceanos que não têm gelo em Maio foi mais alta do em qualquer outro mês de Maio no passado”, completou Burgess.

Europa com seca e chuva a mais

No entanto, as temperaturas médias do ar na maior parte da Europa durante esta Primavera (período de Março a Maio) não se afastaram muito dos valores normais. Registaram-se, porém, condições de seca na Península Ibérica e na maior parte da Europa de Leste, diz o comunicado do Copérnico. Em compensação, choveu mais do que a média na Islândia, Irlanda, na maior parte do território do Reino Unido, Itália, e Europa Central e do Sudeste.

Para além da Europa, algumas zonas do Canadá, África e Sudeste Asiático experimentaram ondas de calor. Numa linha que vai da Austrália ao Noroeste da Índia e ao Sul da Sibéria, as temperaturas foram até mais baixas do que o habitual.

Esta Primavera foi mais chuvosa no Oeste e Sudeste dos Estados Unidos, algumas zonas do Corno de África, na Península Arábica, algumas regiões da Ásia Central, Norte da Austrália e no Ocidente da África do Sul. No resto da América do Norte, na maior parte da América do Sul e em quase todo o território da África do Sul houve seca.

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O gelo no mar da Antárctida está a chegar a valores cada vez mais baixos, em relação aos valores medidos desde a época dos satélites. Nos últimos três anos, a tendência decrescente tem sido contínua. Os dados do Copérnico indicam que está 17% abaixo da média para Maio no período entre 1991 e 2020, usado como referência.

Os locais do oceano Antárctico onde as concentrações de gelo são menores são os mares de Weddell e Bellingshausen e no Norte do Mar de Ross. No Mar de Amundsen, continua a haver mais gelo do que a média.

Os gelos do Pólo Sul, juntamente com a Gronelândia, são os que mais contribuem para a subida do nível dos mares – a nível global, durante o ultimo século já subiram cerca de 20 centímetros. Observações feitas por satélite mostram ainda que os gelos da Gronelândia perderam massa a uma taxa de 286 gigatoneladas (Gt) por ano entre 2010 e 2018, enquanto os da Antárctida perderam 252 Gt por ano entre 2009 e 2017.

No Árctico, nesta altura, a cobertura de gelo está perto da média, e muito semelhante aos valores registados em Maio de 2022. As principais anomalias registadas foram concentrações acima do normal no Mar da Gronelândia e abaixo da média no Mar de Barents, diz o comunicado.