O CO2 atmosférico já é actualmente 50% superior ao nível pré-industrial

A Administração Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos (NOOA) confirmou esta semana que a concentração de CO2 na atmosfera continua a aumentar e atingiu as 424 ppm (partes por milhão).

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O CO2 no Observatório da Linha de Base Atmosférica de Mauna Loa atingiu 424 partes por milhão (ppm) em Maio Jose Antonio Bernat Bacete/GettyImages

Os níveis de dióxido de carbono medidos no topo de um vulcão havaiano prolongaram o seu aumento recorde em 2023, atingindo um nível mais de 50% superior ao do início da era industrial, informaram cientistas norte-americanos esta segunda-feira.

O CO2 no Observatório da Linha de Base Atmosférica de Mauna Loa atingiu 424 partes por milhão (ppm) em Maio, mais 3 ppm do que no ano anterior e continuando uma subida para um intervalo de uma era de há milhões de anos, disseram a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA e o Instituto Scripps de Oceanografia. Em termos simples, isto quer dizer que para cada milhão de moléculas de diferentes gases na atmosfera 424 eram de CO2.

A medição média da NOAA foi de 424,0 ppm. O Scripps, que mantém um registo independente, apresentou uma média em Maio de 423,78 ppm, também um aumento de 3,0 ppm em relação ao ano anterior. As medições são efectuadas em Maio porque é o mês em que o CO2 atinge o seu máximo no Hemisfério Norte.

O que é a Curva de Keeling?

Há milhares de dados e estatísticas sobre o passado, presente e um futuro que vai desde a possibilidade de sobrevivência à catástrofe. Um dos pilares da investigação sobre as alterações climáticas é formado por dados de um instrumento que se encontra no topo do vulcão Mauna Loa, no Havai (a mais de três mil metros de altitude) e que mede, desde o final dos anos 50, a concentração do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. O que vimos é uma assustadora linha ascendente dentada que parece imparável. Chamam-lhe Curva de Keeling e é uma das melhores formas de mostrar o mal que escolhemos viver.

Charles Keeling, geoquímico do Instituto de Investigação Scripps, na Califórnia (EUA), quis medir a quantidade de CO2 na atmosfera e descobriu que existe um ciclo sazonal de concentrações mínimas e máximas que depende das plantas a crescer na Primavera (e a absorver o principal gás com efeito de estufa) e a desaparecer no Outono. O ciclo revela como o planeta inspira e expira, ou seja, respira. As suas medições mostram um aumento de CO2 constante, causado pelo uso de combustíveis fósseis.

Quando foi instalado, em 1958, o valor medido era de 316 partes por milhão (ppm) de CO2. Em termos simples, isto quer dizer que para cada milhão de moléculas de diferentes gases na atmosfera 316 eram de CO2.

 

O posto avançado de Mauna Loa mede o CO2 atmosférico desde 1958, quando o nível era inferior a 320 ppm, e mostra um aumento constante desde então, naquilo a que o administrador da NOAA, Rick Spinrad, chamou "um resultado directo da actividade humana".

A tendência ascendente é conhecida como a Curva de Keeling pela forma como a subida é representada num gráfico e tem o nome de David Keeling, que iniciou as medições para a Scripps em 1958. A NOAA começou a colaborar com a Scripps nas medições em 1974.

O programa da Scripps é actualmente dirigido pelo filho de Keeling, o geoquímico Ralph Keeling. "O que gostaríamos de ver é a curva a estabilizar-se ou mesmo a descer, porque dióxido de carbono tão elevado como 420 ou 425 partes por milhão não é bom", disse Keeling na declaração da NOAA. "Isso mostra que, por mais que tenhamos feito para mitigar e reduzir as emissões, ainda temos um longo caminho a percorrer".

As medições deste ano foram feitas em um local temporário porque os fluxos de lava cortaram o acesso ao observatório Mauna Loa em Novembro de 2022, disse a NOAA.

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