Árctico poderá ficar sem gelo já na próxima década, diz estudo

Estimativa adianta uma década a altura em que Árctico poderá ficar praticamente sem gelo no Verão. Estudo foi publicado na revista Nature Communications.

Foto
A área de gelo no Árctico tem diminuído MB Photography/GettyImages
Ouça este artigo
--:--
--:--

A área de gelo marinho que cobre o Árctico tem vindo a diminuir devido ao aquecimento global causado pelos gases com efeito de estufa emitidos pela actividade humana. Uma das perguntas que os cientistas foram tentando responder ao longo dos anos era sobre quando é que esta tendência decrescente iria resultar num Verão sem gelo no Árctico. Agora, um novo estudo mostra que esse panorama poderá ocorrer já na próxima década.

Estas conclusões mostram uma perspectiva mais cinzenta do que a informação que se encontra no sexto e último relatório publicado pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês). Segundo o relatório do IPCC, antes de 2050 – ou seja, algures na década de 2040 – o mundo iria observar o primeiro Setembro sem gelo no Árctico. É durante aquele mês que, ano após ano, a área de gelo atinge o valor mínimo. Iniciando a partir de então um lento aumento que acompanha os meses sem luz do Pólo Norte, até atingir a área máxima de gelo em Março.

O trabalho de Yeon-Hee Kim, da Universidade de Pohang de Ciência e Tecnologia, na Coreia do Sul, e de mais colegas, usou os modelos citados no relatório do IPCC. No entanto, aqueles modelos não previam o declínio do gelo do Árctico que entretanto foi sendo observado nos últimos anos. Por isso, a equipa internacional fez uma adaptação aos modelos, tendo em conta a diminuição de gelo marinho que foi efectivamente medida.

Assim, os resultados antecipam o Verão sem gelo. “Os declínios mais fortes do gelo marinho do Árctico avançaram as primeiras ocorrências de anos sem gelo [em Setembro] para entre as décadas de 2030 e 2050” em todos os cenários climáticos, escrevem os autores no artigo publicado nesta terça-feira na revista Nature Communications.

Com poucos exemplos é possível ter uma ideia da evolução daquela região. A área mínima de gelo do Árctico em Setembro de 1979 era de cerca de 6,9 milhões de quilómetros quadrados. Mas em 2022, o gelo marinho atingiu um mínimo de cerca de 4,9 milhões de quilómetros quadrados. A nível do Árctico, considera-se que este ficará sem gelo quando a cobertura ficar abaixo de um milhão de quilómetros quadrados, já que é uma situação em que o gelo que resta está muito disperso. O ano em que o Árctico se aproximou mais daquela situação foi em 2022, quando a 17 de Setembro atingiu os 3,387 milhões de quilómetros quadrados.

O artigo agora publicado começou por analisar a evolução da diminuição de gelo entre 1979 e 2019 e comparar esta realidade com o aumento de gases com efeito de estufa na atmosfera. “Os gases com efeito de estufa contribuíram consideravelmente para a diminuição observada da área de gelo marinho do Árctico para todos os meses do calendário”, segundo o artigo.

Foto
As populações de urso-polar ficam mais vulneráveis com a diminuição de gelo no Árctico Darrell Gulin/GettyImages

Depois, adaptando os modelos climáticos à evolução do Árctico, a equipa fez previsões da evolução do gelo marinho até 2100 consoante os vários cenários de emissões de gases com efeito de estufa. Apesar de nos cenários usados poder haver um Verão sem gelo já na próxima década, os efeitos são significativamente mais intensos nos cenários em que as emissões dos gases não forem controladas.

“Há diferenças claras entre cenários, com um Árctico sem gelo de Agosto a Setembro [no segundo cenário] versus de Junho a Outubro [no pior cenário]”, lê-se no artigo. Isto tem implicações na própria dinâmica da crise climática. Quanto menos gelo houver no Pólo Norte, mais luz solar atinge o oceano, aquecendo-o, e menos luz é reflectida pelo gelo. Por outro lado, esta evolução terá consequências nas populações humanas que habitam aquela região e noutros seres vivos como os ursos-polares.

Sugerir correcção
Comentar