Portugal e EUA: tudo bons amigos

Portugal bloqueou as empresas chinesas no 5G e foi dos primeiros países a colocar-se rapidamente ao lado dos EUA. Quando é amigo, Portugal é mesmo um bom amigo.

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Documentos com informação classificada, cabos submarinos, segurança nas telecomunicações. Nos últimos dias, são muitas as notícias que cruzam o secretismo com a segurança do Estado e não se trata do SIS. É aqui também que se encaixa o recente bloqueio de Portugal a empresas chinesas no 5G.

Em 2019, António Costa chegou a garantir num debate quinzenal na Assembleia da República que não “diabolizava o investimento chinês” e que não ia enveredar por “proteccionismos”, respondendo a uma pergunta do PSD, a propósito das primeiras notícias sobre os receios dos EUA perante a entrada da China nos concursos do 5G.

Poucos meses depois, o então ministro das Infra-Estruturas, Pedro Nuno Santos, admitia à Reuters que o Governo português estava absolutamente alinhado com a orientação europeia”, embora não tivesse questões a priori com qualquer fabricante”.

OS EUA fizeram o seu caminho de então para cá. Pressionaram a União Europeia, produziram documentos a alertar para os riscos de segurança, conseguiram arregimentar o Reino Unido e a Suécia (país onde nasceu a Ericsson) e, em Março deste ano, Ursula von der Leyen apelou a uma mudança nas relações comerciais com a China, a que baptizou “de-risking” (redução do risco), em vez de “decoupling” (desvinculação).

Eis que, no final de Maio, quinze dias depois de passar por Lisboa o vice-presidente da República Popular da China, Han Zheng, o Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço aconselhava o Governo português a afastar a tecnologia chinesa 5G e Portugal tornou-se de repente o primeiro país da União Europeia a tomar semelhante decisão.

O facto de a China ser o quinto maior investidor directo estrangeiro em Portugal e de controlar uma das empresas estratégicas em termos de segurança para o país, a REN, não demoveu o governo português. A António Costa não ouvimos ainda uma palavra sobre o assunto. O único responsável político que se pronunciou foi o ministro da Economia, António Costa Silva, em entrevista ao PÚBLICO-Renascença. O ministro chamou-lhe “uma posição precaucionária”, uma vez que há “várias nuances” no tipo de ameaça que advém dessa presença chinesa nos serviços de telecomunicações.

Pelos vistos, também há várias nuances entre os responsáveis políticos, mas o certo é que Portugal foi dos primeiros países a colocar-se rapidamente ao lado dos EUA. Quando é amigo, Portugal é mesmo um bom amigo. O Presidente Bush-filho, que teve como anfitrião Durão Barroso na Cimeira das Lajes, que o diga.

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