O activismo que (de facto) funciona

Vandalismo e disrupção são a palavra de ordem do momento de grupos activistas, faltam os activistas que queiram participar dentro das instituições democráticas e fazer o activismo que funciona.

Foto
Megafone P3: O activismo que (de facto) funciona EPA/JUST STOP OIL HANDOUT
Ouça este artigo
--:--
--:--

Na passada terça-feira entrou em vigor, em França, a proibição da realização de voos de curta distância quando existe uma alternativa ferroviária com duração inferior a 2h30. Enquanto testemunhamos, cada vez mais, a vandalização de monumentos históricos, danos em pinturas e até bloqueios de camiões com óleo vegetal por parte de grupos activistas, os fóruns onde se pode praticar o verdadeiro activismo, no meio político, pouca atenção obtêm destes grupos.

Esta semana, todos os que se preocupam com a crise ambiental que enfrentamos e pugnam por medidas para um futuro sustentável devem um elogio, e agradecimento até, a Christophe Béchu. E quem é realmente este mais recente “herói” da luta pelo clima? Membro da Extreme Rebel? Voluntário da Greenpeace? Ou apoiante da Climáximo ou da Greve climática? Não, trata-se nada mais nada menos que o ministro francês da Transição Ecológica e Coesão Territorial.

Enquanto na semana anterior activistas protestaram ao bloquear o terminal de Sines e “declararam vitória” no final do mesmo, esta semana, numa daquelas instituições que “não faz o necessário” em França, fez-se algo que, de facto, vai ter um impacto positivo na luta pela neutralidade carbónica e redução de emissões.

Vandalizar património público, invadir propriedade privada e confrontar forças policiais dá excelentes reportagens e posts de Instagram, mas só nos parlamentos, governos e outras instituições governamentais (e não só) democráticas se pode fazer o verdadeiro activismo, aquele que tem efeito prático. É aí, no centro das decisões, que activistas se deveriam organizar.

Mas ao analisar melhor o discurso da maioria de associações deste tipo, conseguimos talvez perceber o porquê desta forma de estar. Tendo a possibilidade de formar grupos de pressão, participar em audiências públicas, influenciar políticas e até eleger representantes comprometidos com a causa, o que assistimos por parte destes colectivos é a escolha de uma abordagem antagonista e de confronto perante governos, empresas e até a sociedade civil por meios moralistas e de culpabilização.

Aderem à doutrina de diabolização do capitalismo e todo o sector privado, ignorando o papel fundamental que a inovação, a cooperação e o incentivo para o desenvolvimento de tecnologias limpas e adopção de práticas ambientalmente responsáveis podem ter no cumprimento das metas climáticas.

Com um currículo destes, e sendo o diálogo construtivo (não isento de debate), a colaboração e a persuasão (sensata), pilares fundamentais do processo democrático e do fomento da participação cívica, não surpreende tanto essa desconexão com o processo político.

Na mais bela das ironias, o que estes grupos mais falham em perceber é que os maiores lesados das suas formas de actuação são, ironicamente, eles mesmos. Através das práticas que protagonizam, mais do que promover e alertar para o combate à crise climática, acabam por fomentar uma má reputação perante a opinião pública de si mesmos e, pior ainda, da causa legítima que defendem.

E assim, havendo um espaço imenso para quem defenda leis e regulamentos ambientais mais rigorosos e a promoção de políticas energéticas e de mobilidade sustentável, continua em falta que os activistas o queiram fazer dentro do processo democrático, onde poderiam garantir que as suas preocupações fossem ouvidas e estabelecer mudanças duradouras. Fazer o activismo que funciona.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários