Detido administrador de insolvência que receberia luvas para vender imóveis a preço de saldo

PJ apreendeu mais de 600 mil euros em dinheiro vivo na casa do septuagenário que geria bens de empresas falidas por indicação dos tribunais. Suspeito não possuía contas bancárias.

Foto
Trabalhadores das empresas falidas entre os lesados pelos crimes Daniel Rocha
Ouça este artigo
00:00
03:02

A Polícia Judiciária anunciou (PJ) esta sexta-feira a detenção de quatro pessoas, entre elas um administrador de insolvência e dois empresários, suspeitos de recorrerem a diversos esquemas para ganharem largas dezenas de milhares de euros em prejuízo dos credores de empresas falidas, nomeadamente trabalhadores que ficaram sem emprego.

A operação, que envolveu cerca de uma dezena de buscas que visaram residências e empresas, ocorreu esta quinta-feira, tendo os inspectores apreendido mais de 600 mil euros em dinheiro vivo em casa do administrador de insolvência, na zona de Amarante. Uma grande parte do dinheiro estava guardada em caixas de plástico.

O responsável pela venda de bens de empresas falidas é um septuagenário com residência oficial no Funchal, que se deslocava habitualmente entre o Norte do país e a Madeira.

Estranho é que, apesar de ser nomeado por juízes dos tribunais do comércio que lhe entregavam a responsabilidade de gerir bens de terceiros, o septuagenário não possuía sequer uma conta bancária em seu nome. Fugia ainda aos impostos resultantes da actividade lícita que mantinha, tendo acumulado dívidas que totalizam umas centenas de milhares de euros.

A Judiciária reuniu indícios de crimes de corrupção, participação económica em negócio, branqueamento de capitais e fraude fiscal em cerca de uma dezena de processos de insolvência, todos geridos pelo mesmo administrador.

O suspeito receberia luvas para vender imóveis das massas falidas e outros bens a preço de saldo, prejudicando quem tinha créditos a receber da massa falida e o próprio falido.

Mas este era apenas um dos esquemas utilizados. Outros passariam por preparar toda a insolvência com o empresário prestes a falir, ocultando a existência de determinado património ou vendendo-o a preços de saldo a pessoas próximas do insolvente.

Noutras situações, o administrador recorreria a pessoas da sua confiança que adquiririam os bens a preços muito baixos, revendendo-os logo a seguir por preços muito mais elevados.

“A investigação incide sobre a actuação concertada dos arguidos, no âmbito da adjudicação e venda de imóveis e equipamentos incorporados nas massas falidas, com o propósito de, mediante utilização abusiva dos poderes concedidos ao administrador de insolvência dessas massas, serem retiradas vantagens para si ou para terceiros, em prejuízo dos interesses de devedores e credores”, descreve a PJ numa nota.

O inquérito, que é dirigido pelo Departamento de Investigação e Acção Penal Regional do Porto, foi aberto em 2020 e resultou de uma denúncia anónima.

Na operação estiveram envolvidos cerca de 50 investigadores e peritos financeiros da Directoria do Norte e do Departamento de Investigação Criminal da Madeira, bem como peritos informáticos de várias estruturas da Polícia Judiciária, e ainda elementos da Autoridade Tributária.

Além do dinheiro foi apreendida documentação diversa, material informático e três armas de fogo que estavam na posse do administrador de insolvência.

Os quatro detidos, três homens e uma mulher, vão ser presentes esta sexta-feira à tarde no Tribunal de Instrução Criminal do Porto para primeiro interrogatório judicial e aplicação das respectivas medidas de coacção. Seria em contas bancárias da suspeita que entravam as remunerações do administrador de insolvência e seria também em nome dela que estaria o património acumulado por este, que nada tinha em seu nome.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários