Os benefícios e desafios da Condução Autónoma
Ainda temos questões a resolver, em termos de implicações éticas e legais da condução autónoma. A cibersegurança é um desafio crítico.
A introdução dos veículos autónomos permitirá ganhos significativos de segurança rodoviária, eficiência energética e de mobilidade, principalmente em ambientes urbanos, com um grande potencial de impacto societal.
Sendo Portugal um país com uma elevada taxa de sinistralidade rodoviária, especialmente nas malhas urbanas, e muitas das vezes envolvendo peões, a introdução de carros autónomos terá um profundo impacto socioeconómico com a redução significativa dos acidentes graves. Se juntarmos a isto, o potencial para melhorar a gestão da mobilidade urbana, onde os municípios terão acesso a mapas em tempo real das deslocações dos seus munícipes, teremos que estes poderão fazer previsões, com o auxílio de técnicas de aprendizagem máquina, para optimizarem a sua oferta de transportes públicos autónomos nos trajectos e horários mais procurados.
Como consequência teremos uma redução dos gastos energéticos com a mobilidade, traduzidos em ganhos económicos e ambientais. Por último, do ponto de vista social, poderemos aumentar a independência de cidadãos seniores ou com mobilidade reduzida através de transporte personalizado, permitindo que exerçam o seu direito a uma vida activa.
Contudo ainda temos desafios significativos, alguns menos falados, a superar, até conseguirmos alcançar os níveis mais altos de autonomia, incluindo as implicações éticas e legais da condução autónoma. Imaginemos cenários em que, por força maior, como catástrofes naturais com impacto irreparável e imediato na circulação rodoviária, um veículo autónomo poderá ter de decidir a acção menos danosa a tomar. Nos casos mais graves, isto implicará decidir entre acções que poderão ter custos em vidas humanas e animais. Por isso, é imperativo começarmos a abrir a discussão à sociedade, de forma a estabelecer os consensos necessários para criarmos as directrizes éticas fundamentais para regularem os algoritmos de condução autónoma, principalmente os que fazem uso de aprendizagem máquina.
A cibersegurança é o último desafio crítico por resolver. Como este tipo de infra-estrutura tem um valor imensurável para agentes maliciosos, que podem no melhor caso tentar tirar proveitos financeiros através de actos ilegais, como optimização de rotas para um subconjunto de veículos em detrimento de terceiros no sector logístico, ou espiando para estabelecer perfis que podem ser usados para dirigir publicidade, ou, mais grave, tentativas de extorsão através de chantagem com dados de geolocalização. Contudo, no pior dos casos, estes agentes podem usar estes veículos como armas e perpetrar ataques terroristas em escala, através da orquestração coordenada de frotas, fazendo replicar técnicas bem conhecidas de ciberataques no mundo físico.
Perante o futuro impacto desta tecnologia, é necessário que os diversos actores, desde governo, empresas, academia à sociedade em geral, continuem a trabalhar em conjunto, para assegurar que estamos preparados para colher os benefícios e minimizar os riscos associados à introdução inevitável dos veículos autónomos.