Controlar a dermatite atópica: realidade ou utopia?

O presente e futuro do tratamento da dermatite atópica moderada e grave é cada vez mais promissor, mesmos nos casos mais graves.

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Muitos doentes com dermatite atópica desistem do tratamento Ismael Sanchez/Pexels
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A dermatite atópica é uma das doenças imuno-mediada crónicas de pele mais frequentes, afetando até 20% das crianças e 7% dos adultos. Em Portugal, estima-se que existam 440 mil pessoas com doença. Além de física e emocionalmente debilitante, particularmente nas suas formas moderadas e graves, é causa de exclusão e absentismo social, noites mal dormidas, prejuízo do desempenho escolar e profissional e gastos económicos avultados em tratamentos e consultas.

Apesar de todo este impacto negativo, a dermatite atópica continua a ser demasiadas vezes desvalorizada como “só uma doença de pele”, o que em nada ajuda o sofrimento daqueles que dela padecem. Se é verdade que nas formas mais leves os emolientes e a terapêutica tópica anti-inflamatória é habitualmente suficiente, existem muitos doentes com doença moderada grave onde o controlo apenas com tópicos é, efetivamente, uma utopia.

Muitos destes doentes desistiram de procurar ajuda médica. Muitos conformados com a gravidade e imprevisibilidade da doença — “nunca sei como vou acordar amanhã, mas sempre vivi assim e já me habituei”. Outros, tantos, frustrados com os tratamentos até ora disponíveis, baseados em ciclos recorrentes de corticoesteróides orais e/ou imunossupressores não-seletivos, com vários efeitos adversos e melhorias insuficientes e pouco duráveis. Sendo uma doença crónica, continuávamos órfãos de medicamentos eficazes e seguros a curto e, sobretudo, a longo prazo.

Felizmente, esta visão utópica torna-se cada vez mais uma realidade. Apesar de ainda não haver uma cura, assistimos hoje a uma promissora (r)evolução terapêutica na dermatite atópica moderada e grave. Os avanços científicos da última década têm sido amplos e impressionantes, iniciando-se com a aprovação pela Comissão Europeia, em 2017, do primeiro biotecnológico para esta doença. E, só nos últimos três anos, a mesma Comissão aprovou quatro novos fármacos inovadores seletivos: um biotecnológico e três moléculas orais.

Os biotecnológicos, ou biológicos, constituem um grupo de fármacos inovadores que funcionam como um “botão de desligar” seletivo, atenuando apenas as vias imunológicas excessivamente ativas que causam as manifestações da doença, sem afetar as restantes vias imunes que estão saudáveis. Esta seletividade permite um tratamento eficaz da dermatite atópica com um elevado perfil de segurança, desprovido do risco de infeções e de outros efeitos adversos observados com os imunossupressores convencionais menos seletivos.

Histórias como “já não me lembrava do que era tomar banho de água quente!” ou “finalmente posso usar calções sem vergonha!” são testemunhos reais que traduzem o sucesso que hoje é realista alcançar no tratamento de muitos destes casos mais graves.

O presente e futuro do tratamento da dermatite atópica moderada e grave é cada vez mais promissor, mesmos nos casos mais graves. O primeiro passo é procurar ajuda médica especializada.


O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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