Fotogaleria

A Beira Baixa cinematográfica (e irreconhecível) de Henri Prestes

A Beira Baixa, pela lente do fotógrafo guardense Henri Prestes, é uma região estranha. We Were Born Before the Wind propõe uma viagem a um território pleno de beleza, mas "esquecido por muitos".

Do capítulo "Journey", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Fotogaleria
Do capítulo "Journey", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes

Enigmática, evocativa, cinematográfica. A Beira Baixa de Henri Prestes tem algo de familiar, de íntimo, mas, ao mesmo tempo e paradoxalmente, algo de frio, desconhecido. As mais de quatro dezenas de imagens que realizou ao longo dos últimos quatro anos, que compõem o fotolivro We Were Born Before the Wind, poderiam ter sido captadas em qualquer lugar do mundo, não tivesse o fotógrafo nascido e crescido na Guarda.

"Queria mostrar os ambientes nos quais me lembrava de ter passado tempo em criança, e sabia que podia encontrar alguns lugares ímpares que não são muito conhecidos pela maioria das pessoas", contou ao P3, em entrevista. Mas sublinha: "Ao mesmo tempo, não sou um fotógrafo documental, por isso queria apresentar as minhas imagens como se elas pudessem acontecer em qualquer parte do mundo e não numa parte específica." A sua fotografia quer tocar emocionalmente quem a vê, sugerir narrativas, mesmo que se trate de um local estranho, ou melhor, desconhecido para o espectador. 

Henri Prestes é, desde muito jovem, um amante do cinema. Há cerca de oito anos, pouco antes de abandonar a área do vídeo, que exercia ao serviço de empresas e de forma autodidacta, foi aconselhado por "um director de fotografia que admirava" a comprar uma câmara fotográfica para melhorar as suas capacidades de composição e iluminação, competências que considera, hoje, essenciais para trabalhar com imagem. "Algo que era só para ser um instrumento de aprendizagem acabou por se tornar na minha paixão: assim que captei a minha primeira cena em longa exposição, numa noite de névoa densa, soube dentro de mim que nunca mais podia parar."

O seu processo é sempre muito intuitivo, refere. "Não existe uma planificação prévia detalhada, por isso nunca sei exactamente o que vou captar antes de pegar na máquina fotográfica; tenho apenas uma ideia do ambiente e sentimento que quero fixar, o que torna o processo um pouco mais entusiasmante." No terreno, geralmente em longas viagens de carro, procura algo que chame a sua atenção, "seja uma silhueta de alguém a percorrer uma planície coberta de nevoeiro, uma luz acesa de uma casa numa aldeia perdida, um carro isolado a passar à distância durante a noite ou um animal selvagem parado numa estrada abandonada", exemplifica. De dia ou de noite, as condições meteorológicas devem ser favoráveis, "inspiradoras": nevoeiro denso, neve ou chuva. "Normalmente faço viagens de carro por toda a Guarda e por toda a região da Serra da Estrela, mas também já fotografei um pouco na zona de Santarém, onde resido actualmente."

É na pós-produção que Henri, de 34 anos, realmente se diverte. "É certamente a minha parte favorita do processo, onde realmente exploro a minha criatividade e sinto-me o mais próximo de criar um filme com as imagens, empurrando e puxando as cores e a luz, tornando-as mais dramáticas e explorando as narrativas que quero transmitir ao espectador", especifica. Passa muito tempo a experimentar todo o tipo de paletas de cores até se decidir pela que melhor serve a imagem.

Encontra inspiração na Pintura, na Ilustração e no trabalho de outros fotógrafos, como Todd Hido ou Gregory Crewdson. "Todd Hido foi muito influente para mim", assume. "Descobri o seu livro Intimate Distance no início da minha jornada e as suas imagens fizeram-me perceber que podia explorar até os lugares mais mundanos e criar histórias com fotografia." Hido ensinou-lhe que "não precisava de viajar para locais exóticos para encontrar paisagens e cenas comoventes". Em Crewdson, o fotógrafo aprecia "a forma como capta a banalidade da vida e a infunde de inquietação e mistério".

Prestes sente-se fatalmente atraído pelas ideias de melancolia e de isolamento. "É uma das razões pelas quais estou mais fascinado em fotografar em pequenas aldeias, no campo e noutros locais isolados e não nas grandes cidades. Uma grande parte destas imagens foi criada durante a pandemia, por isso sinto que a solidão desses momentos também se manifesta neste trabalho."

Embora nunca tenha tido como prioridade abordar a sua região de uma perspectiva documental, sente que fazia parte da sua motivação "mostrar esta região, que sempre senti ser esquecida por muitos". "Queria mostrar a beleza que existe nestes lugares, pois sinto-me muito inspirado por eles." Mesmo tratando-se de uma zona "relativamente pequena" e que conhece há muitos anos, o fotógrafo garante estar sempre a deparar-se com algo de novo. "Se as minhas fotografias de alguma forma fizerem as pessoas querer visitar esta região eu ficarei muito feliz. Na verdade, já recebi centenas de mensagens de pessoas de todo o mundo com intenção de visitar e saber mais sobre os locais que fotografo e tenho sempre o prazer de lhes dizer [que devem fazê-lo], porque esta região merece mais atenção."

Henri Prestes já expôs o seu trabalho nos Estados Unidos, Reino Unido e Espanha, mas nunca em Portugal. "Estou muito ansioso por ter uma exposição individual em Portugal, por isso espero que isso aconteça ou este ano ou no próximo." Enquanto aguarda, trabalha no próximo livro, que, promete, terá uma temática e uma estética um pouco diferente de We Were Born Before the Wind. "Gostaria também de inspirar outros fotógrafos a explorar realmente o seu ambiente mais próximo. É possível criar arte em todo o lado."

Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind"
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind" ©Henri Prestes
Do capítulo "Journey", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Journey", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Journey", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Journey", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Journey", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Journey", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Land", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Land", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Journey", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Journey", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Land", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Land", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Deep of Night", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes
Do capítulo "Land", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books
Do capítulo "Land", do livro "We Were Born Before the Wind", editado pela Setanta Books ©Henri Prestes