Marcas russas de moda preenchem o vazio deixado pelas concorrentes ocidentais

Retalhistas russos têm controlado as operações de gigantes estrangeiros como a Zara ou a H&M, ao mesmo tempo que emergem marcas mais pequenas de criadores nacionais.

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Na confecção da Closer, uma das marcas russas Reuters/EVGENIA NOVOZHENINA
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A principal loja da Zara, em Moscovo Reuters/MAXIM SHEMETOV
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A fila à porta da H&M em Agosto de 2022, quando a retalhista sueca saiu do país Reuters/MAXIM SHEMETOV

Os designers e as marcas russas estão a ajudar o sector do retalho de moda a recuperar gradualmente, depois de 15 meses turbulentos de encerramento de lojas e de queda da procura. Estes novos projectos têm procurado colmatar a lacuna deixada pelos rivais estrangeiros, ao mesmo tempo que os compradores regressam de forma hesitante.

Centenas de retalhistas estrangeiros encerraram as suas lojas em resposta à invasão da Ucrânia pelas tropas russas, em Fevereiro de 2022, fruto das sanções internacionais. As principais ruas de Moscovo começaram a assemelhar-se a uma cidade fantasma com lojas fechadas e montras cobertas com tábuas — a indústria sofreu um impacto de cerca de 2,5 mil milhões de dólares (aproximadamente 2,34 mil milhões de euros).

A gigante espanhola Inditex, dona de etiquetas como a Zara ou a Massimo Dutti, vendeu grande parte das suas mais de 500 lojas russas a um comprador sediado nos Emirados Árabes Unidos. A maior loja da Zara no centro de Moscovo, que esteve parada durante mais de um ano, reabriu no mês passado com uma nova gerência e um novo nome, MAAG, trazendo de volta o ânimo aos clientes.

"Parece que nada mudou ", celebra Anton, residente em Moscovo, à Reuters, à porta da loja. Já Antonina, outra residente, lembra: "Não encontrei nenhuma diferença para além da variedade de escolha. Actualmente, há menos de tudo".

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A principal loja da Zara em Moscovo REUTERS/Maxim Shemetov

Dinheiro a falar mais alto

As vendas a retalho, um indicador-chave da procura por parte dos consumidores, caíram em 2022, atingidas pela subida da inflação e pela queda dos salários, enquanto o êxodo ocidental contribuiu para grandes perdas na indústria, salienta Oleg Klimov, presidente do Conselho Russo de Centros Comerciais, que se confessou preocupado com questões logísticas e de pagamento, actualmente a demorarem meses para serem resolvidas.

"As pessoas em geral não compreendiam o que se estava a passar", lamenta à Reuters. "Não queriam gastar dinheiro. As perdas foram de cerca de 200 mil milhões de rublos (2,31 mil milhões de euros).” Agora, destaca, "está a recuperar", já que "o dinheiro acaba sempre por mudar de mãos".

O acesso dos russos a produtos ocidentais, como os hambúrgueres da McDonald's e as calças de ganga Levi's — símbolos do tipo de liberdade que o capitalismo podia oferecer quando a União Soviética entrou em colapso — está a diminuir.

A Gloria Jeans, outrora uma revendedora de calças de ganga da Levi's, tomou conta da loja da gigante retalhista sueca H&M, no centro de Moscovo. O facto de o Ocidente ter boicotado a Rússia, juntamente com as proibições de exportação e as sanções punitivas, complica as rotas comerciais, faz notar a empresa.

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Ksenia Zhdanova EVGENIA NOVOZHENINA/Reuters

"O maior problema são as transacções internacionais", culpa Ksenia Zhdanova, criadora de moda que gere a sua própria marca de vestuário KSEW e é directora comercial da Richmill, uma loja online de designers russos. "A nossa indústria é extremamente dependente das importações”, aponta.

Outro problema é a falta de pessoal, declara a empresária, citando a escassez de costureiras e de profissionais do sector têxtil que, na sua opinião, só podia ser resolvida por iniciativas governamentais.

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Os russos desenvolveram soluções com importações em pequena escala e vendedores online que ajudam a manter vivas as marcas estrangeiras, mas algumas coisas continuam a ser difíceis de encontrar.

A cliente Irina Nikulina diz não sentir o impacto da ausência das etiquetas vindas do estrangeiro, excepto quando precisa de algo simples, como uma t-shirt branca a um preço razoável. Já Tatiana Vakhonina confessa que lhe faz falta a cadeia sueca de mobiliário IKEA e da Zara. "Agora, vamos ao Cazaquistão para fazer compras", conta. "Mas há coisas que já não se podem comprar de todo.”


Este texto foi escrito na Rússia, onde as leis restringem a cobertura das operações militares daquele país na Ucrânia.

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