Montenegro causa desconforto no PSD ao admitir perder europeias por “poucochinho”

Secretário-geral do PSD reafirma objectivo de ganhar as europeias de 2024 mas lembra que o resultado de 2019 “foi muito mau”.

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Luís Montenegro terá eleições internas e congresso após as europeias de 2024 Paulo Pimenta
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Depois de um ano com um discurso em que não se desviou do objectivo da vitória nas europeias de 2024, Luís Montenegro veio baixar as expectativas sobre os resultados dessas eleições, que servem como um teste à sua liderança do PSD, e também como termómetro da situação política aos olhos de Belém. Os sociais-democratas, mesmo os apoiantes da actual liderança, não gostaram do que ouviram na entrevista à RTP1 na segunda-feira à noite.

Depois de questionado sobre qual a consequência que tira de uma eventual derrota eleitoral em Junho do próximo ano, Luís Montenegro admitiu não vir a conseguir obter uma maior votação. "O PSD perdeu as últimas eleições europeias [em 2019] por 12 pontos. Se o PSD ficar a dois ou três pontos acha que é um mau resultado? Eu não acho", respondeu.

O líder social-democrata afastou o cenário de uma demissão automática em caso de fracasso eleitoral. “Não vou dizer-lhe que o insucesso eleitoral das europeias conduz necessariamente à minha cessação de funções. Com certeza que não. Nós vamos avaliar", prometeu, depois de ter reiterado que quer “ganhar” as europeias.

As declarações do líder do PSD surpreenderam o partido pela negativa. “É inacreditável que Luís Montenegro, a um ano de distância, já admite perder por poucochinho”, afirmou ao PÚBLICO um antigo dirigente social-democrata apoiante da liderança de Rui Rio. “Se houver derrota do PSD, o Presidente da República não tem coragem para dissolver o Parlamento”, lembrou a mesma fonte.

Outro social-democrata registou que Montenegro fez “um recuo brutal” sobre as europeias, o que indicia que “está com receio de que uma derrota o possa fazer cair” e que "não quer correr riscos".

A linha oficial do PSD contraria a tese de que há um arrefecimento das expectativas. “O presidente do PSD já disse várias vezes e reafirmou esta semana: temos a ambição de vencer as eleições, vamos lutar por isso, mas sabemos que o ponto de partida, isto é, o último resultado eleitoral, foi manifestamente mau”, afirmou ao PÚBLICO o secretário-geral Hugo Soares, referindo-se aos 21,94% obtidos em 2019.

O momento das eleições para o Parlamento Europeu coincide com o fim do primeiro mandato de Luís Montenegro na liderança do PSD. Após o acto eleitoral de 9 de Junho, o PSD tem eleições internas e congresso marcado, o que torna as europeias cruciais para a actual direcção.

Quando se candidatou à liderança do PSD, Montenegro projectou-se já como candidato a primeiro-ministro às legislativas, que serão em 2026, se o calendário for cumprido, mas antes terá de passar no teste interno.

A actual direcção iniciou o mandato com elevada expectativa sobre as europeias de 2024, apostando na capitalização do desgaste do Governo socialista. A moção de estratégia global de Montenegro era inequívoca sobre a meta eleitoral: “Nas eleições europeias de 2024, o objectivo eleitoral do PSD é ser o partido mais votado e consequentemente fazer crescer a nossa representação no Parlamento Europeu.”

Ainda há dois meses, o líder do PSD mantinha o mesmo discurso. “O primeiro objectivo: queremos ter mais votos do que qualquer outro partido e, em função disso, queremos reforçar a nossa representação no Parlamento Europeu”, disse Montenegro aos jornalistas a 28 de Março, depois de um périplo por vários países europeus no âmbito da iniciativa Sentir Portugal.

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