Cancro que nos inquieta e nos desafia

O cancro é um desafio contínuo para a ciência. Embora tenham sido feitos avanços significativos no diagnóstico, tratamento e prevenção, ainda há muito para ser descoberto.

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Em Portugal estão delineados estudos-piloto para os rastreios do cancro do pulmão, do estômago e da próstata Daniel Rocha/arquivo
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As doenças oncológicas continuam a aumentar a nível mundial. De acordo com a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro, estima-se que em 2020 tenham ocorrido cerca de 19,3 milhões de novos casos em todo o mundo. Na União Europeia, em 2020, foi diagnosticado um cancro em 2,7 milhões de pessoas e 1,3 milhões não sobreviveram à doença. Os dados do Registo Oncológico Nacional, referentes a 2018, revelaram 50.151 novos casos de diagnósticos em Portugal, incluindo mais de dois mil jovens.

Estes números são de tal modo preocupantes que a União Europeia delineou o Plano Europeu de Luta Contra o Cancro para ser aplicado nos diferentes estados-membros, para ajudar a concretizar alguns dos desafios associados ao cancro nas áreas da prevenção, do diagnóstico precoce e rastreio, na otimização terapêutica e no suporte aos sobreviventes do cancro.

Em Portugal delineou-se uma estratégia nacional que tenta adaptar as diretivas europeias às necessidades do país, para se conseguir aumentar a qualidade dos cuidados de saúde prestados, promover o acesso ao diagnóstico e tratamento, a investigação e a melhoria da qualidade de vida.

É essencial que se compreendam as causas e os mecanismos de desenvolvimento do cancro para uma prevenção e tratamentos eficazes. A referir que a deteção precoce é fundamental para aumentar a probabilidade de sobrevivência dos doentes e que o desenvolvimento de métodos de rastreio e diagnóstico precisos são desafios constantes para a ciência.

Em Portugal já existem rastreios de base populacional nos cancros da mama, do colo do útero e do cólon e reto. Estão ainda a ser delineados estudos-piloto para os rastreios do cancro do pulmão, do estômago e da próstata. Na CUF já existe um programa de deteção precoce de cancro do pulmão para fumadores ao qual as pessoas podem recorrer de forma autónoma.

Cada tipo de cancro e cada doente são únicos, o que requer não só abordagens de vigilância ajustadas, como abordagens de tratamento personalizadas. Embora a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia sejam amplamente utilizadas, há novas terapêuticas que estão a emergir, como a imunoterapia e a terapêutica genética. No entanto, identificar as melhores opções de tratamento para cada caso continua a ser um desafio complexo, sendo fundamental que existam equipas multidisciplinares para a tomada de decisão.

Finalmente, o cancro tem a capacidade de desenvolver resistência aos tratamentos disponíveis. Superar a resistência ao tratamento é uma das áreas de investigação em desenvolvimento e também um grande desafio na oncologia. A ciência tem efetuado progressos significativos na compreensão e no tratamento do cancro - e, em Portugal, já existem diversos centros de investigação, em hospitais públicos e privados. Alguns doentes oncológicos que fizeram terapêuticas inovadoras no âmbito de ensaios clínicos, aumentaram a sobrevivência e contribuíram para o avanço da ciência.

Os avanços na biologia molecular, na genética, na bioinformática e na inteligência artificial estão a proporcionar novas oportunidades de investigação e a permitir o desenvolvimento de terapêuticas mais eficazes. De facto, a medicina de precisão, com informações genéticas e moleculares para personalizar o tratamento, está a emergir como uma abordagem promissora nos centros portugueses em algumas áreas da oncologia, como por exemplo, no tratamento do cancro do pulmão.

O investimento contínuo em investigação científica e a colaboração entre cientistas, médicos e profissionais de saúde são essenciais para enfrentar esse desafio e melhorar os resultados para os doentes com cancro em Portugal e no mundo.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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