Cartas ao director

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Malabarismo económico

Há largas semanas, numa entrevista a uma estação televisiva, no Jornal da Noite, o responsável pela pasta das Finanças deste governo respondeu ao jornalista que o questionou sobre o estado da economia, e a melhoria da vida dos portugueses, que só pode tomar decisões quando tem a certeza de que posteriormente não terá de dar um passo atrás, num discurso bonito, mas pouco convincente.

Mais recentemente, o Presidente da República chamou a atenção para o facto de os números da economia não se estarem a reflectir na vida dos portugueses, o que é o reconhecimento implícito de que, em termos de redução dos números da pobreza, os nossos governantes poderiam já ter feito mais.

Há uns dias, um comissário europeu de visita a Lisboa afirmou que em Portugal existe margem para aumentar salários, numa alusão também aos números positivos da economia, cuja margem pode ser fictícia se atendermos a que esses números poderão ser o resultado da inexistência da execução orçamental, que escondem cativações e consequente falta de investimento, o que por sua vez transmite ao país a ideia de contas certas, quando as mesmas resultam numa justiça, educação e saúde incertas.

Américo Lourenço, Sines

Discutam o país, por favor

Embora aqui ou ali possam ter alguma razão relativa, não concordo com algumas das atitudes quer do Presidente da República quer de António Costa, para já não falar dos ateadores de fogueiras sempre atentos e dispostos a causar o caos. O que é necessário é que os políticos discutam o futuro do país real, considerando factores como a seca previsível e a construção da denominada auto-estrada da água, o povoamento do interior, a renovação do SNS, a falta de professores e de outros profissionais, já existente e que se agravará a curtíssimo prazo, e tantos outros como a dessalinização. Não podemos continuar a adiar o futuro por medo de olhar as coisas de frente. É preciso estudar, analisar e resolver os problemas. Não podemos continuar a ter casos como o aeroporto de Lisboa em que, passados 50 anos, nada está decidido. Portugal não pode continuar a ser um país adiado e, neste caso, o PS tem uma grande responsabilidade actual e com a maioria absoluta que possui tem de demonstrar que, para além das "cenas tristes" que tem feito, também é capaz de projectar Portugal para um futuro tranquilo e menos dependente do turismo. Portugal não pode continuar a deixar fugir os mais capazes porque não lhes consegue oferecer uma vida com futuro.

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

A TAP da nossa perplexidade

A carta/abaixo-assinado que saiu terça-feira no PÚBLICO sobre a TAP ilustra como o debate nacional sobre estratégias e prioridades está deficiente. Todos os que dizem mal dos 3200 milhões injectados para salvar a TAP na verdade devem ter andado distraídos a acreditar nos argumentos expostos nessa carta. A começar porque os privados não tinham capacidade financeira para ter tomado a TAP privatizada na 25.ª hora do Governo nado-morto de Passos Coelho. E por aí fora, nomeadamente os lucros para a nossa economia que a TAP proporciona todos os dias. O certo é que, no espaço mediático, este ponto de vista é secado pelo barulho dos comentadores anti-TAP e que seguem os ditos soundbites e de certas manchetes dos jornais. Não há Democracia sem debate de mínima qualidade. A CPI da TAP ilustra o problema: primeiro, não foi feita à porta fechada como seria útil, para saírem as conclusões robustas, mas embrenharam-se num degradante interrogatório de tipo policial "do antigamente", com alguns deputados a revelar baixos instintos de quase prepotência verbal em vez da elevação que lhes é devida. Depois, porque salta à vista que o desvio do debate sobre os acontecimentos deploráveis no ministério está "aumentado" para que os dois partidos novos tenham tempo de antena para facturar, pois a evidência insofismável, acredito, é que, se houve erros do Governo, não houve dolo e não se justifica a sobredramatização a não ser para protagonismo dos partidos.

Assim, a perplexidade sobre todo este ruído continua a prejudicar a análise tendencialmente certeira da melhor saída para a TAP. De novo, os deputados não mostram apetite para debater os pontos de substância, como se viu na irrelevância ou banalização que consagraram aos depoimentos de Miguel Frasquilho e Lacerda Machado, pessoas capazes de deslindar o novelo intrigante do contributo da TAP para a economia nacional.

José Elias de Freitas, Lisboa

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