Range Rover Sport na serra, na estrada ou na lama, mas com luxo

Nova geração do topo de gama da Land Rover eleva a fasquia do conforto e do requinte. Até dá pena levá-lo para fora de estrada, mas com tanta ajuda à condução, este torna-se também o seu habitat.

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Levar o RR Sport para fora de estrada é uma experiência interessante pela dualidade de sentimentos DR
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Não há como começar por outro lado. Conforto, espaço, tecnologia, elegância, luxo — na nova vida do Range Rover Sport não falta nada e é, como o modelo nos habituou desde sempre, tudo em grande. Sim, no preço também (desfaçam-se já ilusões). Este novo Range Rover Sport First Edition é um digno continuador da herança do topo de gama do construtor britânico.

Vamos por partes. Visto de fora, o Range parece um colosso devido às suas dimensões, o porte imponente com um ar futurista, uma imagem desportiva q.b. e um sentido de presença incontornável. Quando se entra, a primeira sensação é a de luxo e elegância. Que começa com o simples toque da pele dos bancos (neste caso a cor branca só reforça o ambiente requintado) ou do veludo do tecto, continua com o conforto e envolvimento quando nos sentamos (os bancos são verdadeiras poltronas aconchegantes), com a excelente insonorização que nos alheia do mundo lá fora, e remata com a imagem tecnológica, ergonómica e clean do tablier.

A qualidade dos materiais e da montagem é excelente. Há diversos (e grandes) espaços de arrumação (como na consola central), mimos como as fivelas dos cintos iluminadas, a luz exterior de cortesia que projecta as linhas do carro no chão, puxadores de porta retrácteis, head-up display (com velocidade, rotações, sinais de trânsito, informação musical, previsão do tempo), purificação de ar (516 euros), rede wifi própria (310 euros). E o espaço é simplesmente gigantesco. A marca diz que é culpa da nova plataforma MLA-Flex, que permitiu rearrumar o habitáculo.

As primeiras impressões são sempre as mais fortes. Mesmo antes de carregar no botão que liga o veículo, uma vista de olhos pelo tablier mostra a preocupação com o seu minimalismo arrumado: há um enorme ecrã táctil de 29cm que é o centro de comandos de todo o Range e tem uma definição sem mácula. Aqui concentra-se quase tudo o que faz o carro funcionar — excepto a ignição de botão e a meia dúzia de comandos da consola central. Mas até parte destes são uma duplicação (mais acessível e directa) do que se pode encontrar no ecrã. Como a escolha do tipo e altura da suspensão adaptativa consoante o piso, o uso e o nível de conforto que se pretende. É possível levantar o veículo para o uso em todo-o-terreno, nivelar para estrada e até baixar para facilitar o acesso para entrar e sair.

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Quando se abre a porta, a imagem do carro é projectada no chão DR
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Desfrutar calmamente

Ignição activada e... silêncio. Porque o Range Rover Sport arranca em modo eléctrico caso tenha alguma bateria e esta não esteja reservada. Sim, reservada ou “salvada”: é possível gerir o tipo de alimentação do veículo, reservando o uso da bateria para mais tarde e circular apenas em combustão. Ou escolher circular em híbrido e deixar que seja o sistema a gerir o recurso a cada fonte de energia; ou ainda circular apenas em modo eléctrico. A autonomia é, no máximo, de 112 km, de acordo com a marca.

Avancemos. É possível escolher como queremos conduzir: se em modo automático, controlando as oito mudanças nas patilhas do volante em modo normal, ou “apertar” e escolher um modo ainda mais desportivo. Seja qual for a escolha, o conforto não é beliscado porque não há solavancos na passagem de mudança.

Em estrada, o Range suporta bem os mais de 28o0 quilos de todo o conjunto sem uma queixa ou quebra. Um peso que, embalado em auto-estrada, não nos faz querer acelerar muito, mas não é necessário: a suavidade de toda a condução apela mais ao desfrutar calmamente (e “calmamente”, até sem se dar por isso, também se ultrapassam os limites permitidos) do que à saciedade do desejo de velocidade. No entanto, um leve premir do acelerador mostra-nos (e ouve-se) que há muita garra disponível debaixo daquele capot para quem quiser acicatá-la. À medida que se baixa o pé direito sobre o acelerador sente-se bem o efeito da tracção integral: todo o corpo do Range se levanta e estica para sorver a estrada.

Este Range Rover Sport First Edition P510e está equipado com um motor de seis cilindros em linha, turbo, de 3 litros, com uma potência de 400cv, e tem associado um motor eléctrico de 143cv, o que resulta numa potência total combinada de 510cv e num binário máximo de 700 Nm. A bateria de lítio, montada numa posição central, acumula 38,2 kWh, um valor que faz inveja a outros eléctricos puros, e é a chave do sistema híbrido plug-in. Para quem achava que este caminho na electrificação era só para compor a oferta, o anúncio de uma versão exclusivamente eléctrica para o próximo ano vem mostrar que também a Land Rover se rendeu às obrigações ambientais ditadas por Bruxelas.

Voltemos ao volante. A posição elevada permite uma boa visibilidade, mas o condutor tem à sua disposição uma panóplia de ajudas que incluem um misto de câmaras e sensores tão apurados que replicam fielmente no ecrã todo o entorno do veículo. A imagem é tão nítida que vai até à mais pequena erva, mesmo. No ecrã aparece a imagem do exterior dividida em vários ângulos consoante a manobra que se pretenda, como se fosse o ecrã de TV: visto de cima, quando se estaciona; visto de baixo, quando se está fora de estrada para se ver o piso, e sempre com as linhas orientadoras do sentido que se deve seguir. E para os distraídos que insistem em carregar no acelerador quando já se está demasiado perto do pilarete do passeio, o Range activa a sua versão “teimoso” e não se mexe.

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Há mais ajudas: o Range consegue estacionar e sair do lugar sozinho (sem qualquer movimento do condutor), tem assistente de subidas, controlo dinâmico de estabilidade, sistema dinâmico adaptativo, diferencial electrónico activo com vectorização do binário através da travagem; controlos de tracção electrónico, de estabilidade e inclinação, da travagem em curva, controlo de descida de declives, sistema de travagem antibloqueio, entre outros sistemas de segurança.

É um facto que, para quem gosta de veículos grandes e espaçosos e circula na cidade, há quase sempre o reverso da medalha: onde estacionar isto? Com tamanhas dimensões, para evitar asneiras dos mais distraídos, o painel central tem um separador onde se podem consultar as medidas exactas para quando entramos num estacionamento não nos encolhermos (como se isso servisse de alguma coisa) por nos sentirmos a roçar nas vigas do tecto. Fazê-lo com o tecto aberto, então, é assustador.

Houve uma ocasião, num estacionamento em que não consegui sair pela nesga da porta semiaberta porque a panóplia de colunas, insonorização e revestimento faz com que tenha um palmo de espessura. Solução? Obrigar o corpo à agilidade de saltar para o banco de trás e sair pela porta do lado oposto. Por pouco não tive que usar a da bagageira. Já agora, acrescente-se que apesar das largas dimensões (4,94m de comprimento e 2,2m de largura), o ângulo de viragem é de 10,95m, para o que contribui o facto de as rodas traseiras serem capazes de virar no sentido inverso às da frente para ajudar em manobras apertadas.

Pelo off-road

Levar o RR Sport para fora de estrada é uma experiência interessante pela dualidade de sentimentos. O coração e a cabeça disputam as decisões: se, por um lado, sabemos que a tecnologia não nos deixará ficar mal — está lá a caixa de transferência com altas e baixas para situações extremas, todas as opções para escolher o tipo de solo (areia, lama, pedra, pedra solta, erva ou travessia de água, com uma profundidade máxima de 77 cm), a suspensão (e altura) que se pretender e todos os tipos de ajuda —; por outro, é difícil colocar um veículo destes no meio do campo e ouvir o silvo dos arbustos a arranhar a carroçaria. Ou subir uma serra pelo meio de pedras e senti-las a bater na protecção da carroçaria ou ter o coração apertado com os enormes pneus a escalarem as arestas cortantes do calcário, ou ainda procurar um ribeiro para o atravessar e depois ranger os dentes ao decidir se devemos meter o carro por ali adentro. É preciso coragem para levar o luxo à lama.

É demasiado carro e demasiado caro para tais aventuras. Mesmo que seja sempre uma curiosidade ver como vai galgar mais aquela pista sulcada pela chuva do Inverno e que deixou demasiadas pedras à vista. E sim, porta-se sempre bem, com uma força, aderência, destreza e precisão de viragem invejáveis que mostram que apesar de a larga maioria dos seus donos não sair da estrada, o alto de uma serra pode também ser o habitat natural para este Range Rover Sport.

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