Homem que se sentou à secretária de Nancy Pelosi condenado a 54 meses de prisão

Sentenças mais pesadas, que podem chegar aos 20 anos de prisão nos casos de conspiração sediciosa, vão ser anunciadas nos próximos dias.

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Richard Barnett sentou-se à secretária de Nancy Pelosi e deixou no gabinete uma mensagem ofensiva EPA/JIM LO SCALZO
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O norte-americano Richard "Bigo" Barnett, um cidadão do estado do Arcansas que protagonizou uma das imagens mais marcantes da invasão do Capitólio dos Estados Unidos, a 6 de Janeiro de 2021, foi condenado a quatro anos e meio de prisão efectiva.

Barnett, de 63 anos, tornou-se num dos símbolos da invasão ao deixar-se fotografar no gabinete da então líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, sentado na cadeira e com os pés em cima da secretária.

Antes de ter abandonado o gabinete, o apoiante de Donald Trump deixou um bilhete em cima da secretária com uma mensagem ofensiva para Pelosi: "Nancy, sua cabra, o Bigo esteve aqui."

A sentença foi decidida na quarta-feira pelo juiz Christopher Cooper, do tribunal federal para a região de Washington D.C., e foi conhecida um dia antes da libertação, nesta quinta-feira, de uma outra figura de destaque na invasão do Capitólio — Jacob Chansley, "o xamã do QAnon", o homem que entrou no Capitólio de tronco nu e com um barrete de pele e com cornos de bisonte, e que é conhecido por promover teorias da conspiração popularizadas pela extrema-direita norte-americana.

Em Novembro de 2021, Chansley, de 35 anos, foi condenado a 41 meses de prisão por entrada ilegal e conduta desordeira no Capitólio, e também por tentativa de impedir a realização de uma cerimónia oficial — no caso, a contagem dos votos do Colégio Eleitoral, que estava a decorrer na sede do Congresso dos EUA, e que os apoiantes de Trump tentaram travar na esperança de manter o então Presidente norte-americano na Casa Branca apesar da sua derrota na eleição presidencial de Novembro de 2021.

Nos próximos dias vão ser conhecidas algumas das penas mais pesadas nos casos relacionados com a invasão do Capitólio, com a leitura das sentenças de líderes e membros dos Proud Boys e dos Oath Keepers, dois grupos da extrema-direita que lideraram no terreno o ataque contra a sede do Congresso dos EUA.

No início do mês, o antigo líder dos Proud Boys, Enrique Tarrio, e outros três membros do grupo, foram considerados culpados de conspiração sediciosa na invasão do Capitólio — a acusação mais grave de todas as que foram deduzidas até agora, e que pode levar a uma pena superior a 20 anos de prisão.

Em Novembro de 2022, dois líderes da milícia paramilitar Oath Keepers, incluindo o fundador do grupo, Stewart Rhodes, foram considerados culpados de conspirarem contra as instituições do Governo dos Estados Unidos entre finais de 2020 e inícios de 2021, com o objectivo de manterem Trump na Casa Branca após a sua derrota na eleição presidencial.

O anúncio da sentença de Rhodes — um ex-advogado formado na Universidade de Yale — e de Kelly Megs — o líder dos Oath Keepers na Florida — começa nesta quinta-feira, mas não é certo que as penas sejam conhecidas até ao fim do dia.

Venda de fotografias

No caso de Richard "Bigo" Barnett, o julgamento ficou concluído em Janeiro de 2023, com o júri a considerá-lo culpado de todas as acusações, incluindo de entrada ilegal no Capitólio e tentativa de impedir a realização de uma cerimónia oficial.

Ao anunciar a sentença, na quarta-feira, o juiz Cooper salientou que Barnett — que entrou no Capitólio armado com uma pistola de atordoamento de 950 mil volts — tentou lucrar com a venda de fotografias autografadas já depois de ter sido detido pelo FBI.

"Você tem 63 anos, é velho demais para estes disparates", disse o juiz. "Para o bem e para o mal, você tornou-se numa das principais faces do 6 de Janeiro, e eu estou convencido de que isso o deixa feliz."

Antes da leitura da sentença, os advogados de Barnett pediram ao juiz uma condenação a um ano de prisão, salientando que o réu "não esconde as suas posições políticas e participou em dezenas de protestos na sua vida, mas nunca foi violento".

Do outro lado, os procuradores do Departamento de Justiça sublinharam que Barnett "mostrou sempre um desrespeito total por todas as formas de autoridade"; e lembraram que dos oito funcionários da equipa de Pelosi que ficaram encurralados no gabinete, seis abandonaram a função pública pouco tempo depois.

Desde Janeiro de 2021, mais de mil pessoas foram detidas por terem participado na invasão do Capitólio; destas, mais de 400 foram já julgadas e condenadas, 300 das quais a prisão efectiva.

Até agora, a sentença mais pesada foi de 14 anos e seis meses de prisão, aplicada a um homem com várias condenações anteriores, Peter Schwartz, do Kentucky, que atacou um polícia com gás pimenta e com uma cadeira — e a quem o juiz responsável pelo julgamento, Amit Mehta, chamou "um soldado contra a democracia".

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