Martinho da Vila canta Negra Ópera, a celebrar a abolição da escravatura no Brasil

O cantor e compositor brasileiro está de volta aos coliseus com um disco que celebra a abolição da escravatura no Brasil, em 1888. Sexta-feira no Porto, às 21h, e sábado em Lisboa, às 22h.

Foto
Martinho da Vila em estúdio DR
Ouça este artigo
--:--
--:--

Em Maio de 2022, o cantor e compositor carioca Martinho da Vila trouxe a Portugal um álbum chamado Mistura Homogênea, apresentado como um antídoto contra a xenofobia e o racismo, apresentando-o em vários palcos (Faro, Porto, Lisboa, Braga e Coimbra). Passado um ano, de novo em Maio, regressa com um outro álbum que celebra a abolição da escravatura no Brasil, em 13 de Maio de 1888, há 135 anos. Chama-se Negra Ópera e vai servir de base a dois concertos, nos coliseus do Porto (dia 26, às 21h) e de lisboa (27, às 22h). Com Martinho (voz), estarão Gabriel Aquino (violão), João Rafael (baixo), Alaan Monteiro (cavaquinho), Maíra Freitas (piano), Gabriel Policarpo e Bernardo Aguiar (percussões).

Quando no Brasil se celebrou o centenário da abolição da escravatura, em 1988, a TV Globo transmitiu um programa especial para o qual foram convidados muitos músicos e cantores negros, que cantaram em coro o tema Axé, um jongo escrito por Martinho da Vila para essa ocasião. Entre eles, estavam Gilberto Gil, Milton Nascimento, Tim Maia, Elza Soares, Alcione, Haroldo Costa, Grande Otelo e Ruth de Souza. A receita, conforme foi noticiado na altura, reverteu a favor do projecto cultural Kizomba.

Agora que passaram três décadas e meia sobre o centenário, Martinho decidiu lançar um álbum com idêntico objectivo e que conta, à sua maneira, histórias da escravatura e da abolição. Produzido por Celso Filho, Martinho Antônio e Pretinho da Serrinha, o disco é assim apresentado por Martinho:

“Os meus discos são sempre muito alegres, queria fazer algo diferente. Como gosto muito de ópera, pensei em fazer a minha ópera, com uma boa dose de dramaticidade. E negra, porque as músicas são fundamentalmente ligadas a questões negras, os músicos são praticamente todos negros”, escreve ele no texto que acompanha o anúncio desta nova digressão por Portugal.

Foto
A capa do disco

Entre os doze temas do disco, há três inéditos, todos eles compostos por Martinho: Exu das sete (que Preto Ferreira, filho de Martinho, canta com ele), Dois de ouro (baseado na história verdadeira de um capoeirista baiano) e Diacuí, escrita há muitos anos a partir de outra história real, a de Diacuí, uma índia que nos anos 1950 se casou com um sertanista (ou bandeirante), engravidou e acabou por morrer no parto. “Li a história nos jornais na época, me causou muita emoção, e aí fiz esse samba, nos anos 1960. Estava guardado desde então. E como o drama indígena se aproxima bastante do drama do negro, achei que ficaria bom pôr a música no disco.”

O disco Negra Ópera conta ainda, para além destas três canções inéditas e mais duas de Martinho (a abertura, Zumbi dos Palmares, Zumbi e Linda Madalena), com temas de Zé Kéti (Malvadeza Durão e Acender as Velas, este cantado por Martinho da Vila em dueto com Chico César), Mário De Andrade (A Serra do rola moça), Adoniran Barbosa (Iracema), Wilson Batista e Jorge De Castro (Mãe solteira), Ramon Russo (Timbó), Mano Décio, Manoel Ferreira e Silas de Oliveira (Heróis da Liberdade). Participam no disco, entre outros, Chico César, Renato Teixeira, Mart’nália e o rapper Will Kevin.

Estes concertos de Martinho da Vila coincidem com as digressões portugueses de outros dois grandes nomes da música brasileira: Chico Buarque, que na sexta-feira e no sábado se apresenta na Super Bock Arena, no Porto, às 21h30, com Mônica Salmaso por convidada; e Adriana Calcanhotto, que estará sexta-feira no CCB, em Lisboa (21h) e sábado no Cine-Teatro de Estarreja (21h30), no mesmo dia em que Luca Argel actua no ciclo Há Música na Casa da Cerca, em Almada (21h30) e Gabriel o Pensador no Festival do Maio, no Seixal.

Na agenda de Chico Buarque, com Mônica Salmaso, estão ainda três concertos em Lisboa, dias 1, 2 e 3 de Junho, no Campo Pequeno (21h30); e a de Adriana Calcanhotto tem mais três datas: 29 de Maio, Teatro Micaelense, Ponta Delgada (21h30); 31 de Maio, Casa da Música, Porto (21h); e, por fim, no dia 23 de Junho, o Teatro das Figuras, em Faro (21h30).

Sugerir correcção
Comentar