Troca de favores em Lisboa: Montenegro pede justiça rápida; Duarte Cordeiro nega pactos

TVI noticiou acordos políticos entre Sérgio Azevedo (PSD) e Duarte Cordeiro e Fernando Medina (PS). PCP, PAN e IL dizem que caso deve servir de alerta e apontam que pode descredibilizar a política.

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As autárquicas de 2017 em Lisboa estão sob suspeita do Ministério Público Nuno Ferreira Santos

Luís Montenegro, presidente do PSD, defendeu esta quarta-feira ser necessário "saber a verdade e tirar consequências" sobre a alegada troca de favores entre o PS e os sociais-democratas em Lisboa, exigindo que a justiça "seja rápida e conclua" a investigação. "É impossível pactuar com a corrupção da democracia. Temos de saber a verdade e tirar consequências. Exige-se que a justiça seja rápida e conclua esta investigação", escreveu numa publicação na rede social Twitter.

A publicação do social-democrata, feita pelas 00h30 da madrugada, surge após a reportagem emitida pela TVI sobre uma alegada troca de favores entre PS e PSD na preparação das listas para eleições autárquicas de 2017, com o objectivo de garantir a atribuição de certas freguesias lisboetas aos sociais-democratas.

No caso são citados o antigo presidente da Câmara de Lisboa e actual ministro das Finanças, Fernando Medina, o ministro do Ambiente e da Acção Climática, Duarte Cordeiro, e o ex-deputado do PSD Sérgio Azevedo.

Em declarações aos jornalistas durante a manhã desta quarta-feira no Parlamento, o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, assegurou que o partido será “absolutamente intransigente na defesa da decência ética, da legalidade e da normalidade democrática”. Lembrando que este processo dura “há cinco ou seis anos”, o dirigente considera que “deve ter uma conclusão para se saber verdadeiramente quais as imputações e os responsáveis daquelas condutas”.

O social-democrata disse preferir aguardar pela conclusão da investigação – e, à semelhança de Montenegro, pediu que seja “rápida” – para que se possam “confirmar alguns factos” e para que “sejam retiradas consequências políticas”. Hugo Soares acrescentou desconhecer se a pessoa “A ou B” são arguidas.

A reportagem cita, por várias vezes, indícios da procuradora Andrea Marques e da Polícia Judiciária, incluindo escutas telefónicas e emails apreendidos do computador de Fernando Medina. A peça remete ainda para "acordos políticos entre Sérgio Azevedo (PSD), Duarte Cordeiro e Fernando Medina (PS) para a colocação de pessoas em lugares para avenças e posições estratégicas" em 2017, detalhados por uma investigadora da PJ num relatório do processo Tutti Frutti.

"Nunca fui ouvido", diz Duarte Cordeiro

Duarte Cordeiro disse na terça-feira à noite que não foi "chamado ou ouvido pelo Ministério Público" sobre uma alegada troca de favores entre o PS e o PSD em Lisboa. "Nunca, em nenhum momento, fui chamado ou ouvido pelo Ministério Público (MP) sobre qualquer tema relacionado com estes assuntos", disse.

Duarte Cordeiro garante ainda que não teve "qualquer responsabilidade nem intervenção no processo relacionado com o projecto Torre de Picoas", outro tema alegadamente investigado pelo MP. "O PS nas eleições de 2017 não só não fez qualquer pacto como, aliás, ganhou mais duas freguesias do que as que tinha antes dessas eleições, uma das quais conquistada ao PSD [Avenidas Novas]", afirmou o agora ministro do Ambiente.

Duarte Cordeiro assinala ainda que o partido "fez um outro acordo coligatório com o Partido Livre que encabeçou as listas autárquicas para a Freguesia da Estrela e Areeiro", e que, na Freguesia de Santo António e Belém, "as escolhas foram, desde logo, das secções do PS do território em causa".

A Lusa contactou outros dos nomeados na reportagem, incluindo Fernando Medina, não tendo ainda obtido qualquer resposta.

Caso leva à "descredibilização" da política

A deputada Alma Rivera, do PCP, defendeu que é preciso averiguar e "retirar responsabilidades" no caso da alegada troca de favores entre o PS e o PSD em Lisboa, "sob pena de descredibilizar a própria discussão política".

"Todos devem responder perante a lei e têm que retirar das suas acções, sob pena, também, de descredibilizar a própria discussão política sobre a resolução dos problemas das pessoas, que tem que ser o principal foco de todos os agentes políticos, sobretudo no contexto em que estamos", afirmou a deputada no Parlamento em reacção à reportagem emitida na passada terça-feira.

Para Inês Sousa Real, aquilo a que o país assistiu, "a vir a comprovar-se, é de facto demasiado grave, mina a credibilidade do poder político e mina a confiança dos cidadãos", começou por dizer a porta-voz do PAN, reeleita no passado sábado. E continuou: "Acima de tudo, [a situação] defrauda a honra e o voto que foi depositado" e que, inclusivamente, deu ao PS uma maioria absoluta. "Estamos, neste momento, a deixar passar ao lado uma oportunidade única de investir em fundos comunitários."

Já para a Iniciativa Liberal, a informação avançada na noite de terça-feira deve servir para tornar os portugueses mais exigentes relativamente aos actores políticos no país. A "notícia deve servir de alerta para todos" e em última linha, aumentar a "exigência dos portugueses" daquilo que são os actores políticos em Portugal, adiantou Rodrigo Saraiva.

Notícia actualizada às 13h29 com reacção de Hugo Soares

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