O meu primeiro pride

Cada um ser como é e como quer ser, não afecta negativamente os outros à sua volta — apenas nos faz avançar enquanto sociedade.

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Megafone: o meu primeiro pride EPA/OLIVIER HOSLET
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A 20 de Julho, vivi em Bruxelas um dia em que senti, pela primeira vez, que a rua, cheia de gente, se encontrava vazia – vazia de medo e preconceito. Foi um dia de festa, mas, acima de tudo, de liberdade. Por todos os lados, sobressaíam as cores e a alegria, o som e a dança. Todos se vestiam como queriam, sem receio de comentários alheios. As pessoas beijavam-se e abraçavam-se e eu só conseguia pensar: porque é que não é assim todos os dias? Era a magia do pride.

A marcha transmitia uma mensagem, a música unia as pessoas. Em cartazes, liam-se frases como "Ser hetero foi a minha fase" ou "Se Deus nos odeia, porque é que somos tão giros?". Senti-me bem, alegre. Aqueceu-me o coração ver cada pessoa naquele mar de gente a sentir uma felicidade que há muito ansiava, mas que ainda urge fazer durar todo o ano. Foi como se Bruxelas se pintasse com um arco-íris naquele que parecia ser o único momento do ano em que não chovia – mas em que a folia transbordava a potes. Que bonito seria que este arco-íris pudesse também ser visto mais recorrentemente ao lado do Sol português, de que tanto sinto falta.

O que igualmente ficou provado – mais uma vez – é que cada um ser como é, e como quer ser, não afecta negativamente os outros à sua volta – apenas nos faz avançar enquanto sociedade. Eu, com o meu ar enfadonho de heterossexual cisgénero, de pólo beto – comprado em segunda mão – e cabelo "penteadinho", senti-me igual. Eu fui eu, como sempre fui, no meio de tantas pessoas que também o querem ser.

Aqui se entende a diferença de lados: entre o respeito e a intolerância, a ética e a falta dela. A questão que permanece é saber de qual queremos ficar. Já a resposta? A de que só existe uma opção correcta: a da inclusão e do amor igual na sua diversidade. Tudo o resto pertence à prateleira da vergonha e do retrocesso, ao lado de "o lugar da mulher é na cozinha" ou de mil e uma frases xenófobas com as quais poderia escrever uma enciclopédia.

Este não é um texto moralista. Haverá sempre quem seja contra, quem não respeitará. Este é, isso sim, um texto de alguém que parte de uma posição privilegiada, por não saber o que é sofrer por não poder ser eu próprio, a expressar o seu desejo de que todos possam ser felizes como são. Esta é a luta ao lado da qual sempre me posicionarei e o ensinamento que passarei aos meus filhos, que serão livres de ser como quiserem e de amar quem lhes apetecer.

Para aqueles que se opõem a esta liberdade: curai-vos. E vivam o amor, como neste dia – e em todos os outros do ano.

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