Reino Unido e Japão reforçam cooperação militar para “proteger a paz e a segurança no Indo-Pacífico”

Britânicos vão duplicar número de soldados em exercícios conjuntos e enviar frota de guerra para o Indo-Pacífico em 2025. “Acordo de Hiroxima” também inclui cibersegurança e semicondutores.

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Rishi Sunak e Fumio Kishida, primeiros-ministros britânico e japonês, reuniram-se em Hiroxima Reuters/KYODO
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Os Governos do Reino Unido e do Japão anunciaram esta quinta-feira um novo acordo de cooperação em matéria de Defesa e Segurança, pouco antes de os respectivos primeiros-ministros, Rishi Sunak e Fumio Kishida, se reunirem na cidade japonesa de Hiroxima, antes do pontapé de saída da cimeira do G7.

No chamado “Acordo de Hiroxima”, que é alargado aos sectores económico e tecnológico, para além do militar, as Forças Armadas britânicas comprometem-se a duplicar o número de soldados que vão participar nos próximos exercícios militares conjuntos com as Forças de Autodefesa japonesas e a enviar a frota de guerra Carrier Strike Group – que inclui um dos seus dois porta-aviões – para a região do Indo-Pacífico em 2025.

Para além disso, as partes vão intensificar a cooperação nos sectores da cibersegurança, do fabrico de aviões de combate e do abastecimento de semicondutores, e comprometer-se a consultarem-se mutuamente e a responderem de forma concertada a “importantes questões securitárias regionais e globais”.

As preocupações dos dois países com o mercado dos semicondutores surgem no contexto das reivindicações territoriais e do reforço da presença militar da República Popular da China em redor de Taiwan, a ilha que Pequim considera ser uma província chinesa e onde opera a TSMC, a maior empresa produtora de chips a nível mundial.

Questionado sobre a situação de Taiwan durante uma visita, nesta quinta-feira, ao porta-aviões japonês JS Izumo, estacionado numa base naval de Tóquio, Sunak sublinhou o “reforço do envolvimento” do Reino Unido com os seus aliados no Indo-Pacífico e afirmou: “Não queremos assistir a qualquer mudança no statu quo pela força ou pela coerção”.

Segundo Downing Street, o aumento da participação de soldados britânicos em manobras militares aplica-se já no exercício conjunto “Ilhas Vigilantes”, que terá lugar nas águas territoriais japonesas no final do ano. A quarta edição deste exercício, informou o Governo, será “a maior até ao momento” e envolverá 170 soldados britânicos, incluindo tropas das unidades de infantaria Royal Gurkha Rifles e da Air Assault Brigade.

“Eu e o primeiro-ministro Kishida estamos estreitamente alinhados no que toca à importância de proteger a paz e a segurança no Indo-Pacífico e de defender os nossos valores, que incluem o comércio livre e justo”, declarou o primeiro-ministro britânico, num comunicado de imprensa divulgado antes do encontro com o seu homólogo.

“Com o ‘Acordo de Hiroxima’ iremos intensificar a cooperação entre as nossas Forças Armadas, fazer crescer as nossas economias em conjunto e desenvolver os nossos conhecimentos científicos e tecnológicos de nível mundial”, acrescentou.

Ainda com Boris Johnson como primeiro-ministro, o Governo conservador do Reino Unido colocou a região alargada do Indo-Pacífico no topo das suas prioridades de política externa no pós-“Brexit”.

No que toca a políticas multilaterais de Defesa naquela área regional, o acordo revelado nesta quinta-feira acresce ao importante pacto securitário AUKUS, que os britânicos fecharam com os Estados Unidos e com a Austrália em 2021.

Visto como uma iniciativa ocidental de contenção da China na sua vizinhança, o AUKUS irá permitir, entre outros eixos de cooperação, que a Marinha australiana obtenha uma frota de submarinos nucleares a partir de 2030, com Reino Unido a assumir um papel chave na produção de uma nova geração daquele tipo de activo naval.

Do ponto de vista japonês, o reforço da cooperação militar com os britânicos vai ao encontro da mais recente revisão que o Governo de Kishida fez da sua política de Defesa. Definindo a China e a Rússia como principais desafios geoestratégicos do país, a revisão pressupõe o maior aumento no orçamento militar do Japão desde a II Guerra Mundial.

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