Da seca ao lixo: como o speed climate dating ajudou a resolver oito problemas

Projecto ClimActiC pôs 350 alunos a discutir problemas ambientais e a procurar soluções em conjunto com professores, cientistas e várias entidades. Começou em Junho de 2021 e termina no próximo mês.

azul,sustentabilidade,ambiente,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Sessão de laboratórios climáticos colaborativos
azul,sustentabilidade,ambiente,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Sessão de apresentação de posters
Ouça este artigo
--:--
--:--

O projecto ClimActiC contou com a parceria de nove escolas de diferentes regiões e promoveu um diálogo sobre os problemas ambientais locais, procurando encontrar soluções climáticas accionáveis, sempre em conjunto com os jovens. Entre outros métodos, os jovens usaram estratégias como o speed dating climate, nuvens de soluções e árvores climáticas para encontrar soluções com todos os actores envolvidos. Conheça oito casos tratados nestes laboratórios climáticos colaborativos que ajudaram a perceber que para resolver uma boa parte destes problemas locais é preciso (mais do que dinheiro) investir na informação e sensibilização.

As discussões do ClimActic foram desde as ilhas de calor em Vila Verde até aos incêndios em Vila Nova de Cerveira, passando pela biodiversidade em Gaia, o lixo em Frazão e nas margens do Tâmega, as vinhas na Régua e a seca em Macedo de Cavaleiros ou Vila Nova de Famalicão. O fim do projecto foi assinalado com um seminário final na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), que juntou jovens, professores, cientistas e representantes das Comunidades Intermunicipais que participaram nas diferentes acções.

Uma das partes mais importantes do ClimActiC foi a dos Laboratórios Climáticos Colaborativos, que, segundo Carla Malafaia, responsável por esta actividade, se baseiam "no desenvolvimento de uma metodologia participativa, a qual, partindo de problemas climáticos locais identificados pelos jovens das regiões envolvidas, convocou diferentes actores locais, abrindo espaço para processos de co-criação de soluções climáticas accionáveis nos diferentes territórios". Em cada laboratório foram convocados diferentes actores de cada região, "representes do poder político local, de grupos activistas, de agentes económicos, das comunidades intermunicipais e de cientistas", diz a responsável pela actividade.

Dividido em várias sessões em cada escola, os laboratórios consistiram em diferentes métodos participativos, entre os quais: a árvore climática do problema (em que os jovens apresentaram aos diferentes actores os problemas identificados e de que modo procuraram saber mais sobre eles), a cartografia climática local (que consistiu no mapeamento do problema climático e das suas ramificações territoriais em colaboração com todos os outros actores), a nuvem de soluções (que serviu para perceberam que tipo de soluções poderiam fazer sentido para o problema encontrado) e o speed climate dating (em que os jovens fizeram entrevistas rápidas aos diferentes actores – câmaras municipais, grupos activistas – para perceber quais podem ser os seus contributos e de que forma podem tornar a solução que encontraram aplicável).

Os problemas e soluções encontrados e desenvolvidos pelos estudantes das nove escolas, de oito regiões, foram os seguintes:

Vila Verde: ilhas de calor

Em Vila Verde, o problema identificado pelos jovens teve que ver com as "diferenças de temperaturas em diferentes regiões do conselho e o modo como isto impacta a actividade agrícola", conta Carla Malafaia. No decorrer do processo, chegaram à conclusão "que uma possível solução seria tentar reivindicar a criação de um gabinete concelhio de informação e de apoio a candidaturas de instalação de painéis solares em recintos públicos", acrescenta.

Começaram por decidir fazer uma petição, que vão elaborar em conjunto com os activistas, "e, através dos diferentes actores do laboratório, divulgá-la de modo a chegar à concretização deste gabinete concelhio".

Macedo de Cavaleiros: seca e falta de água

A seca e a falta de água estão a ser um problema em toda a Europa, e Portugal não é excepção. Os alunos de Macedo de Cavaleiros escolheram estudar este tema para tentar encontrar uma solução. "Neste caso, os jovens em conjunto com os diferentes actores consideraram que a solução é investir em campanhas de sensibilização sobre a questão da água, que podem depois desdobrar-se em diferentes coisas. Por exemplo, spots de rádio, que já estão a fazer, e jogos didácticos, que também já estão a construir – pensados para serem usados em escolas primárias", conta a responsável pela actividade.

Vila Nova de Gaia: perda de biodiversidade da bacia do rio Febros

Em Vila Nova de Gaia, a preocupação é sobre a biodiversidade da bacia do rio Febros, um afluente do rio Douro que atravessa a freguesia de Pedroso. Os jovens querem "tentar estabelecer uma parceria com o parque biológico de Vila Nova de Gaia", segundo Carla Malafaia. Mas, além disso, querem também espalhar a mensagem, no sentido de haver "uma maior sensibilização para estas questões, através das redes sociais, como modo de chamar atenção para o problema de perda de biodiversidade”, acrescenta.

Régua: efeitos das alterações climáticas na vitivinicultura

A cidade de Peso da Régua, localizada na sub-região do Douro, cuja comunidade intermunicipal foi eleita como a Capital Europeia do Vinho em 2023, encontra um desafio nos efeitos que as alterações climáticas têm na produção de vinho. Isto pode resultar na "antecipação de maturação e da vindima", segundo Carla, "e na Régua isto é uma questão muito importante para as comunidades". Por isso, os jovens acharam que era "muito importante haver uma reivindicação de maiores apoios financeiros por parte da câmara, por exemplo, para dinamização de projectos de adaptação climática que tivessem em consideração especificamente os efeitos das alterações climáticas na vitivinicultura”.

Vila Nova de Cerveira: incêndios e desflorestação

Os jovens de Vila Nova de Cerveira, do distrito de Viana do Castelo, acreditam que o maior problema da vila do Alto Minho são os incêndios e a desflorestação por estes causados. Uma das soluções propostas para "tentar combater e reduzir o problema que assola a região", conta a responsável pelos Laboratórios Climáticos Colaborativos, foi a "criação de um site com conteúdos informativos".

Frazão: produção de lixo e resíduos

Já em Frazão, uma freguesia do conselho de Paços de Ferreira, os jovens decidiram apostar no “desenvolvimento de sessões informativas públicas e em cartazes digitais nas redes sociais", para combater o problema da produção de lixos e resíduos na região, segundo Carla Malafaia. Mas não ficam por aí, querem também, paralelamente, criar "grupos de limpeza que, por um lado, actuem sobre o problema, mas também que chamem à atenção da comunidade geral".

Vila Nova de Famalicão: secas prolongadas e diminuição da produtividade agrícola

Em Vila Nova de Famalicão o problema é também o da falta de água, e como, neste caso, essa carência afecta a produtividade agrícola da cidade do distrito de Braga. Os jovens procuraram uma solução e chegaram à conclusão que, para mitigar "os efeitos das secas", podiam, por exemplo, propor a "implementação de sistemas de regas automáticos e inteligentes, com sensores que permitam monitorizar a humidade do solo”, segundo Carla Malafaia.

Chaves: lixo nas margens do rio Tâmega

O problema sublinhado pelos alunos de Chaves foi o lixo nas margens do rio Tâmega, e a forma que encontrarem de o combater foi a partir de "acções de sensibilização e actividades de limpeza", conclui a responsável pelos laboratórios.

Espera-se agora que estas soluções sejam aplicadas autonomamente pelos jovens, mas com o apoio das entidades que "se comprometeram a ajudar nesta concretização", indica Carla Malafaia. Este projecto deixou também vontade nas escolas de continuar a falar de clima, e por isso vão ser organizados "fóruns comunitários nas regiões", no âmbito dos quais serão "comunicadas à comunidade as soluções que foram criadas".

Esta iniciativa, que começou em Julho de 2021 e termina no próximo mês, chegou a 350 alunos e contou com a participação de 23 professores. Segundo Isabel Menezes, investigadora responsável, "foram envolvidas aproximadamente 70 entidades sociais, políticas e económicas de ordem local e regional". O projecto CidadaniaPeloClima: Criando Pontes entre Cidadania e Ciência para a Adaptação Climática (ClimActiC) é financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), através do programa operacional NORTE 2020.

Criaram-se, assim, espaços de comunicação e de co-criação entre cientistas, jovens, activistas, agentes económicos e decisores políticos, articulando "cidadãos, ciência e políticas públicas na gestão da adaptação às alterações climáticas", de acordo com um comunicado da organização.

Artigo actualizado às 12h de 17 de Maio com informações sobre o projecto.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários