Vamos falar sobre emoções?

A regulação emocional desenvolve-se nos primeiros anos de vida e tem um papel crucial nas relações sociais e bem-estar psicológico.

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A qualidade das relações precoces é crucial para o desenvolvimento e aquisição de estratégias de regulação emocional Royji Nakajima/Getty Images
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As emoções são importantes porque nos indicam aquilo a que precisamos de prestar atenção e a que precisamos de responder. Para reconhecer emoções necessitamos de ser capazes de interpretar linguagem corporal, expressões faciais e discurso verbal. Para compreender as emoções é necessário perceber o que as causa e porque estão a ser expressas daquela forma. Posteriormente, é necessário gerir as emoções para responder de forma apropriada às situações e aos outros. Assim, a regulação emocional consiste num processo complexo que determina a forma como resolvemos os conflitos, controlamos os impulsos e como nos relacionamos com os outros.

Entende-se por regulação emocional um conjunto de processos ativos (comportamentos, competências e estratégias) pelos quais se tenta gerir os estados emocionais. Nos primeiros anos de vida, a regulação é externa, sendo os cuidadores a realizar esta gestão. Ao longo do crescimento, os cuidadores fornecem ajuda e suporte quando a criança precisa de se regular, começando esta a interiorizar o modelo do cuidador e sendo depois capaz de se autorregular sozinha, pondo em prática as estratégias e os comportamentos aprendidos.

No primeiro ano de vida, as crianças não são capazes de se regular, necessitando dos cuidadores para o fazer por si. A qualidade das relações precoces medeia o processo da regulação emocional, ao longo do primeiro ano de vida. É através da relação que os cuidadores conseguem acalmar a criança e ajudar a que esta se regule. O que é iniciado pelos cuidadores, em breve passa a ser uma ação conjunta. A partir do primeiro/segundo ano de vida, a regulação emocional é realizada com a ajuda dos cuidadores, começando a criança a ter um papel ativo neste processo.

Em situações em que a criança necessita de se regular, os cuidadores fornecem suporte para que ela seja capaz de começar a pôr alguns comportamentos em prática, existindo uma corregulação. A partir dos três anos, a criança começa a ser capaz de se regular sozinha, pondo em prática algumas competências e estratégias que aprendeu ao longo dos primeiros anos do seu desenvolvimento. Contudo, os cuidadores continuam a ser essenciais neste processo, fornecendo carinho e limites para que ela continue a aprender e crescer. Em situações de stress e maior dificuldade poderá ser ainda necessário a intervenção e ajuda dos cuidadores. Com o crescimento e até à adolescência é esperado que as crianças comecem a ser cada vez mais autónomas e eficazes na gestão emocional.

Como podemos ajudar?

Ao longo dos anos, a investigação na área do desenvolvimento infantil demonstra-nos e confere-nos conhecimentos sobre os fatores que intercedem num desenvolvimento positivo, nomeadamente o fator relacional cuidador-criança. Cuidadores sensíveis, disponíveis e que proporcionam aos seus filhos experiências positivas e gratificantes, são internalizados como um refúgio a quem a criança pode recorrer quando não se é capaz de lidar com emoções negativas ou intensas.

Ao envolverem-se em interações diárias mais positivas com os seus cuidadores e outros significativos, as crianças experienciam um ciclo de emoções positivas. A qualidade das relações precoces é crucial para o desenvolvimento e aquisição de estratégias de regulação emocional, competências sociais e crenças sobre o próprio, influenciando consequentemente o bem-estar psicológico e a saúde mental infantil.

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Com o crescimento e até à adolescência é esperado que as crianças comecem a ser cada vez mais autónomas e eficazes na gestão emocional Malte Mueller/Getty Images

Também a construção de diálogos organizados, coerentes e emocionalmente integrativos ajudam a criança a desenvolver representações coerentes e consistentes sobre si mesmas e sobre o mundo que as rodeia. Falar de eventos negativos e positivos estimula a capacidade das crianças para integrar emoções positivas e negativas, contribuindo para um repertório emocional mais rico e completo.

Quando os cuidadores ajudam a criança a dar significado às situações experienciadas através do diálogo, estes contribuem para a integração da experiência vivida no cérebro infantil e para a capacidade das crianças de lidarem com eventos semelhantes no futuro, dotando-as de ferramentas e competências. Ao guiarem as crianças através do diálogo, reciprocidade e responsividade no reconhecimento e gestão das emoções, os cuidadores estão a contribuir para o desenvolvimento da regulação emocional infantil e de competências sociais.

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