SIS e Marcelo. O que vale a palavra dos políticos?

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1. Nesta história do SIS, há muitas contradições e perguntas sem resposta mas há uma conclusão que parece certa por tudo aquilo a que já se assistiu: os serviços de informações não questionam a palavra dos políticos. Por que razão se depreende isto? Mário Belo Morgado, membro da comissão de fiscalização dos Serviços de Informação da República Portuguesa, assumiu ao PÚBLICO que, perante um alerta de que havia " risco de acesso indevido a informação susceptível de lesar os interesses do Estado", os serviços tinham que actuar, não podiam ficar parados. Mesmo que o pedido seja disparatado? Sim, pelos vistos, sim. “Se o SIS não tivesse agido e tivesse havido uma desgraça, estaria a ser alvo de uma campanha feroz”, assumiu o juiz e ex-secretário de Estado com alguma candura.

2. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai ficar para a história de várias formas. Uma delas será seguramente por ter inaugurado uma nova espécie de magistratura de influência: podia-se mesmo chamar de magistratura da fluência. Marcelo torna público, sem qualquer precedente na história das coabitações Belém-São Bento, as divergências que tem em privado com o primeiro-ministro e mesmo aquelas em que o seu ponto de vista sai a perder. A demissão de João Galamba que não conseguiu impor não o demoveu no exercício da palavra, pelo contrário. Isso foi já visível na promulgação do concurso de professores, em que aproveitou para notar que as suas sugestões não foram acolhidas.

3. O valor das palavras é muito importante. No primeiro caso, o do SIS, esse valor foi levado tão ao extremo, por aquilo que se conhece, que a palavra dos membros do governo se tornou mesmo sagrada. Ninguém se atreve a pô-la em causa. No segundo caso, o do Presidente, o peso da sua palavra arrisca ter diminuído. Com esta nova vontade de tornar públicas as divergências em relação ao Governo (caso do afastamento do ministro das Infra-Estruturas ou do novo concurso de colocação de professores), Marcelo Rebelo de Sousa arrisca dar conta demasiadas vezes das ocasiões em que a sua influência junto do governo não surtiu efeito. Será isso positivo?

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