Emissões de metano do Turquemenistão ameaçam limite de 1,5ºC no aquecimento global

Segundo dados revelados pelo The Guardian, o Turquemenistão libertou para a atmosfera 2,6 milhões de toneladas de metano em 2022.

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Emissões de metano são uma das principais ameaças à acção climática EPA/JIM LO SCALZO
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Em 2022, as emissões de metano de duas grandes reservas de combustíveis fósseis no Turquemenistão contribuíram mais para o aquecimento global do que o total das emissões de carbono do Reino Unido no mesmo ano, ou de toda a Península Ibérica em 2021, revelaram dados divulgados pelo The Guardian.

Os números são da Kayrros, empresa que monitoriza a pegada ambiental de indústrias energéticas, e indicam que, no ano passado, a exploração de combustíveis fósseis no Turquemenistão, na costa do mar Cáspio, libertou para a atmosfera 2,6 milhões de toneladas de metano, o que equivale a 366 milhões de toneladas de dióxido de carbono — uma vez que, ao longo de 20 anos, o metano retém 80 vezes mais calor na atmosfera do que o CO2.

Segundo os cientistas citados pelo The Guardian, as emissões de metano aumentaram drasticamente desde 2007, e este pode ser um dos grandes obstáculos à imposição de um limite de 1,5 graus Celsius ao aquecimento global.

No início de Março deste ano, o diário britânico revelou que o Turquemenistão é um dos piores países do mundo em termos de fugas de metano, altamente prejudiciais para o ambiente. No topo da lista de emissores ficam a China, a Rússia e os Estados Unidos.

A explicação para este agravamento pode estar na alteração da forma de tratar o gás. O gás não utilizado é habitualmente queimado, libertando-se dióxido de carbono para a atmosfera, mas essas emissões são fáceis de detectar e a prática é cada vez mais criticada. Mas se o metano for libertado directamente para a atmosfera, sem ser queimado, é invisível e difícil de detectar.

Resolver o problema das fugas nas infra-estruturas de combustíveis fósseis é a forma mais rápida e a mais económica de reduzir as emissões de metano para a atmosfera, já que o gás capturado pode depois ser vendido. Mas as infra-estruturas no Turquemenistão estarão demasiado degradadas, segundo os especialistas.

“Sabemos onde estão os 'super-emissores' e quem são”, disse Antoine Rostand, presidente da Kayrros, em declarações ao The Guardian. “Só precisamos que os governantes e investidores façam o seu trabalho, que é combater as emissões de metano. Não há nenhuma acção comparável em termos de reduzir os custos para o clima a curto prazo.”

“O metano é responsável por quase metade do efeito de aquecimento do planeta a curto prazo, e, até agora, não tinha sido regulado — estava completamente fora de controlo”, acrescentou. “É muito fácil [eliminar estas emissões], não tem custos para o cidadão, e para os produtores os custos são mínimos.”

Desde 2019, os satélites da Kayrros detectaram 840 fugas de gás em grande escala no Turquemenistão, a um ritmo de várias toneladas por hora.

No mesmo sentido, de acordo com a Agência Internacional de Energia, o Turquemenistão sozinho foi responsável por um terço das "super emissões" de metano registadas por satélites em 2021.

Apesar destes números, o clima não é uma prioridade para o Presidente do país, Serdar Berdimuhamedov, mantendo o Turquemenistão fora do compromisso global para a redução de emissões de metano, assinado na COP26, em Novembro de 2021.

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