Google I/O 2023: o rei da pesquisa responde à Microsoft com nova tecnologia de inteligência artificial

A Google apresentou esta quarta-feira o PaLM 2, uma tecnologia que pretende ser a resposta ao GPT-4 usado pela Microsoft e pelo ChatGPT. Estará disponível em breve nos EUA.

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A Google apresentou também esta quarta-feira o novo Pixel dobrável — não vai estar à venda em Portugal Justin Sullivan/Getty

A Google está a lançar mais soluções de inteligência artificial (IA) para o seu motor de busca, na esperança de criar um entusiasmo idêntico ao gerado nos últimos meses pela actualização do Bing pela Microsoft.

Na conferência anual I/O realizada esta quarta-feira em Mountain View, Califórnia (EUA), a Google deu a conhecer a Search Generative Experience (Experiência de Pesquisa Generativa), através da qual o novo Google pode criar respostas complexas para pesquisas abertas, mantendo a lista reconhecível de links para a web. "Estamos a reinventar os nossos principais produtos, incluindo a pesquisa", disse Sundar Pichai, CEO da Alphabet, depois de subir ao palco do evento.

O também CEO da Google disse que a empresa está a integrar a IA generativa à pesquisa, bem como em produtos como o Gmail, que será capaz de criar rascunhos de mensagens, e o Google Fotos, que conseguirá fazer alterações nas imagens, nomeadamente centrar objectos e colorir espaços vazios.

Os consumidores dos EUA terão acesso ao Search Generative Experience nas próximas semanas através de um sistema de lista de espera, uma fase de teste durante a qual a Google irá monitorizar a qualidade, velocidade e custo dos resultados de pesquisa, disse a vice-presidente Cathy Edwards em entrevista.

A incursão do Google no que é conhecido como IA generativa acontece depois de a startup OpenAI apresentar o ChatGPT, o chatbot “querido” de Silicon Valley, que desencadeou uma furiosa corrida ao financiamento entre os possíveis concorrentes. A IA generativa pode, usando dados anteriores, criar conteúdo totalmente novo, como texto, imagens e código de software.

O OpenAI, financiado por milhares de milhões de dólares da Microsoft e agora integrado à pesquisa do motor de pesquisa Bing, tornou-se para muitos a versão padrão da IA generativa, ajudando os utilizadores a criar trabalhos finais de curso, contratos, itinerários de viagem e até romances inteiros.

“A IA pode fornecer informações”, disse Edward, “mas o que as pessoas querem no final das contas é ter acesso a informações de pessoas e organizações reais, sabendo, por exemplo, que essas informações de saúde vêm da Organização Mundial da Saúde”.

Sobre a forma como esta tecnologia pode ser um veículo de divulgação de informações incorrectas, a vice-presidente Cathy Edwards disse que a empresa dá prioridade à precisão e cita fontes confiáveis. O Google também vai marcar as imagens geradas com IA e tornará mais fácil para as pessoas verificarem a autenticidade de uma imagem. "A visão do Google é um forte argumento de que a busca está a evoluir e não a dissolver, e que o Google veio para ficar", comentou Kingsley Crane, analista da Canaccord Genuity.

Durante anos o Google foi o principal portal para a Internet e solidificou desde cedo a sua posição dominante no mercado. A fatia da Google no gigantesco bolo de publicidade online é avaliado pela empresa de pesquisa MAGNA em 286 mil milhões de dólares (260 mil milhões de euros) este ano. As acções da Alphabet (empresa mãe da Google) subiram 4% nesta quarta-feira. Este ano já subiram 26%, em comparação com o aumento de 8% no índice S&P 500 no mesmo período.

Que roupa usar

Com a inteligência artificial incorporada no sistema, o Google ainda se parece e age como a velha conhecida barra de pesquisa vazia. Mas enquanto uma busca por "tempo em São Francisco", como de costume, direcciona o utilizador para uma previsão de oito dias, uma consulta que pergunte que roupa vestir nesta cidade da Califórnia vai gerar uma resposta complexa, de acordo com uma demonstração para a Reuters no início desta semana.

Um desafio de usar essa IA com grandes modelos de linguagem é o custo financeiro elevado. "Nós e outros estamos a trabalhar numa variedade de soluções para reduzir o custo ao longo do tempo", disse Edwards. Os anúncios continuarão a ser a chave, frisou. "Só recebemos quando há um clique."

Bard em 180 países

Michael Ashley Schulman, director de investimentos da Running Point Capital Advisors, disse à Reuters que "a empresa está a demonstrar disposição e capacidade de se reinventar e inovar, o que acredito que será recebido favoravelmente pelos investidores". Nos últimos anos, os rivais usaram as descobertas de pesquisa da Google e aplicaram-nas nos respectivos produtos, ultrapassando o inventor.

O ChatGPT surgiu após um sistema de IA revelado pela Google em 2017. A velocidade com que o chatbot cresceu — mais depressa do que qualquer aplicação de consumo na história — encorajou a Google a estimular a equipa a apressar os projectos. Em Fevereiro, a Google anunciou o chatbot Bard. Um vídeo publicado na altura mostrava o sistema Bard a responder incorrectamente a uma pergunta e impulsionou uma queda nas acções, reduzindo em 100 mil milhões de dólares (91 mil milhões de euros) o valor de mercado da Google.

Agora, o Bard terá características idênticas ao GPT-4 da OpenAI, disse a empresa nesta quarta-feira, e tornará o chatbot acessível a pessoas em mais de 180 países e territórios. Isso significa que os clientes poderão solicitar ao Bard imagens, não apenas texto. Por detrás do Bard está um modelo de IA mais poderoso chamado PaLM 2, que é capaz de resolver problemas difíceis. Mas um dos modelos [de linguagem generativa] PaLM 2 é leve o suficiente para funcionar em smartphones, explicou o CEO da Google.

Ainda sobre os anúncios da conferência I/O, o CEO da Google Cloud, Thomas Kurian, disse à Reuters que a empresa está a estabelecer contactos com clientes para testar a nova tecnologia, entre eles o Deutsche Bank AG e a Uber Technologies Inc.

Além dos avanços relacionados com a integração da IA nos produtos Google, a empresa lançou novos dispositivos: um novo smartphone Pixel dobrável (Pixel Fold) que custará 1799 dólares (1637 euros) e será vendido com um Pixel Watch gratuito; o Pixel 7a (a versão “económica” do Pixel 7) e o Pixel Tablet.

As encomendas estão disponíveis a partir de hoje em vários países. Os smartphones da Google não são vendidos no mercado português.


Jornalistas: Jeffrey Dastin e Greg Bensinger
Tradução e adaptação: Pedro Esteves

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