Há homens que recusam ser vegetarianos porque comer carne os faz sentir “másculos”

Um estudo da Universidade Nacional da Austrália sugere que os homens que se acham “mais masculinos” resistem a tornar-se vegetarianos porque comer carne é uma forma de afirmarem a sua masculinidade.

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Os homens têm menos tendência a deixar de comer carne porque este alimento os faz sentir mais masculinos? Alguns sim, aponta um estudo da Universidade Nacional da Austrália, publicado em Março na revista científica Sex Roles.

Os investigadores recolheram as respostas de 4897 inquiridos na Austrália, um país conhecido pelo elevado consumo de carne, e perceberam que muitos dos homens que se consideram "muito masculinos", a maioria, parecem resistir à ideia de comer menos proteína animal (ou até de se tornarem vegetarianos e vegan).

Na verdade, também as mulheres “mais tipicamente femininas”, como descrevem os investigadores, olham para a carne como um alimento mais natural, necessário e até "agradável" – visão partilhada pelos homens que se consideram “mais masculinos”. Esta autoconcepção foi medida através de uma pergunta em que os participantes tinham de indicar, de 0 a 100, quão masculinos ou femininos se sentiam.

Estas conclusões reforçam a possibilidade de mulheres e homens, os dois géneros identificados no inquérito, serem semelhantes no que pensam em relação ao consumo de carne, embora no caso dos homens esteja mais vincada a ideia de que este alimento representa masculinidade. Ou seja, muitos homens acham que comer carne os faz mais masculinos e, também por isso, apontam os investigadores australianos, comem mais carne do que as mulheres.

Assim, ser “mais masculino” é, para a maioria dos inquiridos, incompatível com a possibilidade de adoptar uma dieta vegan ou com menos carne, porque acreditam que a alimentação à base de carne é a “normal”.

Realidade na Austrália — e no mundo?

Este estudo espelha a realidade da Austrália, embora outros estudos semelhantes já tenham sido feitos nos Estados Unidos da América (EUA) e também em Portugal, ainda que sem resultados conclusivos.

A amostra australiana contou com quase cinco mil participantes com uma dieta que inclui carne – e isto engloba flexitarianos (pessoas que optam por um vegetarianismo flexível, com espaço para comer proteína animal de vez em quando) e omnívoros.

Os participantes responderam a um inquérito online com a duração de aproximadamente 20 minutos. Para garantir a imparcialidade das respostas, o inquérito focava-se aparentemente nos hábitos e percepções sobre as alterações climáticas, com perguntas ligadas aos comportamentos ambientais, "ecoemoções", políticas de apoio ao clima, entre outras.

Um dos tópicos focou-se no consumo de carne no último ano (se houve uma redução ou até corte do consumo) e na possibilidade de os participantes se tornarem vegetarianos ou vegan no futuro.

Os investigadores sugerem que as campanhas de apelo à redução de carne podem considerar as diferentes representações de género e a forma como as dietas estão também associadas aos papéis de género, apontam, nas conclusões do estudo.

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