Bactérias resistentes a antibióticos encontradas nas nuvens

As bactérias são transportadas pelo vento para a atmosfera e chegam mesmo a atravessar o planeta a grande altitude graças às nuvens.

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As nuvens podem transportar bactérias por todo o globo Adriano Miranda

Bactérias resistentes aos antibióticos foram encontradas nas nuvens, transportadas pelo vento, por vezes a longas distâncias, revela um estudo franco-canadiano.

“Estas bactérias vivem normalmente nas folhas ou no solo”, explica Florent Rossi, autor principal do estudo, numa entrevista via telefone à agência de notícias AFP. Descobrimos que eram transportadas pelo vento para a atmosfera e que podiam percorrer longas distâncias, chegando mesmo a atravessar o globo a grande altitude graças às nuvens, acrescenta.

Para chegar a estas conclusões, investigadores da Universidade Laval (na Cidade do Quebeque, no Canadá) e da Universidade de Clermont Auvergne (em França) utilizaram aspiradores de elevada potência para recolher, entre Setembro de 2019 e Outubro de 2021, amostras de nuvens que se formam sobre o Puy de Dôme, um vulcão adormecido no centro de França.

A partir da estação de investigação atmosférica, situada a 1465 metros de altitude, os cientistas analisaram as amostras, à procura de genes resistentes a antibióticos.

O resultado foi que as nuvens continham entre 330 e mais de 30.000 bactérias por mililitro de água, com uma média de cerca de 8000 bactérias por mililitro. Foram também identificados nas bactérias 29 subtipos de genes resistentes a antibióticos.

Com a utilização generalizada de antibióticos não apenas nos cuidados de saúde, mas também na agricultura, este tipo de estirpe representa um grande problema global de saúde, refere o estudo, publicado na revista Science of The Total Environment. Repetidamente, as autoridades sanitárias mundiais, como a Organização Mundial da saúde, têm sublinhado os riscos associados a estas bactérias, que estão a tornar cada vez mais complexo o tratamento de certas infecções.

E os efeitos na saúde?

O estudo não apresenta, no entanto, conclusões sobre os potenciais efeitos para a saúde da propagação na atmosfera de bactérias portadoras de genes de resistência aos antibióticos, estimando que apenas 5% a 50% destes organismos poderão estar vivos e potencialmente activos.

A atmosfera é um grande desafio para as bactérias e a maioria das que encontrámos eram bactérias ambientais, menos susceptíveis de serem prejudiciais para os seres humanos, acentua Florent Rossi. O investigador diz não existir a necessidade de “nos preocuparmos em andar à chuva”, realçando que “não sabemos se estes genes podem ser transmitidos a outras bactérias”.

Uma monitorização atmosférica aprofundada poderia permitir localizar a origem destas bactérias e, assim, limitar a sua dispersão, sugere ainda o investigador, dando como exemplo as análises de águas residuais destinadas a detectar a presença da covid-19 e de outros agentes patogénicos.

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