Síria reintegrada na Liga Árabe 12 anos depois

Ministros dos Negócios Estrangeiros das nações árabes dão mais um passo para a normalização do regime de Assad. Alguns membros exigem uma solução política rápida para a guerra civil.

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Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da Liga Árabe reuniram-se no Cairo EPA/KHALED ELFIQI
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Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos Estados-membros da Liga Árabe aprovaram este domingo uma resolução para reintegrar a Síria na organização, 12 anos depois da sua suspensão, decretada no âmbito da repressão dos protestos que estiveram na origem da guerra civil, ainda em curso, levada a cabo pelas forças de Bashar al-Assad, em 2011.

A decisão foi anunciada por um porta-voz do secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, após uma reunião à porta fechada realizada no Cairo, capital do Egipto, e é mais um passo no caminho de regresso à normalidade diplomática que está a ser trilhado pelo regime de Assad, depois de quase uma década como um verdadeiro pária.

Mais tarde, em declarações aos jornalistas, citado pela Reuters, Ahmed Aboul Gheit disse que, “se ele quiser”, Assad pode participar pessoalmente na próxima cimeira da organização, agendada para o final do mês, na Arábia Saudita, “uma vez que a Síria é, a partir desta noite, um membro de pleno direito da Liga Árabe e, a partir de amanhã de manhã, terá todo o direito a ocupar o seu lugar”.

A readmissão da Síria não foi, no entanto, totalmente consensual entre os mais de 20 Estados-membros da Liga, devido à resistência, ainda que por motivos diferentes, de países como a Arábia Saudita, o Qatar e a Jordânia.

Do ponto de vista de Riade, a visita recente de Ebrahim Raisi, Presidente do Irão – o principal adversário regional dos sauditas – a Damasco foi um dos motivos que levou o Governo a concluir que, apesar da sua reaproximação histórica a Teerão, não podia ficar à espera e tinha de restabelecer os canais de comunicação multilateral com Assad.

Já os qataris e os jordanos, que defendiam que a reintegração da Síria na Liga Árabe só poderia acontecer depois de encontrada uma solução política para o fim da guerra civil, acabaram por ceder depois de aceitarem uma proposta para a criação de um grupo de contacto, de nível ministerial, que terá como missão negociar essa solução com o regime sírio.

Segundo a Liga Árabe, citada pela Al-Jazeera, o grupo será liderado pela Jordânia e contará com representantes da Arábia Saudita, do Iraque, do Egipto, do Líbano e da própria organização.

Consciente dos anticorpos que tem na Liga Árabe, o Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio emitiu um comunicado a reagir à decisão deste domingo apelando aos Estados-membros da organização para levarem a cabo uma “abordagem baseada no respeito mútuo” entre todos.

Com várias fases e diferentes envolvimentos de actores regionais, a guerra civil na Síria tirou a vida a cerca de meio milhão de pessoas e provocou mais de 20 milhões de deslocados ou refugiados.

Bashar al-Assad contou com o apoio militar e económico da Rússia e do Irão para reconquistar grande parte do território perdido para os diferentes grupos rebeldes e, actualmente, controla as regiões ocidental, central e o Sudoeste da Síria.

Parte do Noroeste do país é controlada por grupos fundamentalistas islâmicos, ao passo que o Nordeste está nas mãos das milícias curdas que, com o apoio dos EUA e de outros países ocidentais, expulsaram o Daesh daquela região – estando agora a ser atacadas pela Turquia, junto à fronteira entre os dois países.

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