Ucrânia acusa Rússia de usar bombas de fósforo branco em Bakhmut

Substância pode provocar lesões muito graves, mas não é proibida. A Rússia já tinha sido acusada de usar estas armas em Mariupol. A Ucrânia duvida da retirada do grupo Wagner.

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Exército ucraniano não acredita na retirada do grupo Wagner de Bakhmut Reuters/STRINGER
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As Forças Armadas ucranianas divulgaram imagens que dizem mostrar Bakhmut a ser atacada com bombas de fósforo branco, uma substância altamente tóxica que provoca ferimentos graves e cujo uso contra civis pode constituir um crime de guerra.

Um vídeo tornado público pela unidade de operações especiais da Ucrânia, que terá sido captado por um drone, mostra um conjunto de edifícios a ser atingido por algo semelhante a uma chuva de fogo, enquanto se vêem explosões brilhantes e zonas aparentemente a arder. “Bakhmut agora. O inimigo continua a destruir a cidade e nós continuamos a defendê-la!”, diz a legenda.

Há outros vídeos a circular nas redes sociais que mostram a mesma chuva e incêndios. Não há informações precisas sobre quando aconteceu este ataque e a alegação de que se trata de fósforo branco, feita pelo Ministério da Defesa da Ucrânia num tweet, não pode ser verificada de forma independente neste momento.

A BBC diz ter concluído, a partir de uma análise ao vídeo das Forças Armadas, que as imagens são de Bakhmut e que está a ser usada uma arma incendiária, mas não consegue confirmar o uso de fósforo branco.

“Não têm munições suficientes, mas têm fósforo mais do que suficiente”, lê-se no tweet do Ministério da Defesa ucraniano, que faz referência às queixas de Ievgueni Prigojin, comandante do grupo paramilitar Wagner, sobre a alegada escassez de munições que afecta a sua tropa.

Por causa disso, Prigojin anunciou na sexta-feira que os soldados desta milícia vão retirar-se de Bakhmut na próxima quarta-feira, mas ainda é preciso esperar para ver se tal acontece, pois já não é a primeira vez que o empresário faz anúncios que mais tarde diz terem sido apenas piadas.

A Ucrânia não acredita na retirada e diz até que, pelo contrário, está a haver um reforço de meios. “Estamos a vê-los retirar-se de toda a linha ofensiva em que os combatentes Wagner tinham presença e a vir na direcção de Bakhmut”, afirmou a vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, citada pelas agências de notícias.

Também a tese de que faltam munições não colhe entre responsáveis militares ucranianos, segundo os quais houve 520 disparos de artilharia na cidade e arredores só na sexta-feira.

Lesões graves

A Ucrânia já antes acusou a Rússia de usar fósforo branco no seu território, nomeadamente em Mariupol, durante aquela que foi, antes de Bakhmut, uma das batalhas mais prolongadas e mortíferas desta guerra. A Rússia nega que o tenha feito e, uma vez que a cidade se mantém sob controlo russo, as organizações de direitos humanos independentes não conseguem aceder-lhe para investigar.

As bombas de fósforo branco, que a Human Rights Watch diz terem sido usadas na Síria, no Iraque, no Afeganistão e em Gaza, não são consideradas uma arma incendiária ao abrigo de uma convenção das Nações Unidas que regula o uso de certas armas convencionais. Mas têm efeitos semelhantes, provocando incêndios e efeitos dramáticos nas pessoas atingidas: dores agudas, problemas respiratórios, infecções e danos que podem ser fatais em órgãos como os rins, o fígado e o coração.

Neste momento, vários meses passados desde que a Rússia intensificou os seus esforços para conquistar Bakhmut, são poucos os civis que ainda permanecem na cidade, pois a grande maioria fugiu. Não há estimativas sobre o número de soldados actualmente envolvidos nos combates, mas sabe-se que é elevado de ambos os lados – tal como o das baixas.

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