Diana, “rainha do povo”

Entre festejos e protestos, houve quem tivesse saído à rua para declarar uma espécie de “Not my queen” (“não é a minha rainha”). Só não se tratava de nenhum manifesto antimonárquico.

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Diana morreu a 31 de Agosto de 1997 Reuters/POOL
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Dezenas de milhares de pessoas (o número era apontado pela Reuters a meio da tarde deste sábado) amontoaram-se nas ruas londrinas para saudar o coroado rei Carlos III e a rainha Camila. Menos compareceram para se manifestarem contra a monarquia – “Not my king” (“não é o meu rei”), lia-se em vários cartazes –, ainda que cedo a polícia tenha mostrado estar preparada para reprimir rapidamente os protestos (o líder do grupo antimonárquico Republic e outros cinco manifestantes foram detidos antes do início da cerimónia de coroação).

No meio de uma panóplia de objectos a contestarem e a celebrarem os recém-coroados monarcas, entre cartazes pró-democracia, chapéus festivos, bandeiras da Union Jack, fotografias do rei Carlos e da rainha Camila, houve quem tivesse saído à rua para declarar uma espécie de “Not my queen” (“não é a minha rainha”). Só não se tratava de nenhum manifesto antimonárquico.

Diana, primeira mulher de Carlos, que entrou nas vidas dos britânicos (e de milhões de pessoas de todo o mundo) como uma jovem educadora de infância tímida, de cabelos loiros curtos e olhos azuis tristes, roubou, logo no primeiro instante, o afecto que muitos nutriam pelos mais importantes membros da família real. Foi a ideia – falsa (o pai era conde e a mãe era filha de um barão) – de que era plebeia; a forma como Carlos a tratava, lida pelo público como distante; a maneira como se transformou numa mãe carinhosa.

Depois, os trabalhos humanitários, tendo a princesa de Gales assumido um papel de relevo na consciencialização para a sida e para deitar por terra os preconceitos associados à doença, e o activismo em prol da ilegalização das minas terrestres. E, enquanto chegava aos noticiários internacionais pelas suas causas, a sua elegância conquistava capas de revistas em todo o mundo e encantava quem com ela se cruzava, fosse actor, designer, político ou uma criança deitada numa cama de hospital.

Por tudo isso, a princesa de Gales (título tão associado a Diana que se manteve vazio até William ter ocupado o lugar do pai como o herdeiro) foi criando um culto à sua volta. E nem as traições assumidas lhe causaram dano à imagem. Era Carlos que era o adúltero, e Camila, a “Rotweiller” – que, “quando trinca alguém, nunca mais larga” (a afirmação é atribuída a Diana pela sua amiga Simone Simmons) –, culpada pelo fim do casamento que, em 1981, deixou milhões com os olhos postos no pequeno ecrã. A adoração que lhe era dedicada contrastava com alguma desconsideração manifestada pelo príncipe: em eventos públicos, a multidão apenas queria saber dela, cumprimentando Carlos apenas por cordialidade.

Diana morreu. Demasiado nova: tinha 36 anos. Já não fazia parte da família real, mas os milhões que choraram a sua morte obrigaram, na época, Isabel II a se render: não tendo sido um funeral de Estado, foi organizado praticamente como se fosse. E, à parte do título de princesa de Gales, que manteve com o divórcio, foi no dia da sua morte que conquistou a maior honra, quando o então primeiro-ministro Tony Blair lamentou a morte da “princesa do povo”.

E, neste sábado, a sua memória voltou para causar sombra a Carlos (e, claro, a Camila), estando o nome de Diana entre as tendências nas redes sociais, onde os maiores saudosistas encontraram um palco para carpirem a saudade pela sua “rainha do povo”.

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