Açúcar leva índice de preços alimentares da FAO a voltar a subir

Após um ano de quedas mensais, índice que mede os preços das matérias agrícolas alimentares da organização da ONU voltou a subir em Abril. Indicador está 19,7% abaixo do registado 12 meses antes.

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O arroz foi o único cereal que viu o preço subir nos mercados internacionais em Abril EPA/HOTLI SIMANJUNTAK
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Depois de 12 meses de recuo em cadeia, comparando cada mês com o mês imediatamente anterior, o índice alimentar da Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO na sigla inglesa) voltou a aumentar em Abril.

Os 127,2 pontos registados no quarto mês deste ano representam uma subida de 0,6% face ao mês anterior, impulsionados pelo preço do açúcar e da carne. É uma subida, ainda que ligeira, que inverte a tendência dos 12 meses anteriores. Desde que, em Abril de 2022, no segundo mês da guerra da Ucrânia, atingira os 158,4 pontos e o valor mais elevado da sua história de 33 anos, o índice tem vindo a recuar em cadeia.

Em Abril passado, contudo, cereais, óleos vegetais e lacticínios mantiveram a tendência de queda. E, em consequência, voltou a verificar-se uma descida em termos homólogos, ainda que mais suave. Se, em Março passado, o indicador – porque se compara com uma base já inflacionada há um ano pela guerra na Ucrânia, iniciada a 24 de Fevereiro – tinha recuado 20,5% face a Março de 2022, em Abril último essa diminuição passou para 19,7%.

Sem guerra, comparando Abril de 2023 com Abril de 2021, o índice de preços alimentares da FAO ainda está 5,2% mais elevado agora.

Açúcar e carne contrariam cereais e óleos

O índice alimentar da FAO resulta numa média de cinco índices de preços de bens alimentares (carne, lacticínios, cereais, óleos vegetais e açúcar) ponderados pela média das quotas de exportação mundial de cada um dos grupos no período de 2014-2016. E foi o açúcar que, desta vez, mais impulsionou a subida mensal.

A FAO já tinha alertado em Março que este subíndice do indicador agregado estava a subir há dois meses e tinha atingido o valor mais elevado desde Outubro de 2016. Em Abril, o subíndice subiu mais 17,6%, e está agora no patamar mais elevado desde Outubro de 2011. A justificação prende-se com perspectivas mais pessimistas de produção na Índia, China, Tailândia e União Europeia, assim como com um atraso na colheita de cana-sacarina no Brasil.

Também a carne viu o respectivo subíndice avançar em Abril (1,3% face a Março anterior), com a procura asiática a influenciar o preço da carne de porco e de aves e a redução da oferta dos EUA a empurrar a subida de preço da carne bovina.

De resto, com uma só excepção, houve uma redução nos preços. No caso dos cereais, as quedas foram de 1,7% face a Março deste ano e de 19,8% face ao verificado em Abril do ano passado. Nos óleos vegetais, a queda mensal foi de 1,3% em cadeia (e pela quinta vez seguida) e ficou 45% abaixo de registado 12 meses antes. E, nos lacticínios, as quedas foram de 1,7% face ao mês antecedente e de 15,1% face ao quarto mês do ano passado.

A única excepção nestes três subíndices veio dos cereais, com o encarecimento do preço internacional do arroz a preocupar a agência para a alimentação e agricultura das Nações Unidas. “O aumento do preço do arroz é extremamente preocupante”, afirmou o economista-chefe da FAO, Maximo Torero, citado no comunicado emitido esta sexta-feira. E relembrou que, para a manutenção da tendência de queda nos restantes cereais, “é essencial que a Iniciativa do Mar Negro [entre Ucrânia, Rússia e Turquia para a exportação de cereais ucranianos] seja renovada para evitar outros aumentos do preço do trigo e do milho” no comércio internacional. O acordo entre os três países, sob a égide da ONU, foi atingido em Julho, renovado em Novembro e Março, mas são constantes as ameaças da Rússia de quebrar o protocolo.

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